Na semana passada, Durão Barroso e dirigentes da União Europeia reuniram-se em Khanti-Mansiisk, cidade siberiana, símbolo do poderio energético russo, onde anunciaram ter chegado a um acordo para lançar as negociações de um novo pacto estratégico entre a UE e a Rússia. Um dos sinais de mudança, lia-se nos jornais, foi a forma como a Rússia recebeu os altos representantes da UE, que “foram presenteados à chegada ao hotel com um livro de fotografias tiradas por Dmitri Medvedev: imagens que incluíam querubins italianos, um barco a remos num lago de águas turquesa, patos e várias paisagens delicadas”. Contudo, os jornais preferiram ilustrar a cimeira, não com as fotografias de Medvedev descritas, mas com as já vistas e revistas caras de Durão Barroso e Medvedev. Na Internet, em oposição, as fotografias que ilustram as notícias da actualidade são, invariavelmente, muito mais sugestivas e interessantes, como esta, da agência Reuters,
que ilustrava, num site económico um texto sobre o novo fundo soberano russo.
“O que se passa em Moscovo”, diz o arquitecto e fotógrafo Richard Pare, “é inconcebível. A especulação imobiliária está a ser uma verdadeira catástrofe para a cidade, pois estão a deitar abaixo edifícios anteriores a 1812, e a estrutura urbana está a ser completamente demolida”. Os guindastes da fotografia anterior, espalhados pelo centro da cidade, são sinais dessa rápida transformação.
O interesse em fotografar a inovadora arquitectura modernista soviética, 1922-32, hoje, muitas dessas obras, em estado avançado de degradação, levou Pare, desde 1992, a passar largas temporadas na Rússia. As transformações sociais e urbanísticas, nesse período, impulsionadas pelos planos Quinquenais de Lenin, levaram ao país muitos arquitectos europeus de renome, Eric Mendelsohn,
Richard Pare, Red Banner, Leninegrado, fábrica de Eric Mendelsohn
Le Corbusier
Richard Pare,edifício Centrosoyuz, Moscovo, Le Corbusier
…aos quais foi encomendado a construção de fábricas e edifícios de habitação.
Nesses anos, Moscovo, a capital da nova união das repúblicas soviéticas, deixava de ser uma cidade do passado, como fotografou Peter Pavlov dez anos antes,
Peter Pavlov, View of Red Square, Moscow, 1900-1910
Peter Pavlov, View of the Kremlin, Moscow 1900-10
para passar a ser a nova Moscovo do aço.
A Torre de Rádio, na rua Shabolovka da cidade, foi a primeira grande estrutura a ser construída, 1922, depois da revolução bolchevique. No plano original do engenheiro Vladimir Shukhov, a torre teria 350 metros de altura, mas acabou reduzida a 150 metros, porque a Moscovo do aço, não tinha aço suficiente para tanta conquista em altura. E muitos foram os projectos, por limitadas as disponibilidades de materiais para a construção de tão arrojadas construções futuristas, que acabaram por permanecer só no papel. Em 1998, Pare, fotografou a torre assim:
Richard Pare, Radio Tower, Moscow, 1998
Á época, cineastas e fotógrafos mostravam o sucesso da modernidade urbana socialista e Moscovo como o epicentro, tanto no que respeita ao planeamento urbanístico como à vida quotidiana. Mikhail Kaufman, no seu filme "Moscovo", 1927, filma a torre em várias perspectivas e Rodchenko fotografa-a também em múltiplos ângulos.
Alexander Rodchenko, Torre de Suchov, 1929
Alexander Rodchenko, Torre de Suchov, 1929
Alexander Rodchenko, Torre de Suchov, 1929
Para a sua série “Nova Moscovo”, que nunca chegou a sair em livro, Rodchenko, publicitava as novas habitações construídas, como reacção à ideia falhada de instalar habitações comunais em velhos edifícios nacionalizados pelo governo. Um novo modo de vida social só podia ser conseguido com habitações comunais concebidas especialmente para esse efeito. Este complexo habitacional comunal na rua Novinskii, residência para os trabalhadores da Narkofin, e construído em 1930 por Ignatii Milinis,
Alexander Rodchenko, Edifício Ginsburg, Moscovo,1932
a fachada é fotografada em diagonal para acentuar a sua pronunciada configuração horizontal, os relevos da estrutura e a abundância de janelas. Mas Rodchenko também nos leva ao interior, onde uma residente, sentada à mesa bebe o seu chá.
Alexander Rodchenko, Interior do edifício Ginsburg,Moscovo, 1932
A mesa posta para mais pessoas, sugere a vivência comunal.
Mas para além das fábricas e das habitações, outros modelos foram construídos para as actividades conjuntas dos trabalhadores, como as cozinhas comunais,
Alexander Rodchenko,Letreiro da cozinha da fábrica, 1931
Alexander Rodchenko, Edifício da cozinha da fábrica, 1931
Alexander Rodchenko, Cantina da fábrica, jantar, 1931
locais de lazer, como os cinemas,
Richard Pare, B.Iofan, Udarnik Cinema, Moscow
e os clubes de trabalhadores, onde debaixo do mesmo tecto, várias actividades se conjugavam, como teatro, salas de aula, reuniões, trabalho.
Pare fotografa o clube Zuev,
Richard Pare, Zuev Worker's Club, Moscow
construído por Ília Golosov, que se inspira nas diferentes actividades propostas para o edifício. Na vertical um cilindro em vidro equilibra-se com os rectângulos maciços numa composição cujo resultado final é bastante assimétrico.
Rodchenko escolhe o clube Rusakov, construído por Konstantin Mel’nikov em 1929. A fotografia do exterior, foca a arquitectura claramente inovadora do edifício.
Alexander Rodchenko, Clube Rusakov, 1929
Noutra Rodchenko fotografa numa vista de pássaro o espaçoso auditório em diagonal.
Alexander Rodchenko, Clube Rusakov, Auditório,Moscovo, 1929
Vazio, o auditório mostra a sua grande escala espacial e os pormenores arquitectónicos.
Enquanto URSS, o Ocidente julgou Moscovo, uma cidade de operários
Semion Fridland, 1953
A.Mokletsov, Stalin metal works, 1951
que assistiam no 1º de Maio, na praça vermelha, às faustosas paradas militares.
Victor Akhlomov, Red Square series, 1975
Victor Akhlomov, Red Square series, 1975
Victor Akhlomov, Red Square series, 1975
Hoje, quem visita Moscovo vê uma cidade de contrastes. Destrói-se o antigo
George Pervov, Moscow, 2003
para construir o novo,
Yuri Avvakumov, Building site on the 2nd Brestskaya, Moscow, 2000
mas também se restauram as igrejas, como esta de São Nicolau.
Yuri Avvakumov, St.Nicolas Church on the Bolvanovka, Moscow, 2000
Sergei Chilikov fotografou Moscovo, em 1984. Passados 18 anos, em 2002, voltou aos mesmos sítios.
Sergei Chilikov, Moscow, 1984
Sergei Chilikov, Moscow, 2002
Sergei Chilikov, Moscow, 1984
Sergei Chilikov, Moscow, 2002
Sergei Chilikov, Moscow, 1984
Sergei Chilikov, Moscow, 2002
Será que os contrastes são assim tão grandes?
quarta-feira, julho 02, 2008
A Nova Moscovo
Etiquetas:
Cidades/Subúrbios
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