Sandra Vieira Jurgens, no último artigo de opinião do site Artecapital escreve o seguinte a propósito da Bienal de Istambul: “Mais uma bienal? Não obrigada. Num contexto mundial saturado pela multiplicação de bienais, que são apontadas como um dos grandes perigos do sistema artístico, a tentação é a de uma vez mais reforçar o discurso anti-bienal e denunciar a excessiva institucionalização da arte, bem como a ordem consumista que rege o circuito das grandes exposições internacionais. Ainda assim, à margem das críticas, talvez seja acertado começar a pensar que o desencanto e o cansaço são os sinais do nosso tempo. Começo então por colocar uma questão que me parece essencial: O que é que procuramos num evento desta natureza? Porquê ir a Istambul? Vai-se na expectativa de que esta seja diferente da maioria dos eventos que pontuam a paisagem internacional? Mais periférica, menos espectacular e com uma identidade própria mais vincada, mais local e com linhas de trabalho mais interessantes do que as cerca de 110 bienais internacionais que se foram criando nos últimos dez anos? A sua localização geopolítica, no cruzamento de diversas influências culturais parece determinante. Não vamos a tempo, a bienal transformou-se num fenómeno fashion, e ao que parece tem sido vertiginosa a velocidade da mudança. Assim o diz Vasif Kortun, que já foi comissário de edições anteriores, e do Pavilhão turco na Bienal de Veneza, e é actualmente o director do Platform Garanti Contemporary Art Center, espaço artístico de referência em Istambul.”
No último editorial “El artista” escrito por Rosa Olivares no jornal Exit Express lemos o seguinte: “(...) Em conversa, há uns dias, um jovem crítico comentava o difícil que era eleger entre uma quantidade de artistas que há hoje em dia, “se na época de Greenberg havia 600 artistas em Nova Iorque agora pode-se falar de um milhão”. Para Olivares o que sucede em Nova Iorque é similar ao que se passa em Espanha e acrescenta “diz-se que hoje “el artista” é cosmopolita: nasce no Dubai, estuda em Londres, vive em Nova Iorque e trabalha em Berlim; as férias talvez as passe em Ibiza”, ironiza Olivares. A abundância de artistas deveria ser uma satisfação, mas surpreendentemente, para a crítica não é, pois maior quantidade menor qualidade “ a superabundância a que chegámos trás uma debilidade de propostas patéticas: cópia sistematica, frivolidade de apresentações, ... e uma ânsia desmedida para triunfar, não tanto por fazer uma grande obra”. Em suma, para Olivares o artista deveria trazer algo de novo, diferente, pessoal ao já criado.
Tudo isto a propósito da 1ª bienal “Photoquai” promovida pelo museu quai de Branly, a decorrer durante o mês de Novembro em Paris. Stéphane Martin, o director do museu interrogado sobre o porquê desta iniciativa, responde “Mostrámos fotografia histórica desde a abertura do museu, em 2006. Mas rapidamente percebemos que tinhamos de continuar com a fotografia contemporânea não europeia. Tendo em conta a arquitectura do local e a quantidade de imagens que queriamos dar a descobrir, tivémos então de pensar qual a maneira mais eficaz de expôr. E foi assim que nasceu esta ideia de festival. Como também já existe o Mois de la Photo, numa complementaridade pensamos então na ideia de Bienal”.
Uma breve informação sobre o que alberga este novo museu Parisiense, já que o nome, quai de Branly nada revela sobre as obras do seu acervo. Aos franceses falta o pragmatismo dos anglo-saxónicos e a escolha do nome do museu, à semelhança do que sucedera ao Musée D’Orsay, nos anos oitenta, sofreu também uma evolução semântica. O museu reúne as obras que pertenciam ao Musée National des Arts D’Afrique et D’Oceánie e as obras do departamento de etnografia do Musée de L’Homme. Começou por se chamar “Musée des arts premiers”, depois “Musée de L’Homme, des arts et des civilizations”, acabou em quai Branly, a proximidade do “quai” com esse nome a dar-lhe o nome.
E é também o “quai” que dá o nome a “Photoquai”, que se instala ao longo dos “quais” do Sena, ao ar livre e em alguns edifícios,
Um olhar inédito foi o que não conseguiram, como nos diz Jean-Loup Pivin, o director artístico do evento: “(...) Photoquai est dans la découverte. Pas d’effet de catalogue, pas même de thématiques. Si nous avions travaillé par thèmes, nous nous serions interdits de regarder ailleurs! En revanche, en visionnant la somme d’images reçues, nous avons identifié quelques familles, quelques regroupements ou parfums:beaucoup de paysages époustouflants, beaucoup d’univers oniriques très affirmés et j’ai été très frappé du nombre d’univers photographiques qui racontent des histoires”. Jean-Loup Pivin ainda não percebeu que o artista hoje “nasce no Dubai, estuda em Londres, vive em Nova Iorque e trabalha em Berlim; as férias talvez as passe em Ibiza”?
Não querendo "temas", acabaram como nos revelam os prospectos, em adoptar três: Métamorphoses,
No final fico sem perceber o que quer Stéphane Martin com o “Photoquai”: o exótico? o original? encontrar um novo paradigma de visão?, utilizo as palavras de Sandra Vieira Jurgens, “Não vamos a tempo, a bienal transformou-se num fenómeno fashion”. Ou será que “Photoquai” quer dar lugar aos fotógrafos pouco conhecidos? Mas então pergunto porque exclui a Europa! Ou será ainda que “Photoquai” numa atitude do politicamente correcto quer mostrar ao mundo as imagens “d’artistes de pays émergents”? Mas será politicamente correcto a Europa olhar para si como o centro do mundo desenvolvido e todos os outros, inclusivé o Japão, serem países emergentes nas artes?
Dominique Baqué, ensaísta e crítica fotográfica, na revista Art Press, num artigo sobre o “Photoquai”, deixa o aviso e interrogação, não será que “Photoquai” é o novo “Family of Man” do nosso tempo?
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