Realizado nos anos setenta, quando o documentário social, “become a bad object”, a actualidade do texto não deixa de surpreender. Hoje, todos os dias, na imprensa de todo o mundo, os despedimentos fazem manchete e ninguém é poupado, nem mesmo os engenheiros especializados da Qimonda.

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
No parque de estacionamento da Lockheed Aircraft, completamente vazio, o pai de Sekula, um Engenheiro químico, deixa-se fotografar, com um amigo, junto à sua carrinha Ford. Cancelados os contratos militares, também ele perdia o emprego nesta empresa aeronáutica do Estado.
Como se explica o elevado desemprego na década de 1970?
Muitos economistas apontam a incompetência dos executivos como o factor principal. O declínio da competitividade pela má gestão, levava, exactamente como hoje, empresas como a Chrysler, à época enredada em traseiras cromadas em rabo de peixe, a evitarem a bancarrota, apenas devido a empréstimos governamentais concedidos no último minuto.
Sem defesas, pois pouco concorrentes, foi fácil à indústria estrangeira escoar os seus produtos mais eficientes. No sector automóvel, com o primeiro choque petrolífero em 1973, os americanos rendiam-se às vantagens dos pequenos carros, bem fabricados e de baixo consumo que o Japão e a Alemanha exportavam. Num ápice, Toyotas e
Volkswagens, comiam as quotas de mercado da Ford e da Chrysler.
Bill Owens, em 1977, fotografa este baby boomer,

Bill Owens, Working: I do it for the money, 1977
de calças à boca de sino e bigode farfalhudo, que vende a mãe se for preciso, em cima de um Toyota.
“I’ve always been sales oriented. If I can sell myself, I can sell the product. I take pride in my customers and have sold nine cars to one family. Every one you meet is different”.
Num país onde o desemprego grassava, este comercial vendia nove carros a uma só família, e nos subúrbios, os baby-boomers constituíam família e viviam felizes.

Bill Owens, Suburbia, 1977
“We are really happy. Our kids are healthy, we eat good food and we have a really nice home”
Na longa entrevista ao pai e à mãe, em “Aerospace Folktales”, Sekula ouve do engenheiro a mesma explicação dos economistas : “What worries me more than anything else is the fact that we are de-emphasizing technological supremacy, we are ignoring completely the necessity of research and development...We constantly are beeing challenged for foreign competition...”
Os demógrafos contudo, tinham outra visão, e explicavam o elevado desemprego com o aumento exponencial de jovens qualificados – a geração do baby boom – que tirava o lugar aos mais velhos.
Sekula, um baby boomer - que nos anos setenta enchiam as universidades e provocavam violentos protestos contra a Guerra do Vietname – explica no texto a razão que o levou a fazer “Aerospace Folktales”: “I’ve got to understand these things, after all what about my future, I mean, I better be prepared for the future…” e através do texto e imagens, entramos no seu ambiente familiar – “this material is interesting only insofar as it is a social material”.
Nos subúrbios de Los Angeles,

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
essa enorme cidade que não parava de crescer – o impacto do baby boom a deixar as suas marcas - a arrumação e a ordem no interior da casa contrastam,

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
com o caos e a delinquência juvenil, que passou para o topo das preocupações sociais. Para o pai, a casa, “...his only defense…and so everything had its place...”.
“...my parents wanted us (me and my brother), to be provided with the keys to sucess…”

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
“...now I should note that the interior decoration was almost exclusively my father’s domain...”,

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
“...so my father built a plywood bookcase and painted it white...”

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
“...then he subscribed to a book purchasing plan to fill the bookcase...”

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
“...I don’t understand now how he chose the books...”

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972
“... but it was a really a crazy selection...”.
Conflito de gerações?

Allan Sekula, "Aerospace Folktales", 1972

Allan Sekula, Self Portrait,1972
Na década de 1990, o crescimento sólido da economia, fez descer drasticamente o desemprego. Os baby boomers, a geração que tão decididamente deixara a sua marca em todas as décadas desde 1950, estava a entrar na idade dos quarenta e cinquenta anos – os anos de maior trabalho e de mais poupanças, e o país elegia para seu Presidente um baby boomer - Bill Clinton. Houve um grande aumento de produtividade nas fábricas americanas. A geração dos gestores provenientes do baby boom, não se limitou a absorver as práticas japonesas; baseou-se em desenvolvimentos especificamente americanos na computação distribuída e nas comunicações digitais que floresciam por essa altura. Um grande fluxo de liquidez entrou nos fundos de pensões. Olhando para trás – talvez os anos gloriosos na economia americana.
Hoje, economistas e demógrafos são consensuais, a geração do baby boom, agora a entrar na reforma, novamente no topo das preocupações sociais – quem lhes irá pagar as tão desejadas reformas que eles tanto descontaram?
Os baby boomers, a geração incómoda?
Ler mais...