“Still Life” o filme de Jia Zhang-Ke (n.1970), em exibição nas nossas salas de cinema, é mais uma das obras primas do cinema provocada por um olhar fotográfico.
O continuado crescimento económico da China tem levado as grandes potências internacionais a olharem com preocupação para este ritmo demasiado elevado que poderá levar a um sobreaquecimento económico. Na última semana Europa e Estados Unidos pressionaram as autoridades chinesas a valorizarem o yuan. Para os EUA o agravamento do seu défice externo deve-se à China. Mas economistas e políticos têm a memória curta. Há precisamente dez anos, quando as divisas dos países asiáticos desvalorizavam mais de 80%, não foi a China que manteve a paridade do yuan com o dólar? Mas a preocupação não está só na economia, todos inclusive os próprios chineses receiam o pior, o sobreaquecimento do nosso planeta, causado pela poluição.
A China está hoje na mira de todos, inclusive dos fotógrafos. Edward Burtynsky (n.1955) fotógrafo canadiano interessa-se em documentar as transformações que ocorrem no país. Em 2002, a monumental construção da barragem das três gargantas, a maior no mundo, leva Burtynsky a fotografa-la.
Edward Burtynsky, Projecto da Barragem das três gargantas #3, rio Yangtze, China 2002
Construída para controlar as enchentes do rio Yangtze, prevê-se a finalização em 2009.
Uma das fotografias da série Feng Jie esteve recentemente exposta em INGenuidades, na Fundação Gulbenkian.
Uma das fotografias da série Feng Jie esteve recentemente exposta em INGenuidades, na Fundação Gulbenkian.
Edward Burtynsky, Projecto da Barragem das três gargantas, Feng Jie #7, Rio Yangtsé, China 2002.
Em 2002, quando Burtynsky a tirou, a barragem ainda estáva em construção, só em Junho de 2003 começou a encher. A fotografia de Burtynsky mostra ainda a aridez do local. Jorge Calado, comissário da exposição, sábiamente pô-la ao lado de “Enchendo a barragem de Murchison na Tasmânia“, 1982, de David Stephenson, atenuando assim a secura de Feng Jie.
Exposição INGenuidades, Gulbenkian, Abril 2007
Sanming, vem da província Shanxi à procura de mulher e filha em Feng Jie. Passaram dezasseis anos, e Sanming desconhecia o que o esperava. “Still Life”, inicia com Sanming a olhar para Feng Jie submerso.
"Still Life"
A tarefa é agora difícil, mulher e filha foram desalojadas para outros locais. Do vale seco que Burtynsky fotografou, já nada resta. Sanming, emprega-se na demolição dos edifícios, os próximos a serem atingidos com a nova enchente da barragem, e enquanto espera trabalha. Sem ser documentário, “Still Life” também não é ficção, é antes uma contemplação documental do meio envolvente conseguida pela magnífica fotografia de Yu Lik-Wai.
Do filme "Still Life"
Em todos os grandes planos visualizamos a barragem, construção que no final totalizará, tal como o destino da mulher e filha de Sanming, o desalojamento de 1,3 milhões de pessoas.
Zhang-Ke, filma o que a nova geração fotografa, a complementaridade entre cinema e fotografia na China actual é perfeita. O filme é silencioso, como silenciosa é a espera de Sanming. É na dualidade dos contrastes que Zhang-Ke imprime ritmo ao seu filme. A monumentalização da destruição contrasta com a monumentalização das novas construções, a paciência da geração velha e a impaciência da geração nova, 50 yuan por mês ganha Sanming nas demolições, 50 yuan é o que o jovem amigo de Sanming quer ganhar ao dia mesmo que isso lhe custe a vida.
Zhang-Ke, cruza no filme uma outra vida, a de Shen Hong,
Zhang-Ke, filma o que a nova geração fotografa, a complementaridade entre cinema e fotografia na China actual é perfeita. O filme é silencioso, como silenciosa é a espera de Sanming. É na dualidade dos contrastes que Zhang-Ke imprime ritmo ao seu filme. A monumentalização da destruição contrasta com a monumentalização das novas construções, a paciência da geração velha e a impaciência da geração nova, 50 yuan por mês ganha Sanming nas demolições, 50 yuan é o que o jovem amigo de Sanming quer ganhar ao dia mesmo que isso lhe custe a vida.
Zhang-Ke, cruza no filme uma outra vida, a de Shen Hong,
"Still Life"
que vem também de Shanxi à procura do marido, que partiu há dois anos. A fábrica onde o marido trabalhava está agora desactivada,
Edward Burtynsky, Fábricas desactivadas #6, Shenyang Machinery Group, Tiexi District, Shenyang City, Liaoning Province, China, 2005
mas Shen Hong não quer esperar, e procura o amigo Dongming para a ajudar. Encontra-o nas escavações arqueológicas, é a civilização de dinastias seculares que em breve estará submersa.
O reencontro de Sanming com a mulher é num barco junto à barragem, mas a reconciliação tem como local um edifício semi-demolido, onde as torres das novas construções se vêem ao fundo.
O reencontro de Sanming com a mulher é num barco junto à barragem, mas a reconciliação tem como local um edifício semi-demolido, onde as torres das novas construções se vêem ao fundo.
Sze Tsung Leong, Jiefangbei, Yuzhang District, Chongqing, China, 2003
Shen Hong, reencontra-se com o marido num cais junto à barragem, mas é a ruptura, é o regresso a Shanxi com o papel do divórcio.
A arte contêmporanea chinesa tem uma presença cada vez maior em todo o mundo, através de leilões, exposições, feiras, bienais...veja-se alguns exemplos do que está em exposição, Working Progress de Ai Weiwei e Kake Studio na Tate Liverpool, enquadrado na PhotoEspaña 2007 podem –se ver os trabalhos de Zhang Dali. “Zhù Yí! Fotografia actual en China” pode-se visitar no ARTIUM em Vitória, Espanha...Zhù Yí significa ATENÇÃO em mandarim.
Zhù Yí, é a mensagem de todos ,do filme “Still Life” de Jia Zhang-Ke às fotografias de Edward Burtynsky.
1 comentário:
:-)
adorei.
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