No ano de 1932, no auge da Grande Depressão, o pintor e caricaturista George Grosz, a bordo do transatlântico New York, que o levava para a cidade do mesmo nome, deixava para trás uma Alemanha, cada vez mais nazi. Em Southampton, o último porto de paragem antes da travessia do Oceano, Grosz, despede-se da Europa sem remorsos.
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
Crítico acérrimo de Hitler e da burguesia ascendente, Grosz, aceita com agrado o lugar de professor que a Art Students League de Nova Iorque lhe oferecera. Não se enganava, no mesmo dia em que desembarcava na capital do Novo Mundo, 4 de Junho de 1932, Hindenburg dissolvia o Reichstag e proclamava eleições urgentes. Poucos dias depois, a 31 de Julho, o partido de Hitler obtinha uma vitória retumbante, e os uniformes com a cruz suástica encheram o parlamento.
A bordo, Grosz, experimentava a sua nova Leica, registando os entretenimentos que o transatlântico proporcionava aos passageiros,
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
Os rigores geométricos da nova objectividade
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
em simultâneo com os planos inclinados da nova visão,
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
denunciam a cidade onde nasceu e viveu – Berlim.
À chegada, a Nova Iorque dos edifícios altos que mais parecem pairar no céu,
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
deslumbrou certamente os passageiros que a viam pela primeira vez. Mas junto à amurada do navio, ficamos curiosos como Grosz: O que faz toda esta gente inclinar-se e olhar para baixo?
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
Afinal, os pequenos barcos piloto, iguais em todo o lado, despertam maior interesse.
George Grosz, no navio New York, Junho 1932
No ano de 1932, Herbert Clark Hoover, que tentava a reeleição, dizia que as ruas da capital se cobririam de erva se Roosevelt fosse eleito. Hoover parecia não se dar conta que os andares do maior edifício do mundo, o “Empire State Building”, que inaugurara meses antes, com pompa e circunstância, permaneciam vazios.
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
Mas as ervas, se ainda não cobriam a cidade, já cresciam nos carris, cada vez mais ferrugentos, por onde circulavam os vagões das fábricas do país.
Encantado com Nova Iorque, a cidade com que sonhara desde pequeno, Grosz, parece ver como Hoover, uma cidade onde a erva não chegara.
Nas avenidas, rectilíneas e numeradas, as filas de automóveis
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
e peões, que olham para montras repletas de novidades,
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
confundem-se no trânsito.
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
Ao ar livre, acima do nível dos passeios,
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
fazemos o sightseeing turístico da cidade, crise?
nem mesmo os carris dos eléctricos parecem querer enferrujar.
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
Curiosamente, não é através da fotografia, mas do desenho, que Grosz revela como vê a capital do país que vive a maior recessão económica de sempre.
George Grosz, Nova Iorque, Junho de 1932
George Grosz, Unemployed Veteran, Nova Iorque, 1932
George Grosz, Shoe Shine, Nova Iorque, 1932
No ano de 1932, a América elegia um paralítico, vítima de poliomielite, para seu presidente – Frank Delano Roosevelt, que no seu discurso de tomada de posse, prometeu galvanizar a nação.
Ontem, inspirado em Roosevelt, Barack Obama, no seu tão esperado discurso de tomada de posse, prometeu aos americanos que a América “is ready to lead once more”.
O sonho americano, ao invés do que todos pensam (o carro à porta de casa), é acreditar que é possível dar a volta à adversidade e vencer na vida.
quarta-feira, janeiro 21, 2009
A Nova Iorque de George Grosz
Etiquetas:
Cidades/Subúrbios
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1 comentário:
passei-lhe um prémio (porque aprendo muito consigo).
abraço.
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