terça-feira, julho 15, 2008

Histórias de Israel

Os testes com mísseis balísticos realizados recentemente no Irão fez aumentar a tensão na região do Golfo. No fim de semana, face às críticas e ameaças de retaliação vindas de Washington, Mojtaba Zoulnour, veio dizer que “os Estados Unidos sabem muito bem que ao mais pequeno movimento contra o Irão, Israel e 32 bases militares norte-americanas na região não estariam fora do alcance dos nossos mísseis e seriam destruídos”.

Quando em Maio Israel comemorou 60 anos de independência, o diário Jerusalém Post, resumia que a maior conquista de Israel, foi “permanecer no mapa como Estado soberano”, enquanto que Ehud Olmert, no parlamento, falou como um profeta: “nós, descendentes de Abraão, herdámos a terra, habitámo-la, fizemos o deserto florir, construímos e fizemo-lo glorioso”.
Passados sessenta anos, na Palestina, “uma terra sem povo para um povo sem terra”, no dizer dos sionistas, os israelitas construíram um Estado Moderno e a sua população de 800 000 em 1948,

Robert Capa, Israel, 1948


Robert Capa, Israel,Oleoduto Tel-Aviv-Beer Sheva, 1948

cresceu para os actuais 7 200 000 habitantes. Hoje é o contraste do milagre económico numa nação que nasceu e cresceu ao ritmo da guerra.

Em Bâle, criei o primeiro estado judeu. Se eu dissesse isto hoje publicamente”, escrevia Theodor Herzl no seu diário em 1897, “um riso universal seria a resposta. Talvez daqui a cinco anos, mas certamente daqui a cinquenta, todo o mundo compreenderá”. A premonição de Herzl estava certa, e com o fim da Guerra, os horrores dos campos de extermínio, que eram revelados ao mundo, aceleraram o processo. Com as casas ocupadas, os judeus que sobreviveram ao Holocausto, não tinham agora para onde ir. O povo de Isaac, reclamou então ao governo britânico, que dominava a Palestina, a abertura dos portões da sua terra - a Terra Santa. Porém os britânicos, não querendo ser responsáveis por um Estado Judeu no Médio Oriente, e contrariar a política e os interesses Árabes, rejeitaram tal proposta.
Em breve, a arrogância dos ingleses mudaria. A 18 de Julho de 1947, a marinha inglesa interceptava o navio “Exodus”, onde a bordo, 4.500 judeus clandestinos, eram obrigados a regressar. Proibidos de pisar a Terra Prometida, aguardavam nos navios quem os acolhesse – e o mundo ao ver tais imagens ficou chocado.

Robert Capa, Israel, Haifa, the arrival of new immigrants, 1948

Em desespero, Londres decidiu deixar a Palestina e o problema passou para a ONU.

Robert Capa, o fotógrafo judeu nascido na Hungria, sentiu que não podia perder aquele momento e pedira à revista Life, que o enviasse para a Palestina. Mas a Life decidira outros projectos, uma reportagem politica nas ilhas gregas. Capa não hesitou e em vez de Atenas, aterrava a 8 de Maio em Tel-Aviv. Instalou-se no Hotel Armon, em frente à praia, como tantos outros jornalistas. E em Tel-Aviv, nessa cidade cosmopolita,

Robert Capa, Israel, Tel-Aviv, 1948


Robert Capa, Israel, Tel-Aviv, 1948


Robert Capa, Israel, Tel-Aviv, 1948

entretinham-se à espera do grande dia.

A 14 de Maio de 1948, no dia em que as tropas britânicas se retiravam da Palestina,

Robert Capa, Israel, Haifa May 14th,1948. The British High Commissioner General Sir Alan Cunningham leaves eight hours after the declaration of Independence

Ben-Gurion, no museu de Tel-Aviv, sob o retrato do sionista Theodor Herzl, lia a declaração de independência do estado de Israel.

Robert Capa, Israel, Tel-Aviv,May 14th, 1948

A cerimónia, transmitida pela rádio – Kol Yisrael, a voz de Israel, logo provocou nas ruas uma explosão incontida na população hebraica. Para eles, tal declaração significava o fim de um périplo de dois mil anos à espera de um lar, e festejavam a nova nação, simbolizada na bandeira azul e branca com a estrela de David.

Robert Capa, Israel, Tel-Aviv, Celebrating Israel's Independence, 1948

Para Ben-Gurion, nomeado primeiro ministro, era apenas o começo. A contrapartida não se fez esperar, e imediatamente após a declaração de independência o Líbano, Síria, Egipto, Iraque e a Liga Árabe, mobilizavam 30 000 soldados, era o início do primeiro conflito entre árabes e israelitas.

Capa deixava Tel-Aviv, e seguia com as tropas para a linha de combate.

Robert Capa, May 1948. The Israeli government army (Haganah)


Robert Capa, May 1948. The Israeli government army (Haganah, along the central front

No deserto de Néguev, fotografou no kibboutz de Negba, a resistência ao avanço do exército egípcio,

Robert Capa, Israel, Negev, building the Negba settlement which was previous destroyed by Egyptian air attacks, 1948


Robert Capa, Israel, Negev, building the Negba settlement which was previous destroyed by Egyptian air attacks, 1948


Robert Capa, Israel, the wreckage of an Egyption Air Force spitfire shot down on May 15th, 1948

em Haifa a chegada de emigrantes judeus,

Robert Capa, Israel, Haifa, the arrival of new immigrants, May, 1948


Robert Capa, Israel, Haifa, the arrival of new immigrants, May, 1948

e a chegada dos novos emigrantes aos vários kibboutz.

Robert Capa, Israel, kibboutz, May 1948


Robert Capa, Israel, kibboutz, May 1948


Robert Capa, Israel, kibboutz, May 1948


Robert Capa, Israel, 1948, Refugees from Bulgaria, kibbutz of kefar Giladi

No comandante David Michael Marcus, que dirigia as forças israelitas entre Tel-Aviv e Jerusalém, na chamada estrada da Birmânia, Capa, como referiu mais tarde, reencontrava o mesmo espírito de entusiasmo das brigadas internacionais da guerra civil espanhola. Libertar Jerusalém, cercada pelos Árabes, antes de 11 de Junho, dia do cessar-fogo ordenado pela ONU e aprovado por ambos os lados, tornou-se imperativo. Dois dias antes, Capa entra em Jerusalém e fotografa as tropas israelitas, ainda em luta, entre edifícios em ruínas.

Robert Capa, Israel, Jerusalem, 9th June, 1948


Robert Capa, Israel, Jerusalem, 9th June, 1948


Robert Capa, Israel Jerusalem, 11th June, 1948, the first morning after the cease-fire

Para grande desgosto do fotógrafo, Michael Marcus morreria no dia da libertação da cidade Santa, abatido pelas suas próprias sentinelas ao esquecer-se de dizer o código quando entrava no recinto.

Robert Capa, June, 1948, Haganah soldiers carrying the coffin of colonel David Michael Marcus

Enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas preparava um novo plano de conciliação, foi estabelecido, que durante um mês, nenhum dos estados podia receber emigrantes nem qualquer tipo de armamento.

A 22 de Junho, ainda o período de cessar-fogo estava em vigor, o navio Altalena, comandado por extremistas de Irgun, atracava na praia de Tel-Aviv, com 500 emigrantes judeus e armamento. Anunciaram o desembarque, persuadidos que as forças de Ben-Gurion não disparariam contra os 500 judeus a bordo. Mas as forças militares intervieram e incendiaram o navio, desrespeitar o cessar-fogo era dar aos Árabes pretexto de novas retaliações. Na praia, antes de ser baleado num joelho, Capa fotografa os judeus a saltarem do navio já em chamas.

Robert Capa, Israel, Tel-Aviv harbor.The Altalena on fire, June, 1948


Robert Capa, Israel, Tel-Aviv harbor.The Altalena on fire, June, 1948

Comentará entre os amigos, “seria o cúmulo, ser morto por judeus”.

Em 16 de Junho de 2002, o arame farpado que dividia as fronteiras em 1948,

Robert Capa,Israel,a divided sector of an Arab/Israeli village with barbed wire borderline, 1948


Robert Capa,Israel,a divided sector of an Arab/Israeli village with barbed wire borderline, 1948

é substituído pelo “muro de apartheid” como lhes chamam os palestinianos.


Robert Capa, Jerusalem, Sham's neighourhood, June 1948

Passados 60 anos da libertação de Jerusalém, o preço do conflito,

Detalhe

uma guerra sangrenta sem fim à vista.

2 comentários:

Anónimo disse...

sinal dos tempos? http://thelede.blogs.nytimes.com/2008/07/10/in-an-iranian-image-a-missile-too-many/index.html?hp

Madalena Lello disse...

Tomé, obrigado por deixar o link, que nos remete para a tão falada falsificação das fotografias dos mísseis. Em relação à fotografia que publico neste post sobre os mísseis no Irão, é da Reuters e retirei-a da internet, não me recordo em que site, mas dois dias antes das outras serem publicadas, aliás, curiosamente nesse dia o petróleo ainda continuava a sua tendência de descida, e foi o absurdo dessa situação que me levou a guardar a imagem. Dois dias depois veio a questão da falsificação, e quando as vi publicadas pensei, a que eu guardei não tem nada a ver com estas...talvez tb seja outra falsificação.