segunda-feira, maio 19, 2008

"Elementos": terra, água, fogo e ar, de José Manuel Rodrigues

Estou muito interessado em fotografar aquilo que não vejo, aquilo que está atrás de mim, atrás dos meus olhos, e, de certa medida, utilizo os meus modelos, utilizo até a própria natureza também para me encontrar a mim próprio”, confessa José Manuel Rodrigues, numa entrevista para a exposição “Elementos” que há dias inaugurou numa nova galeria de fotografia, a Pente 10, na Travessa da Fábrica dos Pentes, lá para os lados do belíssimo jardim das Amoreiras.

José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008

A Europa interessa-me, a Europa na actualidade interessa muitos fotógrafos, para Paulo Nozolino, a Europa foi o primeiro território que começou por explorar, “quero aprofundar a carga histórica associada à Europa. É isso que me pode ajudar a montar o “puzzle” que ando a construir há anos…”, hoje, mais uma vez, o saisdeprata-e-pixels vai continuar na Europa, mas numa Europa diferente, não numa Europa registada em viagem, mas a Europa de J. M. Rodrigues.
José Manuel Rodrigues, Évora, 1997

Em 1971, J. M. Rodrigues visitou a mãe no Canadá, “passado mês e meio percebia que era irrevogavelmente um europeu” e regressou. Dividiria a sua vida entre o Alentejo, onde nasceu, e a Holanda, ambas terras de horizonte baixo, paisagem de maravilha de silenciosas planícies, onde a perfeita harmonia entre o Homem e a Natureza, nessa Natureza ainda não destruída, o conduzem a uma união de intimidade, a uma união de uma tal plenitude, na qual J.M. Rodrigues se banha e imerge, em toda a sua força e beleza.
José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008

As profundezas do nosso espírito nos são desconhecidas. O caminho misterioso vai em direcção ao interior. É em nós e em nenhum outro lugar, que está a eternidade com seus mundos, o passado e o futuro”, Novalis.

As fotografias de J.M.Rodrigues, despertam em nós uma outra força de visão, um outro poder, muitas vezes ignorado na nossa vida quotidiana.

Da mesma forma que, durante a rotação diária da Terra sobre seu eixo, uma metade do planeta está às escuras e a outra metade iluminada, a mesma alternância, negativo-positivo,
José Manuel Rodrigues, em exposição na galeria Pente10, Lisboa, Maio 2008
surge constantemente nas fotografias de J.M.Rodrigues, rostos de pálpebras fechadas, rostos de olhos abertos,
José Manuel Rodrigues, Évora, 1981
José Manuel Rodrigues, Évora, 1981
muralhas de pedra fechadas sobre si mesmas, duras e secretas, um céu aberto: “Tenho uma fotografia em que tentei voar, que eu gosto muito”.
José Manuel Rodrigues, Amsterdam, 1982
José Manuel Rodrigues, Amsterdam, 1984
Ao olhar para a sua obra, nós, espectadores, penetramos e ultrapassamos camadas e camadas duma outra água, água que “pela sua fluidez, pelo seu reflexo, é como a continuação da objectiva e é soft, tem esta coisa especial de reflectir e mudar continuamente”, até que chegamos ao fundo, ao interior, onde descobrimos outras regiões, outras dimensões, a abolição do Espaço e do Tempo. “A minha fotografia também é um espelho do caos da minha existência.”

São quatro os “Elementos”: terra, água, fogo e ar, quatro, o número mágico da ciência.
José Manuel Rodrigues, Quatro provas de halogenetos de prata, Amsterdam, 1986

2 comentários:

Anónimo disse...

Madalena:
Obrigado, Madalena, pelas palavras que deixou no Ultraperiférico e por me avisar deste seu post. Tenho seguido a série sobre a Europa e, na verdade, a ponte com JMR é muito feliz. Gosto muito também das imagens mais antigas escolhidas por si para intercalar as fotografias da exposição. São imagens inesquecíveis.

Anónimo disse...

imagens inesquecíveis???
devem estar a gozar?
mau, deveras muito mau!