Harry Gryaert, Região Picardy, França, 1991
não percebera que na Europa os preços agrícolas já estavam inflacionados.
Recentemente o mundo acordou assustado, olhou em volta, e gritou: CRISE ALIMENTAR.
Paul Graham, New Europe, 1986-92Ontem, num comunicado coordenado por Durão Barroso, a Comissão Europeia, num sinal de nervosismo com a crise alimentar convidou os líderes europeus a discutir a fundo o problema em Bruxelas, e acusam os especuladores como os principais culpados na espiral de preços.
É certo que hoje, ao olhar para uma carteira de activos de um investidor, contractos de futuros sobre o café, açúcar, trigo, milho,…substituem as acções de empresas. Hoje os gestores compram mercadorias agrícolas a prazo como há uns anos atrás investiam nas dot.com.
Ciência, investigação, energia, eram há um ano, as novas prioridades da União Europeia, as novas áreas que iriam substituir a agricultura como a grande fatia da despesa comunitária. De repente, a União Europeia aparece como deficitária na produção agrícola e incapaz de aliviar os preços, a culpa é dos especuladores dizem, e o trigo volta à mesa das preocupações.
Martin Parr, 1985
Para os analistas são vários os factores que justificam a subida dos preços das mercadorias agrícolas: a seca prolongada nos dois últimos anos na Austrália,
Nick Noir, Tempestade de Areia, Uma herdade abandonada em Ivanhoe, durante uma tempestade de areia em 2002. Esta zona da Austrália está em regime de seca desde 2001, forçando o abandono de muitas propriedades.
a má colheita europeia de 2007, a redução dos “stocks” nos celeiros americanos
Larry G. Blackwood, Great Plains
Larry G. Blackwood, Great Plains
Larry G. Blackwood, Great Plains
e chineses, o aumento do consumo de carne na China e na Índia, que fizeram aumentar de forma indirecta a procura de cereais, a produção do etanol nos Estados Unidos, que absorveu um terço da produção do milho e que levou simultaneamente ao detrimento da cultura do trigo e da soja.
A Europa, que agora se mostra assustada e incapaz de qualquer medida para fazer baixar os preços, mostrou sempre uma incapacidade na sua Política Agrícola Comum –PAC. Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra, programas para ajudar e encorajar os agricultores foram implementados. Henri Cartier-Bresson ilustra esta reportagem, Paris Match 1960, com imagens que segundo as legendas irão em breve desaparecer, a mecanização e a prática do ski irão transformar estas regiões.
"Sa vache unique est pour ce petiti fermier à la fois un gagne-pain et une amie. Beaucoup sont dans le même cas sur les hauts de Meuse où, sur les tas de fumier qui bordent les rues, grattent des coqs orgueilleux", fotografia de Henri Cartier-Bresson, Paris Match, 1960
"Comme au temps les plus lointains, l'homme et la femme travaillent au pas lent des boeufs de labour. Nous sommes dans une vallée de la Dordogne. C'est l'image même de la patience paysanne devant la nature toujours recommencée. Bientôt, ce tableau traditionnel de la vie paysanne aura disparu. Déjà, dans de nombreuses régions, il est difficile de trouver des boeufs pour le travail", fotografia de Henri Cartier-Bresson, Paris Match, 1960
"En montagne, on monte encore dans une charrue primitive pour labourer à haute altitude de minuscules parcelles. Le tourisme et le ski apportent dans ces valées qui se dépeuplent une nouvelle vie", fotografia de Henri Cartier-Bresson, Paris Match, 1960
"L'irrigation permet de faire, de maigres champs, des terres fertiles. Par elle les pays du soleil, hier défavorisés, retrouvent la place prépondérante", fotografia de Henri Cartier-Bresson, Paris Match, 1960
"Cette extraordinaire photo, c'est déjà le passé", fotografia de Henri Cartier-Bresson, Paris Match, 1960
Para reduzir a dependência das importações pagas em dólares, dava-se maior ênfase ao aumento da produção em detrimento da eficiência. O governo garantia protecção e sustentação dos preços, e Cartier-Bresson, o fotógrafo do preto e branco, fotografava a cores a França rural. A cor representava o recomeço de uma nova vida, o preto e branco, como mostram as últimas páginas da reportagem, representava um passado que estava a acabar. A França, hoje o país que recebe mais subsídios agrícolas da UE, passou não apenas de auto-suficiente como a ter excedentes alimentares. A promessa de apoios continuados aos preços e o compromisso dos parceiros europeus de comprar a produção excedentária, levou os franceses a aceitarem favoravelmente o Tratado de Roma, e é este o pano de fundo da famosa Política Agrícola Comum, inaugurada em 1962. Á medida que os preços europeus fixados subiram, toda a produção alimentar da Europa tornou-se demasiado cara para competir no mercado mundial. Em 1970, a agricultura custava 70% do orçamento da Comunidade Económica Europeia, hoje custa-nos 40%. Isoladamente, nenhum país poderia manter este conjunto de políticas absurdas, mas ao transferir os encargos para a Comunidade no seu todo, a cada governo interessava obter os ganhos pelo menos a curto prazo, e é esta a mentalidade que perdura. A PAC acabaria por distorcer o mercado alimentar mundial, exportando excedentes subsidiados e desestimulando a produção nos países em desenvolvimento, e hoje vemos o que se passa em África. Aos agricultores europeus pagou para não produzirem. Agora Bruxelas discute propostas de revisão da PAC e tenta eliminar entraves à produção. Para os ingleses, sob a voz do ministro Alistair Darling, a PAC é a grande responsável pela alta de preços actuais, pois para eles é inaceitável os elevados direitos alfandegários sobre numerosas matérias primas agrícolas. A França, o maior beneficiário, pretende também alterar a forma como são hoje dados os subsídios, “devem ser dados em função da produção e não do número de hectares, isso estimulará a produção”, dizem. Mas os burocratas de Bruxelas, com as novas regras de segurança e higiene, encontraram uma forma de tornear as regras do comércio livre, criando com essas regras excessivas, uma barreira para evitar importações de terceiros países.
A culpa é agora dos especuladores, o que comprova mais uma vez a sua incapacidade para perceber o que provocaram e o que se está a passar nos mercados alimentares, e é esta a política agrícola da nossa União Europeia…
1 comentário:
A imagem dos bois a puxar o arado desapareceu de facto do mundo mecanizado. O progresso conduziu ao divórcio do homem e da natureza. Os operários submeteram os camponeses. A indústria submeteu a agricultura. O turismo condiciona a paisagem. A mecanização submete a vida. O homem sofre. E já não sabe sequer porquê. As fotografias de Bresson a cores são muito sugestivas.
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