Há um ano a Barbican Art Gallery apresentou a exposição “In the face of History: European Photographers in the 20th Century”. Como dizia o próprio sub-título da exposição, Kate Bush, a comissária, ensaiava uma das possíveis histórias da fotografia na Europa do último século. Começava com Atget terminava em Seiichi Furuya. Faz agora precisamente um ano que sobre essa mesma exposição escrevi : “as fotografias dela (Jitka Hanzlová’s), antecedem as últimas da exposição, de Seiichi Furuya, eu teria terminado com o trabalho Forest de Hanzlová (...) É reconfortante olharmos para Forest”e assim terminava o post. Se era reconfortante olharmos para Forest depois de passarmos por todo o desencanto do pós-guerra europeu, doloroso foi olhar para as fotografias expostas na última sala, o trabalho de Furuya, trabalho que me tocou profundamente e talvez o mais impressionante dos 22 fotógrafos representados. Hoje, passado um ano, admito que a omissão de explicar ao leitor tal escolha tenha sido involuntária, uma forma inconsciente de defesa, da emoção provocada.
Há dias veio-me parar às mãos o último livro de Furuya, "Aus den Fugen", 2007,
Durante sete anos, os anos que duraram o casamento Furuya fotografou Christine, e como ele próprio diz “I feel obliged to keep photographing the woman who means capturing time and space”, depois o suicídio, desta vez, a janela do apartamento em Berlim era suficientemente alta para Christine conseguir escapar. Passados doze anos do suicídio, 1985, Furuya recua lentamente no tempo à procura daquela que amou, procurando no seu rosto a revelação do que estava tão bem escondido. E ao contrário de Roland Barthes, que sózinho no apartamento onde a sua mãe acabara de morrer contempla à luz do candeeiro as fotos da sua mãe, procurando o rosto que amara, e ao descobri-la, a foto do Jardim de Inverno, não a mostra ao leitor, Furuya sente a necessidade de partilhar.
Será um mau preságio o sorriso de Christine junto ao mar Nishi-Izu? Para o observador que desconheça a história de Christine, a fotografia que a capa do livro reproduz, talvez seja banal. Para Furuya, que a olha passados doze anos a singularidade de uma emoção. Será só dele? É ao olhar para o passado que Furuya vai reconhecendo as diversas fases da depressão de Christine, e foi ao olhar para as fotografias expostas, que a singularidade da emoção deixa de ser só dele e o espectador é invadido. Para Furuya “While I am organizing the document once again, I come across her every day”. Agora cada exposição e livros, que gosta de chamar Mémoires, um retrabalhar de fotografias diferentes. Fotografias recentes misturadas com as fotografias antigas, a beleza de "Aus den Fugen", a forma que encontrou de invocar a vida e afastar a morte.
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