segunda-feira, janeiro 28, 2008

Portugal no seu pior

Não gosto de escrever sobre imagens que não gosto e há um mês atrás quando Lisboa foi invadida por gigantescas imagens com a mensagem Portugal Europe’s West Coast, marketing promovido pelo Ministério da Economia e da Invovação, nem quis comentar. Muitos se indignaram com a escolha de Nick Knight, um fotógrafo estrangeiro, “como é possível se há tão bons fotógrafos portugueses?”.
Portugal tem de facto excelentes fotógrafos, mas não nos diz a história da fotografia que foi um Suiço, Robert Frank, que revelou a América aos americanos, que o alemão Bill Brandt retratou os ingleses “At Home” e os húngaros, André Kértesz e Brassai nos deram o melhor retrato de Paris? Também não me incomoda que Portugal seja visto como o país mais Ocidental da Europa, pelo contrário, confesso que quando vou ao Cabo da Roca sinto um certo fascínio em pisar o ponto mais Ocidental da Europa continental. Através dos jornais e revistas todos nós também já sabemos o fascínio que o nosso ministro Manuel Pinho tem pela fotografia: é vê-lo em fotografias nas vernissages do Bes Photo, na inauguração da Fundação Ellipse e o seu olhar satisfeito a olhar para a fotografia de Thomas Ruff.

Pinho até tem um Stieglitz, revelou-nos uma vez nas suas crónicas Eduardo Prado Coelho, e em Paris, Pinho gosta do Restaurante Man Ray. Mas nem a luz de Ray o iluminou para a campanha Portugal Europe’s West Coast, porque se deixarmos cair o K a Knight, é de facto apenas a ausência de luzque fica.

Ontem ao ler o “The Economist” desta semana deparei num anúncio a promover Portugal, o país mais ocidental da Europa, com a cara de José Mourinho (football coach) em sobreposição com uma outra fotografia á beira-mar de uma praia qualquer. Fique descansado o leitor que não a vou mostrar, mas não resisto mais em esconder a minha indignação em relação ao mau gosto desta campanha que é aterradora. Será que Nick Knight não entendeu a mensagem: Portugal West Coast of Europe? O sol põe-se a ocidente, e é em Portugal que fica o horizonte europeu, a linha onde mar e céu se confundem. Knight ignora o horizonte europeu, o West Coast of Europe, e preferiu fotografar o pôr do sol de viés, a servir de face direita, para quem olha de frente, da cara de Mourinho. A acompanhar a fotografia, em baixo lemos:
não fosse o by e o nome Nick Knight parece fazer parte da mensagem.

Fosse eu a escolher uma imagem que transmitisse a mensagem Portugal Europe’s West Coast, qual escolheria? Em primeiro lugar olhava a custos, pois o país não está para excessos, depois e quase em simultâneo a preocupação em escolher uma imagem que nos levasse numa viagem imaginária sem guia, (sem football coach). O marketing quer-se imaginativo, e a fotografia serve-lhe na perfeição. A colecção de Arte Contemporânea da Caixa Geral de Depósitos, o Banco do Estado, o Banco dos portugueses, tem no seu espólio, esta fotografia de Sarah Moon tirada na costa vincentina do Algarve.
Sarah Moon, Natal em Portugal, 1999
Moon fotografa o horizonte, onde céu e mar se confundem, onde a solidez da rocha contrasta com a transparência efémera da espuma, mas não falta o homem a contemplar à beira água esta paisagem sublime que Deus nos deu, porque as nações não só são feitas de rochas, areia e mar, e no que respeita à imaginação, diz Moon, “uma fotografia é uma garrafa no meio do mar, uma mensagem flutuante. Quem a apanha, interpreta-a à sua maneira”.

Sem comentários: