Hoje no Público on-line, o artigo: “La Strada” salta do cinema para o teatro”, refere que “La Strada”, um dos mais célebres filmes de Fellini, foi adaptado para o teatro pela companhia Royal Teatro Livre, de Lisboa.
Em português o filme “La Strada”, 1954, de Fellini é traduzido como “A Estrada”.
Falar em estrada no período pós-Guerra, nos anos de 1950, lembra, inevitavelmente, este magnífico filme de Fellini, mas não só, pois à memória vem também as fotografias dessas rectas sem fim, intermináveis, das estradas americanas.
Arthur Rothstein, Highway US 30, Wyoming, Março, 1940
Robert Frank, do livro The Amerians, US 285, New Mexico, 1955
É neste período, nos anos de 1950, que na América se inicia o culto da estrada e do automóvel. A Rua Direita da América, a mítica Route 66, aberta em 1926 e que atravessa todo o continente de Chicago a Santa Mónica, era percorrida por automóveis guiados por gente que se fazia à estrada à procura de uma vida melhor.
Howard Sochurek, Revista LIFE, Dezembro, 1952
Na América, atravessar a imensidão do continente só de automóvel.
Robert Frank, do livro The Americans, US 91, leaving Blackfoot, Idaho, 1955
Na Europa, a Itália, mais pequena e doméstica, pedalava ainda a bicicleta. Em 1948, “Ladrão de Bicicletas”, de Vittorio De Sica, destaca a importância deste meio de locomoção, sem bicicleta não há emprego.
Vittorio De Sica, do filme "Ladrão de Bicicletas", 1948
Os fotógrafos seguem na mesma linha, e a bicicleta está sempre presente.
Quem não conhece a bicicleta da família Lusetti que ilustra a capa do livro “Paese”,
Quem não conhece a bicicleta da família Lusetti que ilustra a capa do livro “Paese”,
que o estrangeiro Paul Strand fotografou à porta de casa? E da bicicleta encostada à parede junto do nome da aldeia que Strand fotografou?
Paul Strand, do livro Paese, 1955
O livro, 1955, que já aqui vimos, retrata, como nos filmes, a pobreza de uma Itália que saia da Guerra.
Mas se Strand era estrangeiro, o seu olhar não se distingue dos nativos, dos fotógrafos italianos, que fotografaram, no campo e na cidade, a bicicleta, como fazendo parte da vida dessas pessoas.
Mas se Strand era estrangeiro, o seu olhar não se distingue dos nativos, dos fotógrafos italianos, que fotografaram, no campo e na cidade, a bicicleta, como fazendo parte da vida dessas pessoas.
Pietro Donzelli, da série Delta del Po, 1954
Pietro Donzelli, da série Delta del Po, 1954
Federico Patellani, Strada Macomer-Sassari, 1950
Pietro Donzelli, da série Delta del Po, 1953
E nesta sequência, o filho ainda com a pasta da escola na mão que corre ao encontro do pai para o beijar, não parecem stills retirados de um filme de De Sica, Rosselini?
Federico Patellani, Carbonia, Sardegna, 1950Federico Patellani, Carbonia, Sardegna, 1950
E agora entramos nas cidades:
Gianni Della Valle - Giorno di pioggia, c.1954
Stefano Robino, II ciclista, 1954
Por vezes as bicicletas servem também de bengaleiros.
Alberto Galducci, s.título, c.1955
Mario Finocchiaro, gent de Milan, c.1958
E se agora não olharmos para onde todos olham vemos a roda traseira de uma biclicleta.
Mario de Biasi, Moira Orfei, Milano, 1956
E nesta próxima fotografia, influência de André Kertész, Cartier-Bresson...sem dúvida, a revista italiana Epoca, mostrava ensaios de Robert Capa, Eugene Smith, Cartier-Bresson...a célebre exposição "The Family of Man", 1955, passara por Itália, o livro The Americans de Robert Frank era publicado em 1959 em italiano, William Klein editava Roma, e muitos fotógrafos, Capa, Werner Bischof, Herbert List, René Burri, Bruce Davidson, fotografaram em Itália nesses anos.
Stanislao Farri, Curiosità, 1954
Mas nas próximas fotografias, a distância do neo-realismo cinematográfico...
Vittorio Ronconi, Aprite...amici, 1955
a vista de passáro e o experimentalismo, os jogos de sombras e os desenhos da calçada, estão mais próximos de Moholy-Nagy.
Carlo Caligaris, Sprint, 1964
O Neo-realismo nascia em Itália com Rossellini, Vittorio De Sica, Federico Fellini. Queriam revelar ao mundo tudo aquilo que o seu país tinha vivido, uma necessidade moral e espiritual de fazer justiça à vida e ao que os italianos passaram com a guerra. Mas a Itália recupera, e na década seguinte, a indústria automóvel, será reconhecida internacionalmente, como fora o cinema.
Federico Patellani, Oristano, 1960
A beleza do design, não deixa ninguém indiferente, e o culto do automóvel chegava à Itália, e a vida acelera.
Federico Fellini, do filme La Dolce Vita, 1960
Federico Patellani, Barbagia, 1950
Os fotógrafos italianos passaram desapercebidos, quem conhece Carlo Caligaris, Stefano Robino, Mario de Biasi, Federico Patellani, Pietro Donzelli…comparando, na mesma época, com Cartier-Bresson, Robert Frank, Edward Weston, William Klein, Paul Strand…O cinema abafou-a, e só em raras excepções, como a exposição que Otto Steinert organizou em 1951, e que também vimos aqui, saiu fora de fronteiras. Mas os fotógrafos italianos souberam inovar, e nada melhor que “La Strada”, o título que Gianni Ranati escolhe para esta fotografia, para revelar esta mesma inovação:
Os fotógrafos italianos passaram desapercebidos, quem conhece Carlo Caligaris, Stefano Robino, Mario de Biasi, Federico Patellani, Pietro Donzelli…comparando, na mesma época, com Cartier-Bresson, Robert Frank, Edward Weston, William Klein, Paul Strand…O cinema abafou-a, e só em raras excepções, como a exposição que Otto Steinert organizou em 1951, e que também vimos aqui, saiu fora de fronteiras. Mas os fotógrafos italianos souberam inovar, e nada melhor que “La Strada”, o título que Gianni Ranati escolhe para esta fotografia, para revelar esta mesma inovação:
Gianni Ranati, La Strada, c. 1960
P.S: A Christie's de Nova Iorque irá leiloar uma importante colecção de livros fotográficos no próximo dia 10 de Abril. O livro "Paese" de Strand faz parte do lote 87, a bicicleta, junto ao muro é a escolhida para ilustrar o livro. Em breve falarei deste grande leilão.
3 comentários:
Ola, estou a tentar escolher um tema para a minha tese e sendo leitora regular deste blog gostaria de ter a sua opinião. Estou indecisa entre dois temas, o primeiro seria sobre fotografias de cafés de Paris, baseado no livro de Ed van der Elsken "Love on the left bank", e o segundo sobre fotografias de sombras dos próprios fotógrafos. Como comecei há pouco tempo a entrar no mundo da fotografia, não sei qual deles seria mais pertinente. Parece-me que uma tese sobre os cafés de Paris não poderia escapar a uma vertente talvez demasiado social que artística comparado com o outro tema.
Agradeço desde já a sua resposta, acabando por dar os parabéns pela informação de grande qualidade que oferece.
Cumprimentos
Raquel
Raquel, é-me difícil responder à sua questão, visto ser muito subjectiva a minha opinião. Não sei se leu mas aqui neste blog pode encontrar sombras de fotógrafos no dia 4/11/07, Cafés de Paris no dia 17/12/07, Ed van der Elsken sobre o livro "Love on the left bank no dia 20/07/07.
Como vê, ambos os temas me interessam, talvez se ler os posts que referi, a possa ajudar na sua escolha. Contudo se quiser deixar o seu mail posso entrar em contacto consigo. Até breve
Claro :) raquel.monteiro@gmail.com. Obrigado pelas referências aos posts, vou lê-los agora.
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