quinta-feira, janeiro 31, 2008

Seiichi Furuya

Há um ano a Barbican Art Gallery apresentou a exposição “In the face of History: European Photographers in the 20th Century”. Como dizia o próprio sub-título da exposição, Kate Bush, a comissária, ensaiava uma das possíveis histórias da fotografia na Europa do último século. Começava com Atget terminava em Seiichi Furuya. Faz agora precisamente um ano que sobre essa mesma exposição escrevi : “as fotografias dela (Jitka Hanzlová’s), antecedem as últimas da exposição, de Seiichi Furuya, eu teria terminado com o trabalho Forest de Hanzlová (...) É reconfortante olharmos para Forest”e assim terminava o post. Se era reconfortante olharmos para Forest depois de passarmos por todo o desencanto do pós-guerra europeu, doloroso foi olhar para as fotografias expostas na última sala, o trabalho de Furuya, trabalho que me tocou profundamente e talvez o mais impressionante dos 22 fotógrafos representados. Hoje, passado um ano, admito que a omissão de explicar ao leitor tal escolha tenha sido involuntária, uma forma inconsciente de defesa, da emoção provocada.
Há dias veio-me parar às mãos o último livro de Furuya, "Aus den Fugen", 2007,
e na capa Christine Gössler em visita ao Japão, terra de Furuya. Casar-se-iam pouco depois e Furuya retrata Christine, a sua noiva em frente ao mar Nishi-Izu. Mesmo em presença da fotografia é difícil ao observador ver as duas marcas, uma no pulso outra no pescoço de Christine, marcas de um suicído falhado poucos dias antes de Furuya a ter fotografado.

Durante sete anos, os anos que duraram o casamento Furuya fotografou Christine, e como ele próprio diz “I feel obliged to keep photographing the woman who means capturing time and space”, depois o suicídio, desta vez, a janela do apartamento em Berlim era suficientemente alta para Christine conseguir escapar. Passados doze anos do suicídio, 1985, Furuya recua lentamente no tempo à procura daquela que amou, procurando no seu rosto a revelação do que estava tão bem escondido. E ao contrário de Roland Barthes, que sózinho no apartamento onde a sua mãe acabara de morrer contempla à luz do candeeiro as fotos da sua mãe, procurando o rosto que amara, e ao descobri-la, a foto do Jardim de Inverno, não a mostra ao leitor, Furuya sente a necessidade de partilhar.
Será um mau preságio o sorriso de Christine junto ao mar Nishi-Izu? Para o observador que desconheça a história de Christine, a fotografia que a capa do livro reproduz, talvez seja banal. Para Furuya, que a olha passados doze anos a singularidade de uma emoção. Será só dele? É ao olhar para o passado que Furuya vai reconhecendo as diversas fases da depressão de Christine, e foi ao olhar para as fotografias expostas, que a singularidade da emoção deixa de ser só dele e o espectador é invadido. Para Furuya “While I am organizing the document once again, I come across her every day”. Agora cada exposição e livros, que gosta de chamar Mémoires, um retrabalhar de fotografias diferentes. Fotografias recentes misturadas com as fotografias antigas, a beleza de "Aus den Fugen", a forma que encontrou de invocar a vida e afastar a morte.
Graz 2003
(...)
Graz 1979
Graz 1992
Wien 1984
(...)
Sarajevo 2003
Izu 1978
(...)
Graz 1979
(...)
New York 2000
East Berlin 1985
(...)
Tokyo 2000
Mexico City 2001
(...)
Izu 1978
Izu 1978
(...)
Aqaba 2001
Graz 1997
(...)
Graz 2005
Wien 1983
(...)
Graz 2000

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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Portugal no seu pior

Não gosto de escrever sobre imagens que não gosto e há um mês atrás quando Lisboa foi invadida por gigantescas imagens com a mensagem Portugal Europe’s West Coast, marketing promovido pelo Ministério da Economia e da Invovação, nem quis comentar. Muitos se indignaram com a escolha de Nick Knight, um fotógrafo estrangeiro, “como é possível se há tão bons fotógrafos portugueses?”.
Portugal tem de facto excelentes fotógrafos, mas não nos diz a história da fotografia que foi um Suiço, Robert Frank, que revelou a América aos americanos, que o alemão Bill Brandt retratou os ingleses “At Home” e os húngaros, André Kértesz e Brassai nos deram o melhor retrato de Paris? Também não me incomoda que Portugal seja visto como o país mais Ocidental da Europa, pelo contrário, confesso que quando vou ao Cabo da Roca sinto um certo fascínio em pisar o ponto mais Ocidental da Europa continental. Através dos jornais e revistas todos nós também já sabemos o fascínio que o nosso ministro Manuel Pinho tem pela fotografia: é vê-lo em fotografias nas vernissages do Bes Photo, na inauguração da Fundação Ellipse e o seu olhar satisfeito a olhar para a fotografia de Thomas Ruff.
Pinho até tem um Stieglitz, revelou-nos uma vez nas suas crónicas Eduardo Prado Coelho, e em Paris, Pinho gosta do Restaurante Man Ray. Mas nem a luz de Ray o iluminou para a campanha Portugal Europe’s West Coast, porque se deixarmos cair o K a Knight, é de facto apenas a ausência de luzque fica.

Ontem ao ler o “The Economist” desta semana deparei num anúncio a promover Portugal, o país mais ocidental da Europa, com a cara de José Mourinho (football coach) em sobreposição com uma outra fotografia á beira-mar de uma praia qualquer. Fique descansado o leitor que não a vou mostrar, mas não resisto mais em esconder a minha indignação em relação ao mau gosto desta campanha que é aterradora. Será que Nick Knight não entendeu a mensagem: Portugal West Coast of Europe? O sol põe-se a ocidente, e é em Portugal que fica o horizonte europeu, a linha onde mar e céu se confundem. Knight ignora o horizonte europeu, o West Coast of Europe, e preferiu fotografar o pôr do sol de viés, a servir de face direita, para quem olha de frente, da cara de Mourinho. A acompanhar a fotografia, em baixo lemos:
não fosse o by e o nome Nick Knight parece fazer parte da mensagem.

Fosse eu a escolher uma imagem que transmitisse a mensagem Portugal Europe’s West Coast, qual escolheria? Em primeiro lugar olhava a custos, pois o país não está para excessos, depois e quase em simultâneo a preocupação em escolher uma imagem que nos levasse numa viagem imaginária sem guia, (sem football coach). O marketing quer-se imaginativo, e a fotografia serve-lhe na perfeição. A colecção de Arte Contemporânea da Caixa Geral de Depósitos, o Banco do Estado, o Banco dos portugueses, tem no seu espólio, esta fotografia de Sarah Moon tirada na costa vincentina do Algarve.
Sarah Moon, Natal em Portugal, 1999
Moon fotografa o horizonte, onde céu e mar se confundem, onde a solidez da rocha contrasta com a transparência efémera da espuma, mas não falta o homem a contemplar à beira água esta paisagem sublime que Deus nos deu, porque as nações não só são feitas de rochas, areia e mar, e no que respeita à imaginação, diz Moon, “uma fotografia é uma garrafa no meio do mar, uma mensagem flutuante. Quem a apanha, interpreta-a à sua maneira”.

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sábado, janeiro 26, 2008

Portugal em Londres

Em Londres a Flowers Central Gallery apresenta a obra Quarries de Edward Burtynsky, que no ano passado a Steidl editou em livro.
De todo este imenso trabalho de Burtynsky, realizado durante mais de 20 anos nas maiores pedreiras do mundo, a galeria cobre agora as suas paredes com as pedreiras de Vila Viçosa, Pardais e Bencatel. Portugal em Londres, ou melhor, o Alentejo em Londres, terra onde o mármore anda por perto e nas soleiras das portas marca o asseio das aldeias.

Há mais de vinte anos, a viajar pela América à procura de paisagens sublimes, Burtynsky depara-se um dia com esta paisagem em Frackville.
Frackville, Pennsylvania, 1981
Demorou algum tempo até realizar que a paisagem em frente aos seus olhos era completamente alterada pela mão do homem. Um ano depois, na National Gallery de Otava é a vez de uma perspectiva vorticista de uma pedreira de August Sander o surpreender.
August Sander, Untitled/Quarry, c. 1925-35
Para Burtynsky só lhe falta decidir o instrumento. Com uma câmara fotográfica de grande formato, viaja ao encontro das maiores pedreiras do mundo, Vermont, Carrara, Makrana, Xiamen, Iberia. Para ele uma pedreira é um mundo de possibilidades, a Natureza alterada, cortada em cubos e paralelipípedos mais pequenos, a experiência do sublime, que requer uma Natureza bravia, geradora de medos.
Edward Burtynsky, Iberia Quarries #2, Marmorose EFA Co, Bencatel, Portugal, 2006
Edward Burtynsky, Iberia Quarries #9, Cochicho Co, Pardais, Portugal, 2006
Edward Burtynsky, Iberia Quarries #1, Marmetal Co, Borba, Portugal, 2006
Em White River, na região de Indiana, de um enorme buraco, hoje abandonado, saiu a pedra para a construção do Empire State Building e por todo o nosso planeta proliferam buracos de onde sairam a matéria prima com que se contruiram milhares de edifícios. Desde a antiguidade que assim tem sido e do ventre da terra em Makrana na Índia saiu o mármore translúcido com o qual mais de 20 000 mil homens contruíram o maior templo do Amor, e que ainda hoje comove quem o olha - o Taj Mahal. A Carrara, em Itália, foi Michelangelo várias vezes escolher os melhores blocos de mármore branco para a belíssima Pietá e Moisés que esculpiu. No México foi preciso escavar a terra para de lá sairem as pirâmides e os templos da grande civilização Maya, que aí jaziam há anos sepultados.

Hoje os engenheiros e arquitectos preferem o betão, plástico, vidro e metal. A pedra é relegada para um plano subalterno, servindo a decoração de interiores.

Mas paradoxalmente é no interior da terra esventrada, nas pedreiras, que parecem brotar os maiores mistérios, como esta fotografia,
Edward Burtynsky, Iberia Quarries, #8, Cochicho Co.,Pardais, Portugal, 2006
onde o azul translúcido da água preenche uma cruz, ou é sómente um corte mecânico no chão da pedreira? É o sagrado ou matéria para construção?
Depende de quem a observa, e a beleza da imagem advém precisamente de tal incerteza ou ambiguidade.

Mas fotógrafos diferentes produzem imagens diferentes, porque o acto de fotografar, tal como qualquer observação, é uma intreferência. Paulo Nozolino, o nativo, o fotógrafo português que procura o que é ser português, numa pedreira em Estremoz, tirou esta fotografia.
Paulo Nozolino, Estremoz, 1984
Ao olhar para as fissuras advinham-se figuras, o contraste das linhas finas com os blocos na escuridão. O rosa, o rosa de Estremoz, o rosa de Borba, a cor do nosso mármore é preterida pelo preto e cinzentos, que trabalha com cuidado extremo, “a minha fotografia é autobiográfica” diz o fotógrafo. Nozolino, nos antípodas do fotógrafo conceptual, nunca parte de uma ideia, nunca encena, reaje às coisas que vê e procura os locais que avivem a sua sensibilidade e no espaço confinado desta pedreira, sem horizonte e sem céu, a única saída a ascensão pela escada.

Burtynsky, o estrangeiro, o que descobre e revela o que nos é verdadeiramente genuíno, encontra em Pardais, a imagem dos seus sonhos,
Edward Burtynsky, Iberia Quarries #3, Cochicho Co., Pardais, Portugal, 2006
a imagem que o faz culminar o seu trabalho nas pedreiras.

Inverta-se a imagem, e em lugar de uma imagem vertiginosa de um poço profundo não vemos agora um zigurate?
Edward Burtynsky, Iberia Quarries #3, Cochicho Co, Pardais, Portugal, 2006

Podemos ou não chamar imaginação quando as coisas podem ser outras para além daquilo que são?

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quinta-feira, janeiro 24, 2008

Davos, 2008

Muitos são os que sobem nestes dias os Alpes Suiços para chegarem à cidade de Davos, que desde 1971 acolhe o World Economic Forum. Mas o que faz subir e reunir todos os anos esta elite de gente em Davos?
Andreas Gursky, Engadin II, 2006
Na agenda os problemas do mundo actual e nada melhor que o ar puro da montanha para se delinearem estratégias onde todos trocam conhecimentos e opiniões. Não depende o nosso futuro das estratégias que hoje forem definidas?

Este ano a recente correção dos mercados bolsistas, que levou Ben Bernanke há dois dias a baixar em 75 pontos base as taxas de juro na América, é o centro das atenções.
Andreas Gursky, Chicago Board of Trade II, 1999
Mas será que em Davos se adiam os problemas de longo prazo, escassez de água, mudanças climáticas, energias alternativas, proliferação de armas nucleares para se resolver agora os problemas de curto prazo? E serão os problemas financeiros resolvidos?

Os grandes das finanças apanham o avião e atravessam o Atlântico,
Jeffrey Milstein, Quantas Boeing 747-400, 2006
vão tentar defender o modelo financeiro actual, e levam na agenda reuniões informais com os políticos, em épocas de crise, todos procuram a ajuda de todos...

Há quem deseje alterar o actual modelo. O “super-boom” ficou fora de controlo com os novos produtos financeiros cada vez mais sofisticados. Ás autoridades supervisoras, que já não conseguem calcular os riscos, só lhes resta acreditar na gestão e no modelo dos bancos.

George Soros já veio dizer que a bolha que agora rebentou no mercado imobiliário é diferente de todas as outras dos últimos 60 anos, pois é a primeira vez que outros Estados financiam Wall Street. Para ele “it was a shocking abdication of responsibility”, e o dólar arrisca-se a deixar de ser a reserva internacional.

Um dos maiores bancos da América, o Citigroup, que precisou de uma injecção de novo capital na ordem dos $22bn, vê com bons olhos a ajuda de investidores como Kuwait Investment Authority.
Andreas Gursky, Kuwait Stock Exchange, 2007
Mas se a entrada de dinheiro fresco permite equilibrar os balanços, não ficará agora a banca refém de influências políticas no futuro?
Andreas Gursky, Bahrain I, 2005
Dos grandes investidores que constroem hotéis de sete estrelas?
Robert Polidori, On the Burj Al Arab, Dubai
Robert Polidori, On the Burj Al Arab, Dubai
Será que a recessão americana afectará o desenvolvimento dos mercados emergentes? A questão levantada por muitos em Davos.

China, Índia e todos os países produtores de petróleo sofreram com a recessão vinda do outro lado do Atlântico? Haverá recessão global? Ou será o início de um novo realinhamento económico onde a América deixará de ser a locomotiva?

Olhando para a história não é a primeira vez que esta questão se coloca. Quem não se lembra nos anos 70, da invasão de Hondas, Toyotas...a circularem nas estradas americanas? Julgou-se que o Japão tecnológico suplantaria a economia americana e receou-se o pior. Mas o boom no Japão levou à bancarrota e só agora o Japão parece conseguir sair da recessão.

Olhemos então para a China, o país que de dia para dia surpreende todos nós Ocidentais.
Sze Tsung Leong, Chaoyang District, Beijing, 2002

O crescimento estonteante das cidades chinesas tem sido tema recorrente dos fotógrafos, mas a realidade também lhes escapa.
Andreas Gursky, 2002
Na China a maioria destes prédios só tem dois elevadores, o tempo de espera para subir/descer é de 40 minutos. Construidos na sua maioria só com o saneamento básico, é da responsabilidade de quem compra um apartamento, instalar o que falta, electricidade, gás... Xangai que muda todos os dias, acolhe por ano aproximadamente 4 milhões de habitantes que deixam as aldeias à procura de uma vida melhor. A taxa de desemprego na cidade anda na ordem dos 3%, massa de gente que é absorvida na construção e nas novas indústrias. O discurso oficial na China é “ whatever else we have done, we have brought hundreds of millions of people out of poverty”. Imaginemos, Nova Iorque, Paris, Londres, receber num ano o mesmo número de habitantes...Em Shenzen,
Peter Bialobrzeski, Shenzen, 2001
cidade que nos anos 80 ainda era uma pequena cidade piscatória junto ao delta do rio das pérolas serve hoje de experiência piloto do Estado que a isentou de impostos. O investimento estrangeiro em Shenzhen não pára. Quem vive em Shenzhen vive única e exclusivamente para o trabalho. Visitar a FoxConn em Shenzhen, a maior empresa exportadora da China, é visitar todas as outras, o modelo é o mesmo. Com um total de 250.000 operários nas suas linhas de montagem, trabalham 12 horas por dia, 6 dias por semana, por vezes 7, e o seu desempenho é controlado no final de cada mês. Dormem nos dormitórios da fábrica
Edward Burtynsky, Manufacturing #4 Factory Worker Dormitory, Dougquan, Guangdong Province, China, 2004
e comem na cantina da fábrica,
Edward Burtynsky, Manufacturing #11, Youngor Textiles, Ningo, Zhejiang Province, China, 2005
ganham o correspondente a $120 por mês, que poupam quase na totalidade. Saem da linha de montagem e pouco mais fazem do que dormir, e ao fim de cinco anos partem novamente para as aldeias de onde vieram com um pé de meia, não aguentam muito mais... Mas a FoxConn na lista da Fortune Global, figura num modesto 206 lugar entre as maiores empresas do mundo.
E no final destas imensas cadeias de produção que mais valias ficam na China? Os países que detêm as marcas, onde parte da produção é feita na China, estão nos extremos do processo, onde verdadeiramente ficam as mais valias. Na China ficam apenas 3 a 4 % dos ganhos do produto total, distribuido pelos donos das fábricas e pelos milhares de operários das linhas de montagem.
Pode-se comparar o milagre da China ao do Japão nos idos anos 70?
George Soros, que em 1992 ganhou $1bn ao especular na desvalorização da libra, e levou o Banco de Inglaterra quase à falência, vem agora em Davos alertar para a recessão americana, e para um novo realinhamento económico onde “China, India and some of the oil producing countries are in a very strong countertrend. So, the current financial crisis is less likely to cause a global recession than a radical realignment of the global economy, with a relative decline of the US and the rise of China and other countries in the developing World”. Será agora a vez de Soros experimentar o dólar?

Mas em Davos a agenda é vasta...poluição, aumento do custo dos produtos agrícolas, problemas geopolíticos como o Irão nuclear...fazem parte dos debates.
Mitch Epstein, Gavin Coal Power Plant, Cheshire, Ohio, 2003

Com o crescimento galopante rumo a uma sociedade de consumo ao estilo ocidental, a China assusta-nos. A poluição é hoje um dos maiores perigos que a China enfrenta, é o preço a pagar pela riqueza. Para se ter uma ideia da gravidade, se a China se aproximasse dos níveis da América no que respeita ao número de automóveis por família, cerca de 600 milhões de carros circulariam nas estradas chinesas, o que corresponde a mais do que o total de veículos hoje existentes no planeta.
Peter Bialobrzeski, Shangai, 2001
Robert Polidori, On Shangai
Afinal, não tem os chineses direito ao mesmo nível de vida? Ou será que todos nós é que temos de mudar?

Mudar? O mundo está a mudar, e agora em vez dos produtos industriais olha-se para a produção do açucar, milho, trigo...volta-se às origens, à terra,...
Frank Gohlke, Mississippi, 1986
Alessandra Sangrinetti, da série "on the sixth day", 1996-2004
Mudar? Mas afinal o mundo parece não mudar, e a ameaça nuclear, que ameaçou o dia a dia da geração de 60,
Yousuf Karsh, J.Robert Oppenheimer, 1956
Los Alamos, National Laboratory Photo, Bomba Atómica, 1957
está novamente na ribalta com o Irão nuclear, e já agora porque não ler aqui, um excelente post, sobre o assunto, escrito por alguém dessa mesma geração de 60.

Hoje vemos o mundo assim:
Yannick Demmerle, da série "Les nuits Étranges", 2004

mas não queriamos todos nós o ver antes assim:
Wout Berger, Ruigoord 2, 2002

ou preferimos o mundo ficcional do Dubai?
Andreas Gursky, Dubai World II, 2007

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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Fotojornalismo em crise?

Ontem o P2 do jornal Público recordava o dia 17 de Janeiro de 1991, dia em que iniciou a chamada guerra do Golfo. O jornal ilustrava o pequeno texto com esta grande imagem:
Jornal Público, dia 17 de Janeiro, 2008

Na madrugada desse dia, uma frota de aviões dos EUA, Inglaterra, França, Arábia Saudita e Kuwait seguiram em direcção ao Iraque. Os ataques aéreos, feitos com “bombas inteligentes”, de uma precisão nunca antes vista marcavam o início de uma ofensiva que se designou por Operação Tempestade no Deserto.
Todos nós em casa em frente aos nossos televisores fomos surpreendidos pelas imagens que a CNN difundiu em directo dessa guerra, e ao longo dos dias habituámo-nos às imagens fornecidas via satélite que invadiam os nossos ecrãs.
De tons esverdeados, mais pareciam imagens de jogos de uma guerra virtual.
Para a elite militar americana o impacto que as fotografias da guerra do Vietname causaram na opinião pública estavam ainda bem presentes e o Vietname, a última guerra a ser fotografada. Na guerra do Golfo as instâncias militares americanas evitaram ao máximo o testemunho directo dos jornalistas e fotógrafos no terreno, e divulgaram imagens que mais se assemelhavam a uma guerra cirúrgica, as imagens verdes que hoje retemos na memória e que o Público tão bem reproduz. Estará o fotojornalismo em crise?
Aos fotógrafos resta agora o depois, como fez Sophie Ristelhueber que em 92 vai ao Kuwait registar as marcas dos objectos pessoais e de destruição bélica deixados no terreno pela artilharia americana.
Sophie Ristelhueber, da série Fait, 1992
Sophie Ristelhuber, da série Fait, 1992
Sophie Ristelhueber, da série Fait, 1992

Thomas Ruff, prefere, como o fez na sua série Nacht de 92/93, ironizar a crise do referente, pois já nem precisa de “ter estado lá”.
Thomas Ruff, da série Natcht 10, 1992
Thomas Ruff, da série Natch 14, 1993

Mas se as guerras já não podem ser fotografadas, as manifestações públicas correm também esse risco. Vejamos o que se passou com a revolta estudantil de Março de 2006 em França. Em 10 de Março desse ano, o site do jornal “Libération” anunciava esta notícia breve: “Manifs, AG...Envoyez-nous vos photos témoignages. Elles seront sélectionnées para la rédaction, publiés au fur et à mesure sur Libération.fr”, mas esta solicitação era seguida de um texto bastante mais longo, que enunciava as condições da publicação: “Vous accordez à Libération le droit de publier gratuitement sur tous les supports de son choix les images que vous lui avez envoyées (...) Vous certifiez bien être l’auteur de ces image et posséder les autorisations nécessaires de toutes les personnes photographiées...”, se nos dá vontade de rir, o jornal cumpria com a lei que obriga uma autorização prévia do fotografado, numa manifestação... Poucas foram as imagens enviadas, porque também hoje, a internet substitui tais disparates com novas plataformas de informação como o Flickr, onde quase minuto a minuto eram divulgadas as imagens dos estudantes revoltosos.
Ocupação da Sorbonne, 10-11 de Março 2006, fotografias divulgadas em Flickr
Manifestação 28 Março, 2006, imagem divulgada em Flickr
Manifestação em Paris, 18 Março 2006, imagem divulgada em Flickr
Mas se hoje estas plataformas são o meio privilegiado de circulação de informação, o curioso é que hoje a maioria das imagens que a blogosfera utiliza para ilustrar os seus posts, são retiradas dos jornais e Sócrates, Cavaco Silva,...fazem as delícias de muitos blogers.

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