A crise económica mundial, que nos preocupa a todos, é hoje debatida na cimeira do G8, que tem lugar no Japão. Os dirigentes dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, reúnem-se para tentar encontrar respostas urgentes à série de crises, cuja resolução está dependente de uma cooperação internacional: a escalada imparável do preço do petróleo, a subida dos bens alimentares, o combate às alterações climáticas, as tensões entre Israel e o Irão, as eleições no Zimbawe…
“Clubs are all too often full of people prattling on about things they no longer know about”, lemos no “The Economist”, deste fim de semana. Para os analistas da revista, não é só o “club” G8 que é antiquado e impotente, a generalidade das instituições internacionais tem-se revelado ineficazes na resolução dos problemas que proliferam num mundo que se globalizou. A necessidade de reformar estas instituições, é um problema que já há algum tempo preocupa os analistas, e de facto, como é possível tentar resolver a escalada imparável do petróleo sem os representantes da OPEP na cimeira do G8?
Robert Polidori, Kuwait Exchange #1, 2007
Mas se hoje o G8 é impotente porque exclui países como a Arábia Saudita, a China, a Índia…verifica-se contudo, que quando todos são chamados, como no 19º Congresso Mundial do Petróleo realizado em Madrid na semana passada, onde se reuniram mais de 3000 analistas de 60 países, o consenso está longe de existir. E sempre que surgem problemas de elevado risco, como a actual escalada do preço do petróleo, aumenta a pressão política para regulamentar a indústria, como a proposta absurda do ministro espanhol que avançou com reformas para os mercados de futuros de forma a desincentivar a entrada de fundos institucionais. Absurdas, porque impor uma série de regulamentos, implica que as economias mundiais só piorariam com essa situação e a escalada do preço do arroz é um exemplo. Matéria prima que não é transaccionada no mercado de futuros, o arroz subiu, por isso mesmo, muito mais que o preço do crude ou de qualquer outro bem alimentar. Quando, há semanas atrás, a China ameaçou proibir a exportação deste bem, quem não correu ao supermercado a comprar arroz a preços impensáveis? Em 2007, a Índia, quando confrontada com a crescente inflação dos produtos alimentares proibiu as exportações de trigo durante o resto do ano e suspendeu a comercialização de futuros para refrear a especulação. Em lugar de deixar subir os preços para desencadear um aumento da oferta e consequentemente baixar o preço, o estado acabou a gastar milhares em subsídios.
Nos últimos anos, o mundo assistiu e assiste a grandes mudanças a nível económico. China, Índia, Rússia e Países do Leste Europeu, deixaram para trás uma economia planificada e seguem, ainda com significativas diferenças, para uma economia de mercado.
Em 1978, com Deng Xiaoping, a China pôs em marcha reformas ousadas que a transformaram de uma isolada economia agrária de planeamento central para uma economia de mercado livre. A abertura à concorrência, primeiro na agricultura, passou depois para a indústria e finalmente para a abertura ao comércio e ao sistema financeiro internacional.
Robert Polidori, Pudong, Shangai, China
Se hoje muitos chamam ao Partido Comunista Chinês, Partido Capitalista Chinês, Xiaoping preferiu chamar-lhe “socialismo com características chinesas”. Hoje, a China, o segundo maior consumidor de petróleo, evoluiu, de forma gradual, da economia da bicicleta para um país que produz sete milhões de veículos ano.
Robert Polidori, Pudong, Shangai, China
Os arranha-céus proliferam, e nas cidades a prosperidade conduziu a cultura chinesa a uma cultura de consumo que contrasta com uma ainda acentuada pobreza rural.
Robert Polidori, Pudong, Shangai, China
Na Índia, o esforço em se libertar de uma burocracia sufocante, instaurada por Jawaharlal Nehru, tem ocupado os políticos nos últimos anos. Em 1991, o primeiro-ministro Rao começa por simplificar a burocracia, de autorizações, licenças, carimbos…necessários para qualquer acto económico.
Robert Polidori, Chandigarth, India
Hoje, a cidade de Bangalore, saltou do século XX para o século XXI, onde as indústrias de tecnologia de informação e serviços, a projectaram a nível internacional. Mas a Índia rural, com mais de 250 milhões que vivem com menos de um dólar por dia, está ainda mergulhada num nível de pobreza desolador.
Robert Polidori, Chandigarth, India
Na Rússia, a abertura - a glasnost, foi iniciada nos anos 80 com Gorbachev. Para ele, a urgência da necessidade de abertura foi-lhe transmitida pelos acontecimentos catastróficos de 26 de Abril de 1986. Nesse dia, à 1:23 da manhã, o 4 reactor de Chernobyl explodia, lançando para a atmosfera 120 milhões de material radioactivo.
Robert Polidori, Guards in front of the unit 4 sarcophagus,Junho 2001
A nuvem de poeiras foi levada para a Europa Ocidental e Escandinávia e expôs cerca de cinco milhões de pessoas aos seus efeitos.
Robert Polidori, Classroom in kindergarten #7,Pripyat, Chernobyl,Junho 2001
Robert Polidori,Operating Room in Hospital #126, Chernobyl, Junho 2001
O desastre não se podia manter secreto e obrigou Gorbachev não só a fazer uma declaração pública, duas semanas depois, como a pedir ajuda de técnicos estrangeiros.
Robert Polidori, Chernobyl.Engineering Team of the Unit 3 Reactor, 2001
Em Maio de 1989, o país tinha as primeiras eleições livres e os países da Europa de Leste estavam agora por sua conta.
Robert Polidori, Casa Poporului, Bucharest, Romania
Na Roménia o ditador Nicolae Ceausescu e a mulher, que viveram num fausto eram raptados e liquidados.
Robert Polidori, Interior, Villa Primavera, Bucharest, Romania
O mundo mudou, globalizou-se - o mercado livre impôs-se ao planeamento económico, e o nível de vida de centenas de milhões de pessoas aumentou. Passaram a consumir mais petróleo, a alimentar-se melhor, enfim a viver melhor mas simultaneamente a poluir mais.
Quando no Verão de 2005, o furacão Katrina atingiu Nova Orleães,
Robert Polidori, 2732 Orleans Avenue, New Orleans, Louisiana, Setembro, 2005
os complexos petrolíferos do Louisiana foram também atingidos, e os preços da gasolina e gasóleo dispararam. A crescente procura de petróleo, num mundo que se tornava cada vez mais globalizado, foram delapidando a maior parte das reservas mundiais. Em 2005, o encerramento das petrolíferas no Louisiana deram o alerta da precaridade do equilíbrio do petróleo mundial, o mundo já não tinha reservas para fazer face a tal calamidade.
Robert Polidori, 800 North Robertson Street, New Orleans, Janeiro 2006
Na fotografia, a paisagem é um aferidor, e as paisagens que Robert Polidori nos mostra, elucida-nos em que tempo vivemos. Tudo vemos na televisão que esquecemos umas semanas depois, mas a fotografia não deixa apagar a memória. Polidori, não se passeia pelo mundo a cumprir encomendas de prestígio, as suas reportagens metódicas, sobre metrópoles em transformação, o desastre de Chernobyl quinze anos depois, a cidade de Nova Orleães dias depois do dilúvio, mostram os riscos do mundo em que vivemos, e que normalmente os políticos não gostam que se saiba.
Todos nós adaptamos rapidamente a melhores níveis de vida, e se o progresso abrandar, sentimo-nos defraudados, e reclamamos como pode subir o petróleo e os bens alimentares desta maneira, sempre na esperança que o nosso nível de vida não mude num mundo que não pára de mudar. Procuramos ouvir novas explicações que nos tranquilizem, caso contrário escolhemos novos líderes. Gerir todas estas mudanças e propor soluções não é um fardo fácil para os oito que hoje se encontraram no Japão, mas nós aguardamos com expectativa que eles nos digam algo de tranquilizador.
Aqui alguns dos tópicos debatidos na cimeira, e aqui o site da cimeira.
segunda-feira, julho 07, 2008
O Mundo em crise
Etiquetas:
Política
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário