segunda-feira, abril 30, 2007

A dança de Merce Cunningham

Quem leu o último post está à espera de ver hoje “Black, White and Things” de Robert Frank, o germe de “The Americans”, mas ainda não vai ser hoje, porque era impossível, depois de “Ballet”, não mostrar as fotografias de Merce Cunningham no Black Mountain College tiradas por Hazel Larsen Archer no verão de 1948...
Em 1933, os nazis fechavam em Berlim a Bauhaus, em Novembro desse mesmo ano na Carolina do Norte abria o Black Mountain College, com o mesmo espírito anti-académico da escola que encerrava. Josef Albers, Walter Gropius, Lyonel Feiniger, são alguns dos professores que deixam Berlim pela Carolina do Norte, e juntam-se a John Cage, Merce Cunningham, Willem de Kooning, Robert Moteherwell, Beaumont e Nancy Newhall....
Beaumont Newhall, hoje considerado por muitos como o pai da História da Fotografia, escreve nas suas memórias como foi convidado por Albers para aí leccionar “I offer you and your wife a free vacation! Two weeks in lovely North Carolina! All travel expenses and room and broad paid! You just give four evening lectures on photography”. Nancy e Beaumont aceitam e como ele escreve “ I gave four evenings lectures that were generously illustrated with slides on the history and aesthetics of photography. These had the titles “The tradition”, “Photography in the Twentieth Century”, “Photography Vision: An approach to the Aesthetics of Photography”, and “Photography as Expression”.
Black Mountain College (1933-1957), foi experiência inesquecível para quem lá ensinou e estudou
Hazel Larsen Archer, no verão de 1944, foi para Black Mountain como estudante, o entusiamo dessa experiência fê-la regressar no ano seguinte e escolheu Albers para professor. Em 1949 Archer era professora de fotografia. Mas o verão de 1948 foi inesquecível, naquela paisagem maravilhosa de lagos, montanhas, pinheiros..., como descreve Nancy, Cunningham, Cage, o casal de Kooning, Willem e Elaine, e tantos outros trabalharam em conjunto...Archer tira então esta magnífica série de fotografias (hoje pouco conhecidas) de Cunningham a dançar.

(Todas as fotografias são retiradas do nº 179 da revista Aperture)


Comparando-as com “Ballet” de Brodovicht a diferença é grande, o movimento dado pelo rasto pouco nítido de Brodovitch contrasta com a nitidez das fotografias de Archer. Archer percebe que com o enquadramento arrojado consegue dar movimento à dança de Cunningham, nem que para isso corte frequentemente mãos e cabeça do mestre da dança. A figura de Cunningham é tão importante como a sua sombra, sombras que lembram as figuras criadas por Cunningham no computador.

Andrew Oates, um aluno de Archer diz o seguinte a seu respeito, “She always wanted to use the full negative when printing a photograph, and encouraged us to design an image when looking through the camera lens”.

Agora sim podemos passar para “Balck, White and Things” de Frank.

4 comentários:

cs disse...

tou ansiosa pelo R. Frank. Vi uma vasta amostra dele uns anos atrás nos Encontros de Fotografia em Coimbra. Anda por aí um catálogo dessa exposição. Aguardo a sua aula.:))

Madalena Lello disse...

não espere uma aula, antes vou mostrar as suas fotografias e como ele as sequencia, que para mim é o trabalho fundamental em Frank.

evols disse...

O Merce Cunningham era realmente um bailarino fabuloso. Há uns tempos vi um excelente documentário sobre a sua vida e sobre a sua colaboração com artistas e músicos como John Cage e Rauschenberg, que durante algum tempo acompanhavam a sua companhia de dança. Cage musicava e Rauschenberg fazia os cenários (sempre com coisas que encontrava nas redondezas do local do espectáculo, pois como viajavam todos numa carrinha, não tinham meio de transportar cenários). Era também referido o período que passaram neste colégio. Tenho uma série que um dia irei expor sobre o Merce Cunningham, intitulada «the random use of chance».
Fico à espera do Robert Frank. Um mestre também.

sem-se-ver disse...

bom dia.

só para informar que anda 'praí' uma iniciativa de atribuir um 'so-called' "thinking blogger award", em que me meteram. e o propósito é não quebrar a corrente, enfim...

só para a dizer que a nomeei, ou lá como se diz.

(foi o primeiro blog em que pensei à luz deste critério, o de 'nos fazer pensar').

se tiver curiosidade, o link directo para esse meu post é
http://sem-se-ver.blogspot.com/2007/05/caramba.html

um bom feriado para si.