“Mujer, etcétera. Moda y mujer en las colecciones” é mais um livro editado pela Foto Colectania que acompanha a exposição com o mesmo nome, click aqui para obter informações da exposição. Não vi a exposição e não é provável que a veja, mas a Foto Colectania desde que abriu as suas portas no nº 6 da Julián Romea em Barcelona, já nos habituou aos excelentes livros que acompanham as exposições que organiza, e “Mujer, etcétera” é mais um.
A exposição não retrata só a mulher enquanto ”montra da moda”, alguns retratos estão fora desse contexto, como a fotografia de Varvara Stepanova, tirada pelo marido, Alexander Rodchenko e esta fotografia de Martin Munkacsi que foi primeira página de uma revista berlinense.
Martin Munkacsi, Sonnenbaden, 1929, 50 x 39,8 cm, retirada do livro "Mujer etcétera"
Em “Mujer, etcétera” podemos ver várias fotografias de Munkacsi e é ele que me leva a Carmel Snow, uma mulher que na sua época foi visionária do mundo da moda. “Mujer etcétera” trata como refere o sub título do livro e exposição, da moda e da mulher, e seria difícil encontrar melhor oportunidade para escrever sobre Snow, a irlandesa de Dublin que emigrou para Nova Iorque e se apaixonou pela moda.
Walter Sanders, Brodovitch no chão e Carmel Snow na secretária, na Harper's Bazaar, 1952
Quando escrevi sobre Alexey Brodovitch, pensei contar a história como Snow o contratara em 1934 para a famosa Harper’s Bazaar, mas por vezes a escrita atropela o que pensámos e Snow e o contracto ficaram de fora. Hoje não vou deixar de fora e vou contar como Snow contrata, não Brodovitch, mas o fotógrafo Munkacsi para trabalhar na Harper’s Bazaar.
Convidada em 1933 pelo próprio William Randolph Hearst, para editora da revista Harper’s Bazaar, Snow deixa a rival Vogue, de Condé Nast’s onde trabalhara anos com
o turco Mehemed Fehmy Agha e que com ele aprendera “to look for life”. Ainda na Vogue Edward Steichen, na altura director de fotografia da revista, lembra-se da atitude inovadora de Snow “the photographer should have whatever he required, and no questions asked”. A moda estava a mudar e Snow aceita o desafio, sabe o que quer e é a oportunidade “to get some fresh air in the book”, como recordará mais tarde na sua autobiografia. “Fresh” e “inventive” eram as fotografias de Munkacsi, um húngaro cujas fotografias vira em “Die Dame” a revista alemã equivalente à Vogue. Munkacsi iniciara a sua carreira como fotógrafo de um periódico de Budapeste,"Az Est". Mas em 1927 deixa Budapeste por Berlim onde trabalha para o grupo Ullstein.
Martin Munkacsi, Berliner Illustrirte Zeitung, Pesti Napló, 1927
“I remember my joy at thinking, this man is here!”, o homem é Munkacsi, e por sorte estaria em breve em Nova Iorque, em trabalho para o grupo alemão. Munkacsi, ainda segundo as memórias de Snow, “who had never taken a fashion picture in his life”, mal pisa Nova Iorque é contratado por ela para fotografar uma sessão de fatos de banho para a revista. Mas nada melhor do que ler o que Snow escreveu ao recordar-se desse famoso dia: “The day I took those two Hungarians to the Piping Rock Beach is a day I will never forget. The model was Lucile Brokaw, the first of the ‘society’ models that I found. The day was cold, unpleasant, dull – not at all auspicious for a ‘glamourous resort’ picture. Munkacsi hadn’t a word of English, and his friend seemed to take forever to interpret for us. Munkacsi began making wild gestures. ‘What does Munkacsi want us to do?…’ It seemed that what Munkacsi wanted was for the model to run toward him. Such a ‘pose’ had never been attempted before for fashion (even ‘sailing’ features were posed in a studio on a fake boat), but Lucile was certainly game and so was I. The resulting picture of a typical American girl in action with her cape billowing out behind her, made photographic history…Munkacsi’s was the first action photograph made for fashion, and, it started the trend that is climaxed in the work of Avedon today”.
Depois da sessão fotográfica,
Martin Munkacsi, first fashion photograph (of model Lucile Brokaw), Harper's Bazaar, December 1933
Hearst chama Snow a San Simeon, hoje visita turística de referência na Califórnia,
para discutirem o trabalho de Munkacsi. Este não só é contratado como convidado de Hearst em San Simeon. Mas as boas graças com Hearst serão breves. Num dos fins-de-semana, em San Simeon, Munkacsi pede autorização para fotografar Marion Davies, a dona da casa.
Marion Davies, é fotografada num dos terraços da casa com um fato de organza franzido, parecendo uma bonequinha que se coloca no topo de um bolo de noiva.
Martin Munkacsi, Marion Davies, San Simeon, Califórnia February 1934
Hearst não gostou, Munkacsi não passava de “just a snapshot photographer” e demite-o. Snow resiste a Hearst mas Munkacsi regressa a Berlim. Mas Snow não desiste, percebera o novo espírito “lifestyle” do seu tempo, a moda nos anos 30 estava a mudar e representava as novas maneiras de viver, e as fotografias de Munkacsi eram indispensáveis para o sucesso da revista. Por outro lado, Berlim, cidade outrora irresistível, onde energia e liberdade transbordavam, tornava-se com o fim da República de Weimar numa cidade enclausurada. Antes de partir para a américa “Having fun at Breakfast” é uma ironia de Munkacsi,
Martin Munkacsi, "Having Fun Breakfast", Berlim, c.1933
um homem enclausurado num quarto, só lhe resta subir às paredes. Seis meses depois, com um contracto exclusivo, Munkacsi está a trabalhar para a Harper’s Bazaar. É esta mulher decidida, que tornará a Harper’s Bazaar numa das revistas de moda mais sofisticadas do seu tempo, onde a dupla, Brodovitch no design e Munkacsi na fotografia, se completam na perfeição.
Todas as fotografias são da Harper's Bazaar, design de Alexey Brodovitch, e fotografias de Munkacsi.
Se Munkacsi resistiu ao poder de Hearst, não resistirá ao poder da fotografia a cor. Depois da guerra a cor invade as revistas, mas Munkacsi não consegue fazer a transição do preto e branco para a cor, e em 1947, embora continue a trabalhar na moda a revista não lhe renova o contracto.
No texto “efémera eternidade”, Lola Garrido referindo-se a esta maravilhosa década, 1930, escreve “ A moda e o cinema andaram sempre de mãos dadas, e nesta época dourada de Hollywood os fotógrafos retratavam as estrelas para as mesmas páginas”.
Ilustremos então esta época dourada de Hollywood com uma última fotografia de Munkacsi: Carmel Snow, não de mão dada com Charlie Chaplin mas sentada ao seu lado.
Martin Munkacsi, Charlie Chaplin (centro), Carmel Snow (esquerda), San Simeon, Califórnia, November 1933
Nota: o livro "Mujer etcétera" encontra-se à venda nas lojas Fnac, Bucholz, Climepsi, Corte Inglês, Barata, Almedina...
quinta-feira, junho 14, 2007
"Mujer, etcétera"
Etiquetas:
Exposições/Livros/Colecções
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3 comentários:
vc só me faz 'gastar' dinheiro!!!
:))))
Este livro afigura-se muito interessante, o que não é de estranhar para a qualidade a que a Fotocolectânea nos habituou: fotografias, textos, grafismo, impressão, papel, preço...
Já agora, se me é permitida uma sugestão a Sem-Se-Ver, se quiser "não gastar" dinheiro (e para não culpar apenas a Madalena), sugiro uma visita a Amazon.com. Escolha Books, procure os Bargain Books, seleccione Arts & Photography... Os descontos chegam aos 80%, pode escolher alguns Cartier-Bresson, Muybridge, vários temáticos (jazz, escritores, Tibete...), ou um "Face - The New Photographic Portrait", de Wiliam A Ewing, editado pela Thames & Hudson, extremamente interessante, sobre o retrato contemporâneo, onde se inclui Molder e José Luís Neto a par de muitos outros, mostrando-se não só fotografias, mas citações e textos, enquadrados por ensaios interessantes.
Esta promoção não é comum na Amazon e vale a pena, também porque o dolar está a 1.30 e tal. O tempo de transporte é de cerca de 15 dias mais cerca de um mês quando passa pela alfandega (cerca de 9€ + IVA 5%), que é aleatório, mas ultimamente são quase todos. Já recebi alguns, outros estarão ainda a ser lidos pelo pessoal da alfandega... de facto, vale a pena.
agradeço ant., mas dá-me uma imensa seca essa cena da alfandega. já tive livros retidos lá MESES, sem qq notificação da parte deles de que deveria pagar direitos; ja paguei BALURDIOS por direitos em relação a produtos (1 dvd) que me ficou à conta disso, no total, cerca de 200 euros! e irrita-me enormemente a aleatoriedade de procedimentos da dita alfandega. pelo que aguardarei o mesmo tipo de descontos numa qualquer amazon... europeia :-)
(desc madalena pelo abuso deste diálogo com outro comentador seu)
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