Na revista Atlântico de Novembro, Pedro Mexia em Conversas Atlânticas entrevista Paul Auster.
PM- “Em geral nos seus livros há uma atenção à vida quotidiana, com encontros, acasos, etc., mas também há quase sempre uma dimensão reflexiva. É um risco, escrever sobre ideias?”
PA –“Não é de todo um risco. Se nos sentimos compelidos a escrever sobre ideias, devemos escrever. No meu caso, não há nenhum material que não seja adequado a entrar num romance. Quando começamos a fechar possibilidades, fechamos portas às possibilidades da arte. Uma coisa que sempre me fascina é que muito poucas vezes nos romances vemos pessoas a ler romances. E no entanto as pessoas lêem. É uma coisa que me intriga, que os romancistas se tenham eliminado como parte do mundo real”.
Muitos fotógrafos, ao contrário dos romancistas, como refere Paul Auster, gostam de se representar na obra, e o auto-retrato é tão vulgar como na pintura. Mas muitos fotógrafos também se eliminam como parte do mundo real e preferem representar-se virtualmente utilizando a sua sombra.
Leonardo da Vinci chamou “derivadas”, às sombras daquilo que não se vê.
O retrato é um desejo antigo do homem. Em França no tempo de Louis XIV, um novo processo de retratar é inventado e entra em moda pela sua simplicidade. Sentados de perfil ao lado de um cavalete onde se dispunha uma folha branca, os retratados interpunham a passagem da luz, de forma que o seu perfil fosse projectado na folha de papel. A sombra, desenhada pela luz na superfície do papel, sem volume nem expessura, era depois pintada de preto. Seguia-se o recorte. Chamaram ao processo “silhouette”, na nossa língua silhuetas.
Picasso, como já aqui vimos, também utilizou a fotografia. Em 1927, fotografa a sombra do seu perfil projectado em cima de um seu auto-retrato.
No mesmo ano, o fotógrafo André Kertész faz uma fotografia semelhante, mas ao contrário de Picasso, a máquina fotográfica também é projectada.
O fotógrafo Lee Friedlander, é um fanático da sua sombra. Por onde passa gosta de a registar. Seja em casa, projectada na parede,
José Manuel Rodrigues, também não escapa ao fascínio das sombras. Como diz Jorge Calado, Rodrigues emprega-as para definir ou acentuar formas ou como mero exercício das propriedades únicas da luz. Às vezes, tal como os habitantes da caverna de Platão, Rodrigues prefere as sombras na parede à realidade exterior.
A lista é interminável, porque o reino das sombras sempre assombrou os fotógrafos. Quer o leitor acrescentar alguns?
4 comentários:
http://tomeduarte.blogspot.com/2007/11/sombras.html
;)
www.filipebianchi.com tem uma série de sombras que considero bastante interessante.
È uma mania minha também...Se tiver paciência veja:
http://www.flickr.com/photos/contemplar/sets/72157603113891241/
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