O torrão de açúcar, inventado por um checo em 1841, é o símbolo escolhido pela presidência checa, que inaugurou oficialmente no dia 7 deste mês em Praga, o comando da União Europeia.
Milos Dohnány, Still Life, 1933
Mal tomou posse, rotulado de anti-europeu, o governo checo não tem sido poupado às severas críticas por parte da imprensa. Julgado incapaz de desempenhar um papel-chave nas negociações para enfrentar os desafios do panorama internacional, muitos são os que reclamam a urgente ratificação do Tratado de Lisboa, que porá fim ao actual modelo de presidência rotativa.
“Não há dúvida de que parte do sucesso que tivemos com a Alstom se deveu ao facto de eu ser uma figura importante no governo. Se não tivesse este estatuto político, Bruxelas não teria querido sequer ouvir-me e ter-se-ia dirigido, nas minhas costas, ao primeiro-ministro e ao presidente para que me convencessem a aceitar a ideia de uma fusão com a Areva…” escreve Nicolas Sarkozy, que antecedeu os checos na presidência, no seu livro “Testemunho”.
Mirek Topolanek, o primeiro-ministro da República Checa, ao qual Bruxelas não reconhece um “estatuto político” que se equipare ao Presidente francês, está condenado ao fracasso – “… Sarkozy não hesitará em ocupar o terreno eventualmente deixado vago, ou mal tratado, pelo seu sucessor”, refere a imprensa.
Mas a Europa, liderada por Durão Barroso, recusou tomar partido no conflito entre Moscovo e Kiev, e só a vaga de frio a obrigou a reagir ameaçando: “tiraremos as devidas conclusões”. Com tal ameaça o conflito está longe de se resolver e nos gabinetes aquecidos de Bruxelas, lamenta-se que a Bulgária e Polónia enregelem.
Olhando para a história, nos anos de 1919 a 1930, a Europa esteve prestes a ser Europa. A essa necessidade de união dos povos, depois de uma guerra, fez-se uma Sociedade das Nações, que acabou por falhar. Stresemann que se regozijava de ter conseguido que a Alemanha entrasse na Sociedade das Nações declarava que ao aderir a essa associação “os povos não abandonavam a sua moralidade negocial” e seu homólogo francês, Aristide Briand, equiparava a moderna Europa “a um harmonioso acorde que é dado por notas distintas”. Em lugar de um acorde harmonioso, a Europa caiu numa estrepitosa cacofonia, a vontade de unificar provocou a recusa à união, e levou as diferentes nações a se encerrarem nas suas diferenças essenciais.
Curiosamente nesses anos de 1919-1930, na Bauhaus, um dos centros artísticos mais avançados da Europa, o húngaro Moholy-Nagy, avançava contemporaneamente pelo mesmo trilho do checo Milos Dohnány, um fotógrafo amador que ignorando-se mutuamente abordaram pontos comuns.
Quer nas naturezas mortas, onde os objectos deixam de existir como tal para darem lugar a processos de relação entre objectos,
Moholy-Nagy, Portrait Lucia Moholy,c.1926
Milos Dohnány, A set table, 1932
Milos Dohnány, Store-room in a music school, 1935
Milos Dohnány, Bokessová-Hanáková, 1935
quer na experimentação de novos ângulos de visão, enfatizando a arquitectura moderna em linhas diagonais,
Moholy-Nagy, Dessau, 1926
Milos Dohnány, Corner of the hotel Palace,1932
Milos Dohnány, Okolo,1935
em ambos, em nações distintas no mapa da Europa,
Milos Dohnány, A tourist still life,1935
descobre-se, nas suas experiências e descobertas, uma modernidade comum.
Acima dos particularismos nacionais, a vanguarda artística europeia – a ruptura necessária para um novo e indispensável entendimento do mundo moderno – conseguiu através da sua linguagem, ser universal, tal como as leis da ciência.
A Europa, projecto de paz e civilização, que se iniciou nos anos 1950, ao juntar o carvão e o aço, encontra-se paralisada. Os interesses nacionais, cada vez mais diversos, sobrepõem-se aos interesses universais, provocando uma estrepitosa cacofonia. No século XXI, retorna-se ao início, a uma Europa que esteve prestes a ser Europa.
segunda-feira, janeiro 12, 2009
Europa ou Antieuropa?
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No Mundo
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