No ano passado, em Novembro, realizou-se em Bamako, na capital do Mali, a sétima Bienal de fotografia africana. A cidade foi o tema escolhido e a Finlândia o país convidado. “Todos os dias os africanos tem nas suas mãos um pedaço da Finlândia: o seu telemóvel portátil Nokia” dizia numa entrevista um dos organizadores e acrescentava “a essência da Bienal é mostrar uma outra imagem de África, e sair de um certo estereótipo do sacro santo preto e branco de Seydou Keita ou Malick Sidibé”, e o nadador de Samuel Fosso, dos Camarões, ilustrava as revistas da especialidade.
Samuel Fusso, Le Maître nageur, série Tati, 1997
Em paralelo, a 52ª Bienal de Veneza premiava Malick Sidibé, do Mali, com o prémio Lion d’or, o primeiro artista africano a receber esta recompensa, e a fotografia “Combat dês amis avec pierres”, 1976, a escolhida para ilustrar as revistas de arte contemporânea.
O comissário americano, Robert Storr, abria pela primeira vez as portas da Bienal de Veneza ao continente africano. Considerando-se um autêntico “soixante-huitard”, Storr confrontou as várias gerações de artistas.
Malick Sidibé, considerado no seu país, Mali, um estereótipo do passado, era premiado em Veneza. Ironias…
E o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Passemos agora para a Europa, a Europa dos anos sessenta, onde uma geração crescia em segurança, e sonhava viajar para países exóticos. Ouviam música nos seus transístores portáteis e compravam os discos favoritos que ouviam nos programas de rádio. Os programas de rádio, emitidos nos grandes aparelhos que ocupavam um lugar de destaque nas salas de estar, deixou-se de ouvir em família, e a nova geração podia ouvir agora os programas que queria nas suas rádios portáteis. Se a “Swinging London” ditava as modas, os americanos não se deixaram ficar atrás: Em Maio de 63, no Marche aux Puces, vendia-se pela primeira vez as Levi’s genuínas, e a procura ultrapassou de longe a oferta. Jeans e mini saias, vestia agora a nova geração.
Os Europeus assistiam a um crescimento económico, medido por novos indicadores, o PIB, Produto Interno Bruto, e tinham agora acesso a uma gama de produtos que os consumidores americanos já estavam familiarizados: telefones, electrodomésticos, televisão, máquinas fotográficas, vestuário, transístores, gira-discos, carros…e o boom do consumismo passou a ser um modo de vida. Os adolescentes, “teenager” como lhes chamaram na América, existiam agora como um grupo distinto, que nunca tinha existido. Na geração anterior, era-se criança até sair da escola, e tornavam-se adultos quando começavam a trabalhar. Com a escolaridade prolongada e com dinheiro para gastar, as agências de publicidade não perderam a oportunidade para os aliciar. Apareceram revistas destinadas aos adolescentes e a publicidade cresceu na ordem dos 400% nesses anos sessenta. A economia, que até aí era baseada na agricultura, passava para uma economia de serviços, e a mulher entrava no mundo do trabalho, a dona de casa passava à história e o fosso entre as gerações acentuou-se. As cidades enchiam-se de jovens que abandonavam as terras para aí trabalhar e estudar, e as universidades ficaram a abarrotar.
Regressemos novamente a África, aos anos sessenta, que a nova geração de Bamako agora prefere esquecer e que julga que a globalização chegou com os telemóveis Nokia.
Em 1960, o Mali que fazia parte do Sudão Francês obtinha a independência. Malick Sidibé, nos finais da década de 50 começa a trabalhar em Bamako como assistente do fotógrafo francês Gérard Guillat, de alcunha “gégé la pellicule”. Será gégé influência de yé-yé?. Em 62 abre o seu estúdio, e dedica-se a fotografar as festas de uma geração que dança o twist ao som da música dos gira-discos portáteis,
Malick Sidibé, Twist, 1965
Malick Sidibé, 1962
Malick Sidibé, Chez Mlle Colette, 1964
que faz de disco jokey,
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
usa mini saia e jeans,
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
Malick Sidibé, yeye, 1963
anda de mota,
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
e se diverte como os ocidentais.
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
No dia seguinte, iam ao estúdio e escolhiam as fotografias que Sidibé numerava e colava em cartões e afixava nas paredes.
Em 2006, Jérôme Sother da Steidl, encontrou empilhados a um canto no estúdio de Sidibé, em Bamako, centenas destes cartões.
Em 2006, Jérôme Sother da Steidl, encontrou empilhados a um canto no estúdio de Sidibé, em Bamako, centenas destes cartões.
Malick Sidibé, do livro Chemises, 2007
“Chemises”, o livro editado no ano passado, selecciona os melhores. Para Sother estas fotografias constituem um documento único da sociedade de Bamako desses anos.
A geração de 60 transbordou da Europa e chegou a todo o mundo, e o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Charles de Gaulle, que um dia disse ser o guia dos franceses, julgou a nação satisfeita, os adolescentes dançavam, o desemprego baixava, a economia crescia, mas o que De Gaulle não viu, foi que esta geração farta de ser guiada estava prestes a revoltar-se,
A geração de 60 transbordou da Europa e chegou a todo o mundo, e o mundo mudou com a geração “soixante-huitard”.
Charles de Gaulle, que um dia disse ser o guia dos franceses, julgou a nação satisfeita, os adolescentes dançavam, o desemprego baixava, a economia crescia, mas o que De Gaulle não viu, foi que esta geração farta de ser guiada estava prestes a revoltar-se,
Christer Strömholm
e no próximo post, que já é Maio, vamos então para a rua.
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