terça-feira, abril 01, 2008

O Árctico, a nova Terra Nova

No século XX, o Homem julgou a terra um espaço finito, tudo tinha sido descoberto, e o Homem avançou para o espaço e pisou a Lua.

No século XXI, o Homem depara-se com uma nova realidade, uma nova região por explorar, o Oceano Árctico. O Árctico está a derreter, e está a derreter rapidamente.

Comandante António José Martins, Iceberg e o Sol, 1939

Neste último Verão, segundo um artigo “Arctic Meltdown” que a revista Foreign Affairs publica este mês, a área de gelo diminuiu mais de um milhão de metros quadrados, reduzindo o gelo do Pólo Norte para metade desde há 50 anos, é o efeito visível e dramático do aquecimento global. Se o Árctico é o barómetro pelo qual medimos a saúde da terra, então o nosso planeta está mesmo doente, escreve Scott G. Borgerson, no artigo da revista.

Geologicamente, o planeta terra era um supercontinente, Austrália, Índia, África e América do Sul formavam um só. Foi o movimento das placas tectónicas que deu origem à separação dos continentes, e os Oceanos passaram a separá-los. O Homem, antes de voar, aprendeu a navegar, e para ir do Atlântico ao Índico, contornava a África, e do Atlântico ao Pacífico contornava a ponta da América do Sul. O problema da mobilidade e transporte é uma necessidade antiga do Homem, e em 1914, o Canal do Panamá abria finalmente. O progresso em termos de espaço e tempo foi enorme, o Homem já não precisava de contornar a ponta da América do Sul.
Daqui a cinco anos, com o degelo do Árctico uma nova auto-estrada marítima poderá ligar os Oceanos, através da Northwest Passage. Se o Canal de Panamá reduzia a distância do Atlântico ao Pacífico, a nova passagem reduzirá o trajecto em 2, 000 milhas náuticas. Do Atlântico ao Índico, a redução ainda é maior, 4,700 milhas náuticas serão poupadas. O degelo do Árctico, significa que em breve esta região será como o mar Báltico, coberto só no Inverno por uma fina camada de gelo.

Nós portugueses descobrimos e navegamos por esses Oceanos, mas também a Terra Nova no Pólo Norte nos cativou para a pesca do bacalhau, o peixe que vive nas águas profundas e geladas dos mares do norte. A actividade da pesca do bacalhau remonta ao século XV. Nessa época frotas portuguesas, constituídas por navios de linha exploravam a Gronelândia e a Terra Nova. O comandante António José Martins, (1882- 1948), que fez a 1ª Guerra a bordo do “Vasco da Gama”, segue, em 1929/30 a bordo do “Gil Eanes”, hoje atracado em Viana do Castelo, nas primeiras viagens deste barco à Terra Nova. Nos anos de 37, 38 e 39, volta como Comandante a bordo do mesmo barco aos bancos da Terra Nova e Gronelândia.
Comandante António José Martins, 1939
Comandante António José Martins, 1939
Comandante António José Martins, 1939
Comandante António José Martins, 1939

Foi dos primeiros a fotografar, com infravermelhos o nevoeiro e os icebergs desses mares durante as safras do bacalhau, e as suas fotografias foram expostas, na Galeria Ether- Vale Tudo Menos Tirar Olhos, na década de 1980. Aqui ficam algumas imagens do catálogo desdobrável dessa exposição.

Hoje, nas profundezas da região, inacessíveis até agora, julga o Homem, encontrar uma nova jazida de energia, gás, petróleo e hidrocarbonetos, do bacalhau já não se fala.
Só em depósitos de petróleo calcula-se uma riqueza de 586 milhões de barris, mais de metade das reservas da actual Arábia Saudita.
Rússia, Canadá, Estados Unidos, China, Dinamarca, Noruega, já revelaram o interesse na região, uma nova corrida ao ouro rumará ao Árctico, neste nosso século XXI. Mas a regulamentação sobre a exploração da região é inexistente, porque o Homem nunca pensou que essas águas fossem um dia totalmente navegáveis.

O tríptico de Hrafnkell Sigurdsson, mostra-nos uma paisagem gelada e imaculada,

quando fechado transforma-se em lixeira, um alerta para o nosso planeta doente.
Hrafnkell Sigurdsson, Conversão Dois, 2006

2 comentários:

Dona Betã disse...

Obrigado, Madalena, pela visita.

E valeu! Fiquei a conhecer este seu espaço, este sim um espaço a sério. Um dia destes roubo-lhe daqui uma matéria. Mas aviso antes :)))

Se me permite, um beijo

fangueiro.antonio disse...

Boa tarde.

Excelente artigo este sobre a pesca do bacalhau neste seu blogue que sigo há bastante tempo.
Se me permite, uma "correcção" a este seu texto.
O comandante António José Martins terá embarcado no "Gil Eannes" mas não é o que está hoje em Viana do Castelo. Houve um anterior "Gil Eannes" e o de Viana foi inaugurado só em 1955.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt