Jean-François Chevrier, historiador e crítico de arte, num texto que escreve para o livro“L’art en Europe – Les années décisives 1945-53”, inicia com uma declaração bombástica para a fotografia, diz Chevrier, que é a crítica cinematográfica, publicada no Cahiers du cinéma, por André Bazin e os críticos que o rodeavam, que propõem um método e interpretação da criação fotográfica nos anos de 1950. Não foram nem os fotógrafos, nem os historiadores, nem a crítica especializada que escreveram sobre a criação fotográfica na Europa desses anos, a fórmula de Rossellini, continua Chevrier, escrita num texto publicado pelo Cahiers du cinéma em 1955-56, aplica-se bastante bem à situação fotográfica desses anos: “O cinema, escreve Rossellini, que adquiriu uma grande importância na vida do dia a dia, é também uma arte, ou começa a ser uma arte ou é às vezes arte. Tudo está por descobrir”. O cinema mais jovem que a fotografia, afinal a base da cinematografia veio da fotografia, não estava tão marcado pelo peso da história, como sucedia com a fotografia, e a crítica assim mais liberta do peso do passado, escrevia em função dos interesses contemporâneos. Se para essa época podemos interpretar a criação fotográfica a partir da crítica cinematográfica, é sem dúvida porque as ligações do cinema com a fotografia eram intensas. Muitos dos fotógrafos trabalharam com realizadores, Cartier-Bresson com Jean Renoir, Robert Doisneau com Carné, Chris Maker realizador é também fotógrafo e amigo de Bazin e Fellini, William Klein trabalhou com Fellini, e o livro fotográfico Roma, que Klein fez enquanto esperava na cidade para trabalhar como assistente do mestre, teve como já vimos neste blogue,
No outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, fotógrafos e realizadores, criam em conjunto a Film and Photo League, 1930, como sessão da Workers’ International Relief de Berlim. Entre os seus membros distinguem-se os realizadores, Leo Seltzer, Robert Del Duca, Leo Hurwitz, Tom Brandon e Irving Lerner, que influênciados pelos filmes russos, em particular de Vertov, Eisenstein e Poudovkine, (que mais uma vez a Cinemateca em conjunto com a Fundação Calouste Gulbenkian nos mostraram em 1987, no ciclo de cinema das vanguardas russas), começam a produzir os seus documentários sociais dos anos da depressão. Greves, manifestações,
Mas regressando à década de 1950, se o cinema se autonomizou, porque soube ser criativo com o “neo-realismo” em Itália e a “nouvelle-vague” em França, a fotografia continuou a olhar para o passado, quer na Alemanha, com Otto Steinert ainda muito agarrado à experimentação da Bauhaus, quer com o fotojornalismo francês ainda a olhar para um realismo poético e nostálgico. O cinema, e exceptuando alguns casos na fotografia como Nigel Henderson em Inglaterra, afirmava uma nova modernidade ao filmar temas contemporâneos que interessavam ao público. Em Hollywood, o austríaco, Otto Preminger, atreveu-se a abordar temas controversos. “The Man with the Golden Arm”, 1955, denúncia o vício da heroína e Frank Sinatra, numa cena impressionante, desempenha o papel de um heroínomano a ressacar. Uma nova realidade chegara aos ecrãs do cinema, enquanto a fotografia, tardou a tratar os temas da actualidade. “Tulsa”
O cinema e a fotografia vivem agora de costas voltadas. Excepção, é Wim Wenders, que é simultâneamente realizador e fotógrafo. Muitos dos seus filmes como “Paris, Texas”, 1983, são produzidos a partir de fotografias. Wenders, primeiro percorre durante meses o Midwest americano fotografando.
E todas estas ligações, entre cinema e fotografia, vêem a propósito de um livro, que a Amazon já à largos meses anda a anunciar, “Photography and Cinema” de David Campany, e que finalmente estará disponível no próximo mês.
Se as relações do cinema e fotografia são imensas, escasseiam no entanto livros que analizem essas relações. “Cine de Fotógrafos” de Margarita Ledo Andión, editado pela GustavoGili, restringe-se aos fotógrafos que também enveredaram pelo cinema. Na blogosfera, Alec Soth, um dos fotógrafos da Magnum, escreveu no seu blog um post enunciando os fotógrafos que enveredaram pelo cinema, e aproveitando a vantagem desta rede de contactos que permite a blogosfera, pede aos leitores que em comentário acrescentem outros nomes à sua lista.
Na última Aperture, uma revista de fotografia, David Company levanta o véu do seu “Photography and Cinema”. Campany faz então uma análise de como os fotógrafos ao longo dos anos se interessaram pelos estúdios de Hollywood. Começa com Weston, depois Arbus, mais recentemente Larry Sultan, John Divola e Stefen Ruiz.
Em Fevereiro, no fim de semana da entrega dos óscares, fiz uma viagem, através da fotografia, á mítica Los Angeles. Los Angeles é cinema foi como chamei ao título do post, porque a fotografia em Los Angeles também ela se transforma em cinema.
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