domingo, junho 24, 2007

Bauhaus

Terminou hoje, “Cinema em Cartaz”, na galeria do torreão nascente da cordoaria nacional. Exposição organizada pela Câmara Municipal de Faro apresentou cartazes de cinema da colecção Joaquim António Viegas.

“Rigadin, peintre cubiste”, 1912, cartaz e filme despertou-me a atenção. Pathé Frères;

Realizador Georges Monca (1888-1940), ilustrador Adrien Barrère. 160 x 120.
Geroges Monca inspirado pela novas formas do cubismo transformou os personagens deste filme em formas geométricas.
Vira semelhante transformação numa reposição do “The Triadic Ballet" encenado por Oskar Schlemmer que a RTP2 passou há já alguns anos.
Pintor e escultor, Schlemmer foi também director artístico das oficinas de teatro da Bauhaus. O palco era o espaço ideal para visualizar formas e cores em movimento.
Umbo, O.Schlemmer with theater group at Bauhaus, 1927/8

Numa época de agitação política e caos económico, quando o velho mundo ruía, nascia da catástrofe que fora a Grande Guerra, uma escola de arte que Walter Gropius, o seu criador denominou de Bauhaus, “Casa de Construção”. Enquanto oficial na guerra, Gropius sonhava com uma escola que mudasse o mundo. A experiência do massacre mecanizado da guerra leva-o a pensar domesticar a máquina em benefício do homem. Com o armistício e a abdicação do Kaiser em Novembro de 1919, era proclamada a Républica de Weimar. A pouca distância onde era elaborada a nova constituição alemã, nascia a Bauhaus, uma escola que pôs em prática as novas ideias vanguardistas do construtivismo, como Gropius mais tarde viria a dizer “desenvolvi aquilo que gosto de chamar ciência visual”. Financiada com dinheiros públicos, a Bauhaus repercutia o espírito dos artistas da época. O método, diferente de todas as outras escolas de arte, tinha como espinha dorsal as oficinas, onde os alunos aprendiam não a desenhar mas a fazer objectos, protótipos destinados à indústria e consumo de massas. Quando visitei o museu da Bauhaus em Berlim foi difícil, mas resisti à tentação de comprar as réplicas dos objectos criados por Marianne Brandt, membro das oficinas de metais.
Peças simples, desenhadas e concebidas de acordo com a função, estes objectos de uso doméstico são precursoras do design moderno actual. Na altura pareciam chocantemente simples, como a cadeira de aço tubular de Marcel Breuer,
Lucia Moholy, Breuer chair, 1927

que ainda hoje fazem parte do mobiliário do nosso quotidiano. Optei por comprar postais, incomparávelmente mais prático de transportar.
Gropius compreendeu que era necessário forjarem-se elos entre a máquina e o artista e com este pensamento construtivista destruia as divisórias entre as diferentes artes, pintura, escultura, design etc..hoje reclamado como uma inovação actual. Gropius chamou alguns dos pintores mais originais da época, Wassily Kandinsky, foi um dos mestres do curso básico. Durante seis meses os aprendizes absorviam uma nova linguagem visual, em que as formas primárias, triângulos, quadrados e rectângulos, contêm qualidades idênticas às cores primárias, azul encarnado e amarelo.
As cores e as formas primárias também inspiraram as produções da oficina do teatro.
Esta oficina, fundamental no ensino da escola, proporcionava um modo de unificar as várias formas de arte de maneira íntima e expressiva.
Moholy-Nagy que também experimentará o teatro, junta-se ao corpo docente da Bauhaus em 1923. Com sua mulher Lucia, são eles que iniciam os alunos a experiênciarem as novas percepções que a fotografia permitia.
Moholy-Nagy, Dessau, Bauhaus, 1927
Em 1925, o nº8 da colecção Bauhaus, publica os seus escritos sobre a matéria em “Malerei, Phtographie, Film”. Em 1926, já na Bauhaus de Dessau, criam na sua casa reservada aos mestres
Moholy-Nagy, Dessau
uma oficina para a fotografia, muito antes do departamento de fotografia ser criado em 1929 sob a orientação de Walter Peterhans. Pouco se sabe sobre o ensino de Peterhans, porque pouco material das suas aulas sobreviveu. Contudo a fotografia na Bauhaus nunca foi vista como forma de expressão artística, antes a grande diversidade e variedade das fotografias que hoje se conhecem, revela que a fotografia serviu como um novo auxiliar visual.
Estas fotografias de Lux Feininger e Herbert Bayer das encenações de Schlemmer são o reflexo da intensidade artística e do vasto âmbito de ideias da escola, em que o edifíco da escola serve de palco para as encenações de Schlemmer.
Herbert Bayer, 1926, members of the theater, Bauhaus
Herbert Bayer, 1926, members of the theater, Bauhaus
Lux Feininger, 1927
No próprio palco a inovação também é vísivel, Erich Consemuller combina várias fases de um movimento na mesma exposição,
e Feininger nesta outra fotografia capta o elemento da pantomima dos trabalhos de palco a preto e branco de Schlemmer, pondo em evidência partes do corpo que parecem pairar no ar.
Lux Feininger, Bauhaus, 1927

Em 1933, as tropas nazis encerram a escola, assim a Bauhaus que nascera com a Républica de Weimar, terminou com a extinção desta. Os seus 14 anos de vida foram o espelho da Alemanha de então.

Poirot, o célebre detective criado por Agatha Christie, é antiquado no trajar, mas não consegue ficar indiferente ao mobiliário moderno criado pela Bauhaus.

2 comentários:

cs disse...

mais um fantástico post.
excelente
cs

Madalena Lello disse...

obrigado, cs