quinta-feira, julho 10, 2008

Os Mistérios do ouro negro

Oil is the lifeblood of the global economy”, dizem os analistas económicos e infelizmente têm razão. Quando, no mês passado, em virtude da escalada imparável do preço do petróleo, os nossos camionistas entraram em greve, o país esteve à beira de paralisar e nos supermercados muitas prateleiras chegaram a esvaziar. Em situações de crise tomamos consciência como o petróleo moldou a nossa civilização. Sem petróleo não há carros, aviões, e barcos que transportem as mercadorias e sem petróleo, a gigantesca indústria química deixa de produzir o que hoje nos habituamos a consumir.

Richard Misrach, Bonnet Carré Spillway, Norco, Louisiana, 1998

Desde Janeiro deste ano, quando o preço do crude atingiu nos mercados de futuros os 100 dólares por barril, a escalda não mais parou, e o mundo entretêm-se em apontar culpados. Muitos acusam os produtores de acumularem chorudos lucros, os produtores acusam os especuladores, os especuladores culpam os países emergentes que fizeram elevar a procura, e bancos como a Goldman Sachs e o Morgan Stanley prevêem que o preço ultrapassará os 200 dólares por cada barril. Nada que se compare aos 600 dólares que Chakib Khelil, presidente do cartel da OPEP, prevê, se o Irão situado numa das chamadas “Danger Zones”, bloquear a artéria de navegação de um quinto do petróleo bruto mundial, o Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, se sentir ameaçado ou provocado, para cancelar o seu programa de enriquecimento de urânio. O especulador financeiro, George Soros, também já veio sentenciar sobre o assunto, segundo ele, com os preços actuais a economia americana não se livra de uma recessão e ultimamente a subida do preço tem sido atribuída à desvalorização do dólar, pois o petróleo, dizem, tem servido de cobertura ao dólar barato.

Richard Misrach, Hazardous Waste Containment Site, Plaquemine, Lousiana, 1998

Hoje as reservas petrolíferas da América no Mar do Norte e Golfo do México estão fortemente delapidadas devido a um século de extracção, e no Golfo as petrolíferas baixaram a produção em 34% em relação ao ano passado. Com escassas reservas o equilíbrio do petróleo mundial tornou-se demasiado precário. Mas apesar das reservas destes poços estarem a atingir o limite, no subsolo do mundo, as reservas de petróleo estão longe de estar esgotadas. Porque será que as companhias petrolíferas não reinvestiram o suficiente em perfurações para extraírem das cavernas profundas mais do precioso ouro negro? A incerteza dos futuros padrões ambientais, uma vez que uma nova refinaria representa um compromisso financeiro a 30 anos, afasta os investidores e nem mesmo os Árabes estão para incorrer em tais riscos.
E o preço elevado da gasolina e gasóleo que pagamos nas gasolineiras reflecte o actual equilíbrio precário entre a oferta e a procura. Uma falha na produção ou distribuição, muitos dos oleodutos estão à superfície e por isso são alvos fáceis de ataques terroristas, podem, segundo alguns analistas, causar uma verdadeira catástrofe económica porque já não há reservas suficientes que possam fazer face a tais calamidades.

Agora o homem vê-se perante a urgência de procurar e desenvolver energias alternativas não poluentes, que substituam o petróleo poluente, mas para muitos, qualquer solução já vem tarde.

Richard Misrach, Home, Destrehan, Lousiana, 1998

Com as consideráveis mudanças tecnológicas dos últimos anos, não deixa de ser um mistério, porque chegou o homem a este equilíbrio tão precário. Misteriosa é também as conclusões que lemos no documento da cimeira do G8 : "As capacidades de produção e de refinação deverão ser aumentadas no curto prazo". Como é que tal é possível no curto prazo?

Baton Rouge was clothed in flowers, like a bride – no, much more so; like a greenhouse. For we were in the absolute South now. From Baton Rouge to New Orleans the great sugar-plantations border both sides of the river all the way, and strech their league-wide levels back to the dim forest of bearded cypress in the rear. The broad river lying between the two rows becomes a sort of spacious street”, escreveu Mark Twain no seu clássico “Life on the Mississippi”, 1883.

Hoje o Mississipi, chamado “Cancer Alley”, pela percentagem elevada de doenças cancerígenas que aparecem na região, está longe da descrição de Twain.

Ricahrd Misrach, Roadside Vegetation and Orion Refining Corporation, Good Hope, Louisiana, 1998
Ao longo do rio, a outrora luxuriante vegetação desaparece engolida pelo cimento das refinarias e poluição, que matou milhares de árvores centenárias.

Ricahrd Misrach, Ashland Belle Helene Plantation, Acquired By SHELL Chemical, Geismar, Louisiana, 1998
As casas dos antigos ricos plantadores de açúcar, estão fechadas e pertencem a grupos petrolíferos, que em meados da década de 50 invadiram a região.

Richard Misrach, Holy Rosary Cemetery and Union Carbide Complex, Taft, Louisiana, 1998
Em Taft, uma petrolífera comprou a propriedade da Holy Rosary Church, construída em 1866. Uma nova igreja foi edificada perto de Hahnville, mas o cemitério foi deixado para trás.

Richard Misrach, Playground and SHELL Refiniry, Norco, Louisiana, 1998
Ao lado das refinarias construíram-se casas e escolas onde os odores e o barulho industrial são terríveis.

Richard Misrach, Swamp and Pipeline, Geismar, Louisiana, 1998
Não muito longe do Golfo do México, 12 000 Km de oleodutos atravessam terrenos hoje completamente intoxicados por lixos.

Richard Misrach, Revetment Sign and Hale. Boggs Bridge, West Bank, Mississippi, River, Luling, Louisiana, 1998
Em 1998, quando Richard Misrach fotografou a região, mais de 75 substâncias tóxicas foram encontradas na água do rio que alimenta um milhão e meio de habitantes só no Louisiana.

Richard Misrach, Norco Cumulus Cloud, SHELL Oil Refinery, Norco, Louisiana, 1998
Na cidade de Norco, acrónimo de New Orleans Refining Company, o nome original da primeira refinaria, mais tarde comprada pela Shell, as nuvens, chamadas “Norco cumulus”, ficam suspensas no ar, carregadas de hidrocarbonetos voláteis, originadas pelo processo de refinação do gasóleo e gasolinas. Depois do Texas, o Louisiana é o Estado com mais substâncias tóxicas no ar.

Richard Misrach, Abandoned Trailer Home, West Bank Mississippi River, Plaquemine, Louisiana, 1998
O homem transformou a paisagem numa enorme lixeira onde terá agora de sobreviver, e os grandes do G8, que discutem o tipo de desenvolvimento que pretendem para o nosso planeta não avançam com soluções.


Mas o maior mistério, que fica por explicar, é o que fizemos à Mãe Natureza que ficou à nossa guarda.

1 comentário:

Anónimo disse...

é ironico como se ouve falar em "terraforming" (fabricação de um ambiente humanamente sustentável) quando se fala por explo de marte, quando o que fazemos "cá" é exactamente o oposto - já lhe chamam "reverse terraforming".

arrepiante, a "Norco Cumulus Cloud".