quarta-feira, maio 02, 2007

Robert Frank

Em Nova Iorque, Robert Frank inicia a carreira fazendo fotografia de moda. Alexey Brodovitch que o contrata para a Harper’s Bazaar e Junior Bazaar sabe que o seu melhor trabalho é feito na rua.

Junior Bazaar, January 1948, as duas fotografias de rua são de Robert Frank
Mas farto de fotografar modelos nas ruas, sapatos e malas em estúdio, ao fim de um ano Frank parte em viagem. Curiosamente dois anos antes, 1946, Henri Cartier-Bresson está em Nova Iorque a prepar a sua exposição no MoMA (Museum of Modern Art) e pronto a partir pelas estradas americanas para fotografar o país a convite da Harper’s Bazaar. Também curiosamente “America in Passing”, só sairá em 1991.

Nesses anos, 1948-1953, Frank viaja incessantemente entre Nova Iorque, Perú, Bolívia, Suiça, França, Espanha, Inglaterra.... Abdica da segurança monetária em favor da liberdade, agora é a sua intuição que ditará o que vai fotografar. “Fui para o Perú para me libertar daquele horrível trabalho e estar livre e trabalhar para mim próprio” recorda Frank.
Trabalhando como “free-lancer”, envia as suas fotografias para as revistas, nomeadamente para a Life, mas sem êxito, “nesses anos eu queria vender as minhas fotografias para a Life, mas a revista nunca as comprou”. Mas a recusa da Life teve um efeito fantástico em Frank, “...you have to be enraged. I also wanted to follow my own intuition and do it my own way, and not make concessions – not make a Life story. That was another thing I hated. Those god-damned stories with a beginning and an end. If I hate all those stories with a beginning, a middle, and an end then obviously I will make an effort to produce something that will stand up to all those stories but not be like them”, e o resultado dessa raiva foi “Black, White and Things” um livro diferente dos foto-ensaios da Life e dos livros fotográficos editados à época. Sem narrativa nem ordem cronológica como em “A night in London”,1938 de Bill Brandt
e “Day of Paris”, 1945 de André Kertész,
"Day in Paris" design de Alexey Brodovitch
sem tema social como “The English at Home”, 1936 de Brandt,
embora admirador de ambos os fotógrafos, sobretudo de Brandt, Frank liberta o leitor de qualquer moralização, não há princípio meio e fim porque a razão não explica os enigmas da vida e a ideia de que a fotografia é uma linguagem universal, comprensível até para uma criança, são desprezadas. Frank compara a sequência de “Black, White and Things” a um poema, “o leitor tem de ter algo para ver, nem tudo é revelado, tenho que deixar algo para o leitor interpretar. ..é uma sequência que tal como as nossas vidas é ambígua, não há momentos decisivos,...o livro é antes uma sequência que revela o equívoco da nossa realidade”.
Assumindo o formato clássico, uma fotografia por página emoldurada pelo branco da mesma, à excepção de algumas dispostas lado a lado para interagirem,
Robert Frank, Woman, Paris, 1952
Robert Frank, Tickertape, New York, 1951
Frank dispensa qualquer descrição e opta por uma breve introdução:
“ Somber people and black events/quiet people and peaceful places/and things people come in contact with/ this I try to show in my photographs”.

A sequência das fotografias no livro é o seu poema. Black, cor do desespero, morte, dinheiro, materialismo, solidão, vazio... representado por funerais, banqueiros, paisagens desertas,
Robert Frank, Funeral, Paris, 1951-52
Robert Frank, Chauffeur, London, 1951
Robert Frank, Landscape, Peru,1948
... White, cor da esperança, serenidade, representado pelas relações familiares, paisagens amistosas,
Robert Frank, Mary and Pablo, New York, 1951
White que Frank descreve “peaceful places and quiet things” inicia com Mary a amamentar Pablo, mulher e filho de Frank, seguida de uma família peruana em que a mãe carrega nas costas o seu rebento.
Robert Frank, Arequipa,Peru, 1948
Frank espelha-se no livro através da sua sombra reflectida na cara de Mary, é a sua vida e os seus sentimentos que quer revelar e comparar...
Things, tema mais complexo onde Frank representa emoções que se enquadram nestes dois extremos, mas cujo significado nem sempre é claro, “não gosto de explicar tudo, gosto de deixar esse trabalho ao observador”. Things, são as paradas, bonecas, grupos de crianças, que desafiam as nossas expectativas,
Robert Frank, Porte Clignancourt, paris, 1952
a crueldade destas crianças que numa das portas de Paris atiram pedras a este velho cavalo indefeso,
Robert Frank, Doll, New York, 1949
a boneca símbolo do sentimento maternal nas crianças que sufoca dentro deste saco de plástico...

Ao folhearmos o livro, as fotografias parecem-nos isoladas, que nada têm a ver com a fotografia seguinte mas gradualmente percebemos repetições: olhemos então para a sequência inicial do livro:
Robert Frank, Parade Valencia, 1952
Robert Frank, Procession, Valencia, 1952
Robert Frank, London, 1951
parada, procissão de um funeral, um grupo de banqueiros, tão diferentes têm em comum retratarem grupos de pessoas que se movimentam em sentidos opostos, transportando algo, instrumentos musicais, velas, chapéus de chuva, segue-se uma quarta, um casal num carrinho de choque num parque de diversões em Paris,
Robert Frank, Couple, Paris, 1952
o riso quase histérico da mulher em contraste com o aparente estado de êxtase do homem, parece-nos completamente fora do contexto das três fotografias anteriores, mas a quarta fotografia liga-se às anteriores pelas emoções, do casal e do funeral ou talvez pela sua ausência na fotografia dos banqueiros.
Olhemos agora para o início de “The Americans”.
Robert Frank, Parade-Hoboken, New Jersey
Robert Frank, City fathers- Hoboken,New Jersey
Robert Frank, Political rally - Chicago
Robert Frank, Funeral- St. Helena, South Carolina
Robert Frank, Rodeo- Detroit
Robert Frank, Savannah, Georgia
“Black White and Things” é o embrião de “The Americans”, e aqui a bandeira americana será o separador dos quatro temas retratados.
Numa carta aos seus pais, Frank revela um dos temas “how Americans live, have fun, eat, drive cars, work”, e como vê Frank essa estrada:
Robert Frank, Santa Fe, New Mexico
bombas de gasolina que anunciam um gigante SAVE,
Robert Frank, St. Francis, gas station and city Hall - Los Angeles
São Francisco parece abençoar a bomba de gasolina em frente,
Robert Frank, Crosses on scene of highway accident - U.S.91, Idaho
representa a morte na estrada 91, e
Robert Frank, Assembly Line- Detroit
a produção de mais e mais carros, Frank conta-nos uma história complexa com um mínimo de meios.
Das 20 000 fotografias que tirou na sua viagem, Frank escolhe 83, “selecção e eliminação foi o maior trabalho do livro” revela anos mais tarde a um grupo de alunos, n histórias podiam ter sido contadas...destas três,
Robert Frank, prova de contacto
que vemos nesta prova de contacto Frank escolheu a última para iniciar “The Americans”, onde a bandeira esconde quem vê a parada...o significado nem sempre é claro, e é esse o grande mistério de “The Americans”.
Numa entrevista publicada no jornal Libération, em Julho de 1989, Frank diz: “...não tenho vontade nenhuma de fazer grandes esforços para manter vivas as coisas que fiz. Está dentro de mim, é assim, não sei explicar. Desde que faço fotografias, filmes, nem sequer uma vez pensei no valor que poderiam adquirir. É um desejo nada mais. No entanto queria que o conjunto das minhas fotografias constituisse um livro isso era importante. Como importante era para mim “The Americans”, queria que fosse editado, que o comprassem, que o guardassem. Esse livro sim, queria que o guardassem”.


Nota: No final de 1942, “Black, White and Things”, teve uma edição de autor de 3 exemplares. Uma edição da National Gallery of Art and Scalo em 1994 e a Steidl vai editar “Black, White and Things” em 2009.

7 comentários:

sem-se-ver disse...

mandei vir.

(penso que, se não é o melhor comentário, será com certeza um elogio - pelo menos, pretende ter também esse carácter)

agora, porque sou abusadora, fico à espera da análise sobre o 'day of paris' e o 'night in london' :-)

cs disse...

Gosto mesmo de Robert Frank.
;)

cs disse...

Gosto mesmo de Robert Frank.
;)

Unknown disse...

Dear Madalena Lello,
for the application to a filmschool I need to analyse the picture "couple" by Robert Frank that is published on your website. I find it difficult to discover in which of the many books of this artist that particular image is in. Do you have a hint? I suppose you scanned the pic from a book and I would like to know which one.
Thank you very much and yours sincerely, Christina

Anónimo disse...

Hi Christina,

Let me help you out as I'm also applying for the same school...

The english title of the picture might be ''couple'' but in fact the picture is named '14ème fête foraine'. You'll find his picture in the glorious book 'The lines of my hand'...

Good look for your application!
cheers
flo

Madalena Lello disse...

Christina, the picture is in the book, as I refer in the text "Black White and Things"
Cheers

Madalena Lello

Caroool disse...

Ola, estou fazendo um trabalho sobre o Robert Frank e seu blog esta me ajudando muito, gostaria de saber se pode me enviar a foto publicitaria que ele fez, estou tentando achar e nao consigo! obrigada