Ontem o Arquivo Municipal de Lisboa- Arquivo Fotográfico convidou três fotógrafos, e um editor para falarem sobre livros fotográficos.
José Luis Neto (1966) iniciou com o livro “22475”, o livro das 24 imagens de cabeças ampliadas dos negativos de vidro de Joshua Benoliel, que registam a cerimónia da abolição do capuz na Penitenciária de Lisboa, “aqui no arquivo pude trabalhar os negativos originais”.
José Luis Neto, da série "22475"
Para Neto o verdadeiro trabalho começa no negativo e o que verdadeiramente lhe interessa são os limites da visibilidade. “..notei que há pessoas que olham atentamente para as fotografias...e foi com essa ideia que fiz estas imagens”. A paginação é sempre a mesma, a folha em branco, “gosto muito da folha em branco”, a separar cada imagem. Tal como os pintores perante a tela em branco, ou os escritores perante o branco da folha, Neto tem o síndroma da folha em branco do papel fotográfico. "O livro fotográfico tem um mercado demasiado pequeno em Portugal, é necessário encontrar comissários que divulguem o nosso trabalho lá fora, mas é quase uma questão de sorte...".
Neto vive e trabalha em Portugal, mas sonha com o reconhecimento de fora.
“Não tem tempo para pensar se é artista” escreveu um dia Jorge Calado a respeito de José Manuel Rodrigues (1951). E foi precisamente sem pensar que é um artista que Rodrigues falou sobre os seus livros, com uma simplicidade que contrasta com a complexidade de géneros da sua obra fotográfica.
“Não tem tempo para pensar se é artista” escreveu um dia Jorge Calado a respeito de José Manuel Rodrigues (1951). E foi precisamente sem pensar que é um artista que Rodrigues falou sobre os seus livros, com uma simplicidade que contrasta com a complexidade de géneros da sua obra fotográfica.
José Manuel Rodrigues, Jogos proibidos #4A, 1999
Gosta de fazer ele próprio os seus livros, nem que a edição se limite a três, o que lhe interessa ao fazer um livro é que o ajuda a pensar no seu trabalho. A sequência das imagens no livro é o seu tormento mas simultaneamente a sua paixão. “Hei-de um dia começar um livro logo com imagens...um livro só de imagens...”.
Em 1981, os amigos de Évora promovem uma exposição no museu da cidade, foi a sua primeira exposição individual, e foi sobre o catálogo dessa mesma exposição que Rodrigues iniciou a sua conversa, “quando o fiz gostei, gosto destas transparências, (do papel transparente que antecede a imagem), mas quando o livro ficou pronto detestei-o, a impressão é de má qualidade, este é um livro que me ensinou como não se devem fazer livros” e continuou “as edições dos meus livros eram baratas, mas mesmo assim não se venderam”, mostrou-nos um livro, em harmónio, “gosto deste formato, pudemos colocá-lo de pé...virado de um lado ou do outro...”. Felizmente, José Manuel Rodrigues pretende continuar a fazer livros, nem que sejam três...
Deixou Portugal com apenas dezassete anos. Na Holanda, onde começou a sua carreira, viveu vinte anos. Regressa a Portugal e hoje vive algures num local alentejano que dá pelo nome de Senhor dos Aflitos.
Por último Duarte Bello, (1968). Portugal é tudo para ele. Fascinado pelo trabalho de Orlando Ribeiro, edita “Orlando Ribeiro, seguido de uma viagem à Serra da Estrela”.
Em 1981, os amigos de Évora promovem uma exposição no museu da cidade, foi a sua primeira exposição individual, e foi sobre o catálogo dessa mesma exposição que Rodrigues iniciou a sua conversa, “quando o fiz gostei, gosto destas transparências, (do papel transparente que antecede a imagem), mas quando o livro ficou pronto detestei-o, a impressão é de má qualidade, este é um livro que me ensinou como não se devem fazer livros” e continuou “as edições dos meus livros eram baratas, mas mesmo assim não se venderam”, mostrou-nos um livro, em harmónio, “gosto deste formato, pudemos colocá-lo de pé...virado de um lado ou do outro...”. Felizmente, José Manuel Rodrigues pretende continuar a fazer livros, nem que sejam três...
Deixou Portugal com apenas dezassete anos. Na Holanda, onde começou a sua carreira, viveu vinte anos. Regressa a Portugal e hoje vive algures num local alentejano que dá pelo nome de Senhor dos Aflitos.
Por último Duarte Bello, (1968). Portugal é tudo para ele. Fascinado pelo trabalho de Orlando Ribeiro, edita “Orlando Ribeiro, seguido de uma viagem à Serra da Estrela”.
Duarte Bello, editado pela Assírio & Alvim, 1999
“Tinha passado cerca de dois anos a percorrer Portugal em recolhas fotográficas para o projecto “Portugal- O sabor da Terra”. Ao ver a obra de Orlando Ribeiro, parecia que de um relance, ali encontrava Portugal inteiro, todos os seus lugares além de outros espaços longíquos. Questionava-me sobre o sentido de dois anos de canseiras por um território que quanto mais percorria menos parecia conhecer e que encontrava agora ali, num espaço contido, na espessura de todos aqueles materiais, uma tão próxima dimensão deste país sem fim”. Neste seu livro, homenagem a Orlando Ribeiro, Bello fotografa, as suas peças de vestuário, a sua Leica M3,
os cadernos de campo,
a sua casa...e acrescenta-lhe imagens que faz à Serra da Estrela,
local tão querido a Ribeiro. Coincidências, “quando fotografava a Serra da Estrela fui informado da sua morte”.
Agora o Círculo de leitores prepara-se para editar um livro “Património Português” com fotografias de Duarte Bello.
Duarte Bello, gosta de Portugal, “é aqui que tenho os meus pés”, e de Portugal não quer sair.
Três fotógrafos, três géneros de livros fotográficos, Portugal como elo de ligação.
Agora o Círculo de leitores prepara-se para editar um livro “Património Português” com fotografias de Duarte Bello.
Duarte Bello, gosta de Portugal, “é aqui que tenho os meus pés”, e de Portugal não quer sair.
Três fotógrafos, três géneros de livros fotográficos, Portugal como elo de ligação.
2 comentários:
Sobre Duarte Belo e Orlando Ribeiro... A obra Portugal Património, do Circulo de Leitores, em 8 volumes, vai já no 2º. É um percurso por todo o património nacional, do mais conhecido ao pequeno espaço ou construção, muitas mostradas, portanto com bastantes fotografias, um levantamento intensivo de 4 anos, embora um pouco documental. Esperava mais 'album' fotográfico, outro grafismo poderia dar mais força às imagens. Ou, porque não, uma edição paralela de album essencialmente fotográfico... Sem ser necessáriamente O Sabor da Terra, edição do Circulo, de Duarte Belo e Suzanne Daveau, 1998, 12 volumes (escrevo de memória).
Orlando Ribeiro...
A sua obra interessantíssima mereceu um interesante livro dos Encontros de Fotografia de Coimbra, entre outras obras.
Quando morreu, recordo-me de olhar de relance uma bancada de jornais e ver uma Leica. Fui procurá-la: era a fotografia de Orlando Ribeiro na 1ª página do Público, e era o dia 18/11/1997, havia falecido na véspera.
obrigado António, pela correção, é "Portugal Património" e não "Património Português" como escrevi. De facto o livro é meramente documental,todos os monumentos do nosso património estão aí representados, não é um fotolivro, mas o objectivo era mesmo esse, fazer um levantamento fotográfico de todos os nossos monumentos. Muito diferente do de Orlando Ribeiro que ele fez.
Enviar um comentário