terça-feira, maio 29, 2007

ist, Instituto Superior Técnico

O IST foi criado de raiz por Alfredo Bensaúde num velho casarão na rua da Boavista em Lisboa. Quando em 1927, Duarte Pacheco ascende à direcção, a sua primeira preocupação foi complementar a obra do primeiro. Sob a sua direcção promove a construção de novas instalações e em 1936, o Instituto abria as portas do seu novo edíficio construido em terrenos que outrora eram quintas ao Arco do Cego. Pardal Monteiro foi o escolhido.

Horácio Novais, IST, 1936, retirada do livro ist de Augusto Alves da Silva
O edifício seguia a máxima da engenharia e arquitectura da época, “a forma segue a função”. A decoração deixava o gratuito de fora e centrava-se na função. Mas como tudo na vida, o Instituto transformou-se para dar resposta às novas exigências, a investigação científica passava a motor do desenvolvimento, e o edifício precisava de mudar para a receber.
Augusto Alves da Silva, do livro ist, 1994 ("com a revolução Abril 1974 as paredes revestiram-se das cores maoistas do vermelho, preto e amarelo..").
Em 1993, duas novas torres são construídas dentro do seu “campus” para albergar as novas exigências da ciência.

Carlos Miguel Fernandes (n.1973), nasceu em Luanda e vive em Lisboa desde 1975. Licenciou-se em 1998, em engenharia electrotécnica e computadores pelo Instituto Superior Técnico. No ano passado no âmbito das comemorações dos 95 anos do Instituto e 75 da Universidade Técnica, o IST Press inaugurou com o volume “I-S-T 95-75-15” de Carlos Miguel Fernandes.
Já faz quinze anos que Fernandes está ligado ao “Técnico como é conhecido na cidade”, não só como estudante de doutoramento como coordenador do Núcleo de Arte Fotográfica da Associação dos Estudantes do IST, onde ensina fotografia, não só para os estudantes do Técnico mas para todos aqueles que querem aprender a fotografar.
“Quinze anos é pouco tempo quando comparado com a idade deste lugar. Mas o meu IST terá apenas quinze anos? Oficialmente, a história começou numa manhã de outono de 1991, mas o enredo vem de longe, desde que aprendi a abrir os olhos e a ver o mundo, o qual, deixando para trás lugares ultramarinos que nunca aproveitei, se transformara irremediavelmente na paisagem urbana que avistava desde a janela do meu quarto. O IST quebrava a monotonia da vista. Vi-o crescer e mudar, e o antropomorfismo veio naturalmente. Chamava-lhe o Técnico, como é conhecido na cidade, e todos os dias, quando abria a janela, ele mostrava-se como que a lembrar-me o destino traçado. Havia uma certeza que me percorria o espírito, moldada por vontades familiares, mesmo quando ainda mal chegava com o nariz ao parapeito: a minha vida passaria por ali”, escreve Fernades na introdução de “I-S-T 95-75-15”.
Foi através da blogosfera que conheci Carlos Miguel Fernandes. Há dias ofereceu-me “I-S-T 95-75-15”. O livro reflecte a sua visão muito pessoal da Instituição que sempre fez parte da sua vida. O preto predomina nas suas fotografias como pretas eram as ardósias onde aprendemos a escrever. A tiragem é pequena, 250 exemplares, decidi neste post partilhar com o leitor este livro magnífico.
Jorge Calado escreve o texto de introdução. É dele que retiro os textos que acompanham as fotografias.
“Olhem para estas imagens e vejam como elas se articulam como os versos dum poema que apetece cantar. Imediatamente reconhecíveis, só a primeria e a última- o alfa e o omega da escola.”
“Há coisas que não vemos ou preferimos esquecer. O papel amarrotado deitado ao chão, o sarrafo perdido, a tabuleta obsoleta, a fissura na parede encardida, o caixote abandonado, à espera de melhor uso. São os detritos da civilização.”
“Aqui , graças à perspectiva, até os quadrados e rectângulos são transformados em paralelogramas obliquângulos, como uma moldura ou cadeira desengonçada”.
“As esquadrias que há muito deixaram de ser a marca do engenheiro”
“A letra pode ser triste como tristes são os poemas dos fados mais amados. Não há gente – nem mestres, nem funcionários nem alunos. Apenas sinais e signos de vida e morte. Só. O resto adivinha-se e faz vibrar a imaginação”.
“Outras marcas do passado foram ficando, agarradas às paredes e à pedra dos degraus, enquanto cicatrizes efémeras vão aparecendo e desaparecendo ao ritmo de um lugar vivo...Fotografa-se para celebrar”, C.M.Fernandes.

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma honra ser referido ao lado destes grandes nomes da História da Fotografia portuguesa. Gostava de ver, um dia, uma exaustiva exposição de fotografia sobre o IST. (Será que o Jorge Calado ainda nos vai surpreender com esse evento? Penso que não, pelo que ele me tem dito, mas nunca se sabe.)