Depois de três posts seguidos sobre Fotografia Política, (se assim se pode chamar), retomo a Fotografia Científica que deixei lá para trás.
Hoje de tão absorvidos que estamos na Fotografia dita Artística, a que se mostra nas galerias e museus e que se compra por preços exorbitantes, esquecemo-nos muitas vezes, que a fotografia foi uma dádiva da ciência. William Fox Talbot (1800-1877), inventor do método negativo-positivo, e John Herschel (1792-1871), descobridor da técnica de fixação das imagens, foram cientistas distintos, membros da Royal Society. Mas para Talbot, a nova técnica nascia também para responder a algumas questões relacionadas com a arte. “The Pencil of Nature”, o seu primeiro livro com imagens fotográficas, a Natureza desenhava-se a si própria. A luz do sol, substituía o desenho manual feito pelo homem, e o sol, não se esquecia de reproduzir todos os detalhes e interiorizou-se que a fotografia era a cópia fiel da Natureza. O homem ficou espantado porque passou a ver coisas que não via, e os cientistas cedo perceberam o valor da fotografia. A necessidade de ver cada vez mais e mais longe, uma ânsia natural do homem, impôs o desenvolvimento da fotografia científica. Se no primeiro post falámos dos mundos invisíveis da microscopia e dos mundos infinitos da astronomia, a conquista de fixar o movimento acabou por ocupar o segundo.
Hoje abordaremos outros temas e começamos com os desenhos fotogénicos ou as fotografias feitas sem máquina. Muitas das fotografias de Talbot foram feitas sem máquina.
Na actualidade David Stephenson fotografa folhas de árvores fragilizadas pela sede, e que mesmo mortas, servem de alimento aos insectos.
A arte é subjectiva, a ciência é objectiva, este é um postulado que nos habituámos a repetir sem grande reflexão. Mas a ciência não procura apenas verdades absolutas, coloca problemas e neste ponto, aproxima-se mais do que nunca de uma posição criativa. Como escreveu Einstein, “a experiência mais bela que podemos ter é a criação do mistério: é a emoção fundamental que está na raiz da verdadeira arte e da verdadeira ciência, quem não a experimentou já não sabe como se maravilhar, é como se estivesse morto, com os olhos baços”. Mas porque será que a ciência e arte nos parecem irreconciliáveis? Será que sempre foi assim?
A fotografia, “filha da ciência e da arte”, foi talvez a que melhor soube reconciliar objectividade com subjectividade. No século XIX, o médico Guillaume Benjamin Duchenne de Boulogne (1806-1875), submetia os músculos da cara dos seus pacientes a choques eléctricos. Procurava, como ele escreveu, “uma linguagem da alma”.
Na actualidade, Marta Menezes, (n.1975), explora o conhecimento científico na sua prática artística. A Biologia, a Genética ou a Neurologia os suportes da sua produção. O seu estúdio radica-se nos laboratórios de investigação científica por onde passa, e a sua matéria-prima: o DNA, proteínas, células e organismos. Numa entrevista recente disse: “não tenho a menor dúvida de aquilo que faço é arte. Porque os meus objectivos são completamente diferentes dos de um cientista. Qualquer cientista diria que o que faço não é ciência: não repito a experiência, não procuro descobrir as causas, não me interessam as conclusões. Preciso apenas que aconteça uma vez. Isto é completamente contrário ao espírito científico”, contudo os cientistas só têm a ganhar com este tipo de trabalho, “como não estamos presos ao sistematismo da ciência, podemos experimentar hipóteses que eles nem sequer consideram”, comenta. Em 2003, a Fundação Calouste Gulbenkian, no projecto “Sete artistas ao décimo mês”, comissariada por Miguel Amado, mostrou um trabalho de Menezes utilizando uma tecnologia científica recente conhecida por fMRI – functional Magnetic Resonance Imaging.
E mais uma vez a fotografia científica teima em ficar…
Sem comentários:
Enviar um comentário