sexta-feira, dezembro 29, 2006

Concurso World Press Photo 2007

Qualquer fotógrafo de qualquer nacionalidade pode concorrer ao World Press Photo 2007 até ao dia 11 de Janeiro de 2007. Para mais informações consultar a página da Fundação.
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quinta-feira, dezembro 28, 2006

Lisboa - As Escadinhas de S.Cristovão

Estudei fotografia no Arco, de 1981-1983.
Para lá chegar subia as escadinhas de S.Cristovão em Lisboa.
Aqui ficam algumas fotos dessa época....

















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domingo, dezembro 24, 2006

Natal em Lisboa, 1982

Madalena Lello, Lisboa 1982
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Simetrias Sublimes - Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Paris

Max Ernst refugiou-se na Califórnia quando o nazismo subiu ao poder. Numa viagem de carro a Nova Iorque, ao passar no deserto do Arizona ficou extasiado com a paisagem. Parou o carro, mal conseguia respirar, estava defronte de um dos seus quadros que pintara na Europa. Nunca tinha visto uma paisagem tão sublime como aquela, só na sua imaginação. Na Europa a paisagem “é doméstica, íntima”, como diz Jorge Calado, comissário da exposição, só o pico do Mont Blanc, nos Alpes, faltava escalar, como fez Auguste Rosalie Bisson em 1861.

Glacier des Bossons, Savoie, Alpes, Auguste Bisson, 1861

David Stephenson, nasceu nos Estados Unidos da América e é o acaso que o leva à Tasmânia, na Austrália, confundiu-a com a Tanzânia, em África. Tal como as figuras minúsculas de Bisson, que nos servem de escala para melhor percepcionarmos a grandeza das montanhas, o auto retrato de Stephenson nesta escalada arripiante ao “Lapis Lazuli” na Tasmânia, é também um ponto minúsculo na paisagem.

Ben Lomond, Tasmânia, 1986. (escalada "Lapis Lazuli"), David Stephenson



Mas ao contrário de Bisson, Stephenson para captar a montanha na sua grandiosidade precisa de 6 imagens.


“É na natureza, que o sublime se sente mais intensamente”, e as paisagens do Colorado e Novo México foram as que tiveram maior efeito em Stephenson, o mesmo efeito que tivera o Arizona em Max Ernst. Embora distante da sua pátria, nos desertos Australianos, Stephenson sente a mesma sensação de sublime.









Ernest Giles Road 1, Austrália Central, 2005, D.Stephenson

Ernest Giles Road 2, Austrália Central, 2005, D. Stephenson


Fruto também do acaso, uma violenta tempestade, levou-o uma vez em Roma a refugiar-se no Panteão. Ficou extasiado com o que viu, a àgua corria em cascata ao entrar pelo óculo da cúpula. Quando o sol apareceu, tudo ficou iluminado e a luz refractada pelas gotas de água criou um efeito assombroso.

Panteão (117-138 apr.J.-C), Roma, Itália, 1997, D. Stephenson


Sublime foi a experiência que Stephenson viveu. Foi a primeira cúpula que fotografou, “a seguir veio o projecto de outras cúpulas, abóbadas e zimbórios dos quatro cantos da Europa”,


Portugal não foi esquecido.

Basílica (iniciada em 1717), Mafra, Portugal, 2003, D.Stephenson

Mas o trabalho que vemos de Stephenson, é mais vasto. O enorme deserto australiano é também propício para de olhos postos no céu olharmos a abóboda celeste. Na sua série estrelas, Stephenson joga com o tempo e faz sobreposições. Não se limita a dirigir a máquina fotográfica para o céu e fotografar.


Estrelas 1996/Nº1004, David Stephenson

Stephenson, “reinventa o sublime nas suas fotografias”. Por seu lado, Jorge Calado, através da montagem e composição das fotografias no espaço da exposição, reinventa uma leitura que nos leva ao “sublime”.

Quis o acaso, quando me vinha embora da exposição, que Stephenson aparecesse, agradeci-lhe a magnífica exposição.


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quarta-feira, dezembro 20, 2006

Bound for Glory - America in Color 1939-1943

A fotografia a cores sempre seduziu, mesmo os mestres do preto e branco. Agora no século XXI somos seduzidos por essas fotografias que ficaram arquivadas e ignoradas do público.

The Photographer’s Gallery em Londres inaugurou no passado dia 8 a exposição, “Bound for Glory, America in Color 1939-1943” que ficará até 28 de Janeiro de 2007. Projecto da responsabilidade da Biblioteca do Congresso, estão em exposição as fotografias a cores dos fotógrafos que pertenceram à FSA (Farm Security Administration) e OWI (Office of War Information). Em 2004, foi editado o livro, pela Harry N. Abrams, Inc em colaboração com a Biblioteca do Congresso.

Passados um ou dois anos, não me recordo, da inauguração do Centro Georges Pompidou, foi onde vi pela primeira vez as fotografias da FSA. Na altura, não sabia o que era a FSA, nem tão pouco tinha visto alguma das fotografias.

Inaugurado em Janeiro de 1977, o Centro Pompidou era inovador. Projecto assente na pluridisciplinaridade da arte moderna e contemporânea, os arquitectos (Renzo Piano e Richard Rogers), associados ao engenheiro Peter Rice, idealizaram um edifício como um espaço poroso entre interior/exterior, porosa também era a arte da altura. Com acesso directo, como um prolongamento da rua em altura, através das escadas rolantes, chegava-se ao topo, onde nos aguardava uma vista panorâmica da cidade, hoje condicionado aos visitantes do museu. No interior, a porosidade entre os diversos pisos funcionava como uma espécie de laboratório de experiências. Conseguiamos ver, de qualquer ponto o que se passava nos outros espaços. Foi assim, que ao subir um lançe de escadas me apercebi, ao olhar para baixo, de uma exposição de fotografias. Que sorte, era a retrospectiva da FSA. Pela primeira vez via Walker Evans, Dorothea Lange, Russell Lee, Ben Shahn, Carl Mydans, John Vachon, Arthur Rothstein, Marion Post Wolcott, John Collier, ....

Eram as fotografias dos anos da seca e da depressão económica em que a América vivia tempos difíceis. O governo de Rossevelt, através do programa New Deal, tentava fazer face aos problemas do país. A FSA criada como objectivo político, pelo Departamento de Agricultura, pretendia convencer o Senado e os americanos, da urgência em por em prática medidas que visavam ajudar os agricultores. Como um mal nunca vem só, não bastou a sexta-feira negra que se viveu em Wall Street, veio também os anos de seca no Midwest. O grande celeiro da América, ficou reduzido a poeira. Agricultores deixavam as suas terras e migravam para outros estados, a Califórnia foi invadida.


Holtville, Califórnia, 1937, Dorothea Lange

A fotografia de Dorothea Lange, Migrant Mother é hoje o símbolo dessa migração.

Migrant Mother, Califórnia, 1936, Dorothea Lange


Em 1935, sob a orientação de Roy Stryker, estes fotógrafos, que trabalharam em tempos diferentes enquanto durou os oito anos do projecto, partiram pela América a fotografar a população rural. Hoje são mais de 160 000 fotografias que estão na Biblioteca do Congresso e acessível a todos.
Robert Frank, chamou de “humanity of the moment”. Hoje é um dos maiores documentos da nação, porque os fotógrafos não se limitaram a servir a propaganda política (no bom sentido). Se os esforços de Stryker na divulgação das fotografias para convencer o Senado em ajudar estes agricultores foi notável, com a recuperação económica as fotografias da FSA repousaram nos arquivos. Sempre a preto e branco, só começaram a ser divulgadas através de exposições e livros na década de 1970. A descoberta das cerca de 1 600 fotografias em Kodachrome arquivadas na Biblioteca do Congresso é recente.

A cor não distrai, como sempre se pensou da fotografia a cores: “If you can’t make it good make it red”, era o slogan do meio publicitário.

Pelo contrário, a cor em “Bound for Glory”, revela-nos uma mais valia em informação.

Se em época de crise, a variedade escasseia, o preto e o branco serviam na perfeição para a dissimular. Mesmo com legendas, viamos nas toranjas e laranjas a mesma fruta. As cores não nos distraem, acrescentam.

Lincoln, Nebraska, 1939-1943, John Vachon

Greensboro, Alabama, 1936, Walker Evans


A cor, funciona como as informações arqueológicas, são de uma riqueza inigualável.


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segunda-feira, dezembro 18, 2006

Robert Frank editado pela Steidl

A editora Steidl vai publicar a partir do próximo ano até 2010, toda a obra de Robert Frank. Programa concebido em colaboração com Frank, serão publicados livros inéditos, os livros já editados serão impressos com o design e formato original, e todos os seus filmes serão passados para DVD.



A obra de Frank é vasta, impossível de abordar num post. Olhemos então para “The Americans”, o livro que fugiu à regra e retratou a verdadeira América.



“Aquela sensação demente, quando nas estradas se sente o calor do sol e a música vem das jukebox ou de algum funeral próximo...” é o que Frank nos dá a ver nas suas fotografias da América, diz Jack Kerouac na introdução de “The Americans”.

Curiosamente é o olhar de um viajante estrangeiro que melhor capta a América dos anos 1950. Robert Frank emigra para os Estados Unidos da América em 1947, deixando a sua Suiça demasiado neutra. Nesses anos, Sal Paradise, o personagem de “On The Road” de Jack Kerouac, sem ideia do que procura, percorre as estradas americanas de costa a costa. Livro escrito de rajada, sem pontuações (na versão original), “On The Road” é o reflexo de uma geração, em que movimento e estrada são os ingredientes principais. Frank foi para a América pelos filmes que não se lembra dos nomes mas que viu. Como dirá anos mais tarde, “num filme americano, sonhas com o estar nos carros, andares pelas ruas...”. A América é grande, não se sufoca como na Suiça, e as extensas distâncias são reduzidas de carro. Durante um ano, de 1955 a 1956, com uma bolsa concedida pela Fundação Guggenheim, Frank percorre o país à procura de uma ideia e a ideia concretiza-se em “Les Américans” em 1958 (Robert Delpire). Esse livro perverso, antiamericano escreverá a crítica. A versão “The Americans” só sairá em 1959 (Grove Press Inc.) com a introdução escrita pelo seu amigo Kerouac.

A estrada de Frank, é a estrada dos beatniks.

U.S. 285, New Mexico, Robert Frank

As suas fotografias revelam a atmosfera de tudo o que Kerouac, Ginsberg e todos os outros que faziam parte da “beat generation” escreviam nos seus poemas cortantes:

“América, dei-te tudo e agora não sou nada,

América, dois dólares e vinte sete cêntimos, 17 de Janeiro de 1956,

Não aguento a minha própria mente.

América, quando é que terminamos a guerra humana?

Vai-te foder e mais a bomba atómica

Não me sinto bem, não me chateies,

Não escrevo o meu poema até me sentir bem,

América quando é que te tornas angélica?

Quando é que te libertas?

Quando é que olhas para ti pela campa,

Quando é que serás merecedora dos teus milhões de Trotkistas?

América, porque estão as tuas livrarias cheias de lágrimas?

América quando é que envias os teus ovos para a Índia?

Estou farto dos teus pedidos loucos,

Quando é que posso ir ao supermercado...

Comprar o que preciso com a minha boa aparência?”

Allen Ginsberg

Allen Ginsberg, 1959, Robert Frank



As fotografias de Frank reflectem como ele vê esta geração que procura desesperadamente um sentido para a vida. Lembremo-nos o que escreveu a crítica: livro preverso, antiamericano.

A seguir a “The Americans” Frank envereda pelo cinema, não se quer repetir, Frank nunca se repete. A editora Steidl está orgulhosa deste projecto. Aguardemos então a obra de Robert Frank.




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quarta-feira, dezembro 13, 2006

Leonard Freed, fotógrafo da Magnum

Morreu no passado dia 29 de Novembro, em Nova Iorque, Leonard Freed, fotógrafo que desde 1956 trabalhou para a agência Magnum, tornando-se membro efectivo em 1972.
Em 1955, Freed estuda com Alexey Brodovitch.
Viaja pela América na década de 1960 e em 1968 publica o seu primeiro livro "Black in White America". Aqui ficam algumas imagens do livro.




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sábado, dezembro 09, 2006

"La Photographie Humaniste" 1945-1968

Até ao dia 28 de Janeiro de 2007, na Biblioteca nacional de França, em Paris, pode-se ver a exposição "La photographie humaniste; Autour d?Izis, Boubat, Brassai, Doisneau, Ronis... Quem estiver por perto não deixe de lá ir.
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sexta-feira, dezembro 08, 2006

A fotografia "humanista". À volta de Izis, Boubat, Doisneau, Ronis....

Em França, terminada a 2ª guerra mundial, uma geração de fotógrafos, aos quais chamaram “humanistas”, fixaram nas suas fotografias os acontecimentos mais banais do dia a dia, o absurdo, o amor, as festas..., enfim o testemunho de um tempo. O simples deambular nas ruas era para eles o seu verdadeiro projecto fotográfico.

Ilse Bing, 1952, Deux écoliers à L'Odéon
Janine Niépce, 1957, Le chat de la Concierge

Depois da extensa experimentação abstracta e surrealista da década anterior, os fotógrafos regressavam ao real, a pintura também já passara pelo mesmo. No pós-guerra, a França debatia-se com grandes privações, tinha ficado sem reservas monetárias e um défice de milhões na balança de pagamentos. Recebia dos Estados Unidos crédito para a compra de carvão, alimentos e matérias-primas, mas essa ajuda não permitia mais do que a sua sobrevivência. Contudo, a boa disposição do povo, depois da libertação era visível, sobretudo nas festas populares, como a véspera do 14 de Julho. Grupo de jovens dançavam na rua, radiantes. Qualquer descrição literária não podia ser mais real do que esta fotografia de Willy Ronis,


Willy Ronis, Chez Maxe,Nogent, 1947

Mas com a economia de rastos a turbulência política não dáva tréguas e seguiram-se anos de greves constantes.

Willy Ronis, Distribution de bulletins de grève, Paris 1947

Os franceses só veriam melhores dias a partir de 1949, altura em que a execução do plano Marshall, foi suficiente para arrancar com a economia. Seguiram-se os anos de prosperidade económica e do “baby boom” europeu. Com o crescimento da população a França debatia-se com uma grave crise habitacional. Os fotógrafos pressentem que grandes alterações urbanas estão iminentes. Tal como Atget, que fotografou o que em breve desapareceria na cidade de Paris, (Atget nunca fotografou a Torre Eiffel), os “humanistas” fotografaram a vida das pessoas nos seus bairros, antes de partirem para o inferno dos HLM (Habitation a Loyer Moderé), os novos edifícios que o Estado edificava para o alojamento em massa.








Jean Lattes, Scarcelles. Famille devant être enfin relogée dans une HLM, 1958


Jean-Phillippe Charbonnier, Le scandale des mal-logés. La Courneuve, 1952

Os princípios modernos de arquitectura, definidos na Carta de Atenas, em breve iriam ser erróneamente aplicados em França a uma escala inédita. Hoje sabemos as consequências.

No pós-guerra, os livros ilustrados com fotografias eram raros, e eram poucas as editoras que se lançavam nessa aventura. Felizmente houve excepções.A Guilde du Livre de Lausanne foi um fenómeno impressionante pelo seu sucesso comercial. Em 1949, a Guilde edita o seu primeiro livro de fotografias, “La Banlieue de Paris” com fotografias de Robert Doisneau acompanhado de um texto de Blaise Cendrars. O livro já tinha sido editado por Pierre Seghers, mas tinha sido um fracasso comercial. Não era o Paris turístico dos monumentos e bairros pitorescos. Doisneau fotografa as pessoas dos subúrbios, onde ele também sempre viveu. Numa referência à fotografia de Doisneau, Cendrars escreve o seguinte,

“regardez le visage des gens dans le métro d’Anthony ou de Sceaux. Qu’ils sont gentils et doux ces petits Français...”. (La Banlieue de Paris, Robert doisneau, 1949)


E continua, “...mais le génie moderne de Doisneau l’a poussé à suivre comme un voleur cet ouvrier à la descente du train.....pour surprendre cet ouvrier, chez lui, en train de planter son rosier avec amour”. (La Banlieue de Paris, Robert Doisneau, 1949)

No 1º trimestre de 1983, a revista “Les Cahiers de la Photographie”dedica a sua edição aos fotógrafos “humanistas”. Na mesma altura a Biblioteca de Paris apresentava uma exposição do Grupo dos XV, do qual faziam parte a maioria destes fotógrafos. Alain Fleig, é um dos críticos mais severos. Para ele, a visão do mundo dos “humanistas” é retrógada, olham para o passado e recusam o presente. Estes fotógrafos “poetas” de um mundo idealizado, e não real, não actuam sózinhos, o equivalente se passa no cinema e na literatura, continua Fleig. No cinema os filmes “Juliette” (1951) de Carné, “Le Fleuve” (1951) de Jean Renoir ...contrastam com o novo élan do néorealismo italiano, e na literatura Cendrars, Prevert, Mac Orlan... que escrevem os prefácios dos livros fotográficos, estão socialmente mortos. A realidade do momento não se exprime nestas obras. “L’enorme changement social qui s’opère alors, nul ne semble y participer: on regarde avec regrets les derniers fortifs disparaitre sous les HLM. On ne veut pas voir que les anciens mauvais garçons romantiques sont devenus des blousons noirs,...” escreve Fleig. Na actualidade a crítica aos “humanistas” continua, no seu site Paris-Art , André Rouillé, em Novembro no seu editorial semanal, escreve que já chega dessa fotografia nostálgica. Já ninguém aguenta Doisneau, Boubat, Izis, Ronis... e o Mois de la Photo deste ano está cheio desses fotógrafos, refere Rouillé. Para ele, esta visão nostálgica e idealizada do passado tem um sentido político, serve para obscurecer a realidade actual, o desemprego, os sem abrigo, todos os problemas sociais actuais.

Regressemos à sala de exposição do BnF.

Na altura os fotógrafos sobreviviam vendendo os seus trabalhos para as revistas, jornais, trabalhos publicitários (calendários, postais, cartazes...). Na Europa, a fotografia ainda não entrara nos museus e galerias, ninguém ainda imaginava comprar fotografia como se de uma obra de arte se tratasse. Os “media” tinham o poder, e exigiam fotografias que o público gostasse. Os casais de namorados ao longo do Sena eram o “cliché” que os soldados americanos levaram de regresso a casa.


Na exposição, uma dupla página da Life, de Junho de 1950, tem como sub-título: “ In Paris Young lovers kiss wherever they want to and nobody seems to care”.

A hoje célebre fotografia de Doisneau, “Le Baiser de l’Hôtel de ville” que foi encenada, o casal que se beija são figurantes, está no meio de tantas outras. Era mais uma. Anos mais tarde Doisneau disse numa entrevista, “não me sinto confortável a fotografar pares a beijarem-se, normalmente são amantes”. Hoje, o poder passou dos "media" para os coleccionadores.

A exposição acentua e bem esta característica comum dos fotógrafos “humanistas”, a de que todos trabalhavam quase exclusivamente para a imprensa, quer estrangeira, Life, Look,... quer para as revistas que surgiam na altura em França, Paris-Match, Point de Vu, Réalités, Messieurs...salvo os cartazes publicitários, tudo ainda era a preto e branco. Eram os últimos tempos áureos das revistas, pois a televisão vinha já a caminho As fotografias que hoje o público conhece, e que Rouillé já não aguenta, não estão expostas nas paredes como se fossem obras de arte, pelo contrário, mostram onde foram publicadas, a sua banalidade, no final jornais e revistas vão parar ao lixo. E com esta ideia de não querer elevar a arte todos estes documentos, o BnF mostra o que tem em espólio, os cartazes, calendários, agendas, capas de discos, com fotografias dos “humanistas”. Muitos dos fotógrafos expostos não são conhecidos, e muitas fotografias nunca entraram nos museus e galerias.

Em Novembro do ano passado, os subúrbios de Paris incendiaram-se, e o mundo através dos noticiários ouvia e via pela primeira vez locais como Clichy-sous-Bois, Seine-Saint- Denis, La Courneuve, Aulnay-sous-Bois....Na nossa televisão numerosos foram os debates e de repente toda a gente parecia conhecer esses subúrbios.

Por coincidência, a Cinemateca na sua programação sobre os grandes estúdios, passava nesse mesmo mês, Les filmes de la Pleiade. “L’amour existe” (1960) de Maurice Pialat, foi um deles. Filme documental, movimenta-se entre Paris e os subúrbios, mostrando os sinais de alienação pessoal e social da classe operária que para lá foi habitar. No início, antes da invasão do betão, Pialat filma as casas individuais com as suas pequenas hortas, tal como na fotografia de Doisneau onde vemos o operário a plantar a sua roseira. Os interiores, a cozinha onde se passava a maior parte do tempo, os nomes das casas “Moi et Lui”, para em seguida filmar as casernas do betão armado. Prédios despersonalizados, com janelas cada vez mais pequenas, em que no interior quase não vemos o exterior. Em simultâneo com as imagens ouvimos os comentários de Pialat na voz de Jean-Loup Reynold “ mas o que nos serve olhar para o exterior se nada há para olhar”. À noite, com os apartamentos iluminados, Pialat mistura os diversos sons provenientes de todas aquelas “máquinas de habitar”. Pialat ressalta a perca de individualidade do “Moi et Lui” para o mundo feroz e impiedoso da habitação colectiva.

Não deveriamos olhar para o “Moi et Lui” dos “humanistas”, desse mundo real que eles pressentiram terminar e tirar ilações?


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