Controlar a inflação é a preocupação central do Banco Central Europeu. Com a excessiva valorização do euro face ao dólar, o BCE resiste a baixar as taxas de juro. A inflação que hoje assola o mundo, não é só preocupação dos Europeus. Nos países em vias de desenvolvimento, as chamadas economias emergentes, a inflação já subiu para os níveis assustadores da casa dos dois dígitos. O paralelismo da actual crise económica com os anos inflacionistas da década de 70, levam os analistas a recear, como o artigo "An old enemy rears its head" publicado na revista "The Economist" de 24 de Maio, que as economias emergentes repitam os erros do passado.
Na Europa dos anos 70, uma brusca e sustentada quebra económica, que se seguiu a anos de abundância, transformaram-na na década mais desencorajadora do século XX. O fascínio por mudar o mundo e pelas ambições colectivas que caracterizaram os anos 60 eram esquecidas, e em lugar crescia uma obsessão com as necessidades pessoais, a procura de um emprego.
A explosão consumista dos anos sessenta aumentara a dependência da Europa do petróleo barato, milhões de novos carros circulavam nas auto-estradas. Em 1973 o embargo do petróleo dos Estados árabes aos EUA, em retaliação pelo apoio a Israel, aumentou o preço em 70%, em 1979, seria a queda do Xá do Irão a provocar uma subida de 150% no seu preço. Os carros não funcionavam a carvão, e a Europa Ocidental começou a sentir a estagflação ou seja, inflação de salários/preços e abrandamento económico em simultâneo. O espantoso é que passado 40 anos, a dependência do mundo pelo ouro negro pouco mudou.
Mas nos anos 70, no espaço de uma geração, para além da inflação causada pela crise petrolífera, a Europa passava por uma terceira revolução industrial e a economia da manufactura desaparecia, os mineiros e os operários das fábricas perdiam o emprego. Em 1947, o Reino Unido contava com 958 minas de carvão e 720 000 mineiros, só 50 minas se mantinham em finais dos anos 70, e dos mineiros só ficaram 43 000.
Um suíço, Robert Frank, ainda no auge da produção de carvão, 1951-53, viajou para o País de Gales e fotografou a vida de Ben James, mineiro desde os 14 anos de idade, na aldeia de Caerau, mina que encerraria em 1979. Desde que abrira, em 1889, a vida repetia-se de geração em geração, onde os homens desciam às profundezas da terra em busca do carvão.
Nacionalismos? a resposta é sim no que respeita à fotografia britânica, pois eles foram os primeiros a fotografar a miséria com intuitos reformadores e na década de 70, a recessão que provocava o desemprego em todas as indústrias tradicionais: carvão, ferro, aço, químicos, têxteis, papel…alastrou a miséria pelo país. Chris Killip,
O espantoso foi a falta de visão e de alternativas dos políticos na década de 70, que se agarraram ao Estado-providência constituído no pós-guerra: aumentaram os salários mas simultaneamente sujeitaram os trabalhadores a uma enorme carga fiscal, aumentaram as transferências sociais para os que não tinham trabalho e subsidiaram os patrões com problemas, tanto no sector privado como no público, pagando para estes manterem trabalhadores que não necessitavam. Todas estas medidas ineficientes levaram não só ao descontentamento geral da população, as greves sucederam-se, como ao desastre deste Estado-providência, cujos serviços de segurança social entraram numa quase pré-ruptura.
No decorrer desses anos, sem conseguirem actuar contra o desemprego e a inflação, as democracias demonstraram terem perdido o controlo do seu destino, no Reino Unido falava-se mesmo da “insuficiência das democracias”. Hoje a generalidade dos europeus desconfia dos políticos e os analistas receiam que os políticos das economias em desenvolvimento cometam os mesmos erros do passado.
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