quarta-feira, outubro 01, 2008

Who is society?

A controversa afirmação de Margaret Thatcher: “Who is society? There is no such thing! There are individual men and women and there are families” serve ainda hoje de inspiração.


Markéta Luskacová, Man singing in Brick Lane, 1975

O jovem David Cameron, que colocou o Partido Conservador novamente no centro político, foi o primeiro tory a desafiar Thatcher. No seu discurso, no dia em que era consagrado líder do partido, disse: “Há uma coisa chamada sociedade; só não é a mesma coisa que o Estado”.

Este ano, David Mellor, chamou à exposição que organizou com as fotografias da colecção da Arts Council: “No Such Thing as Society; British Photography 1967-1987” – uma referência clara à frase de Thatcher. A retrospectiva, um documento social da Inglaterra desses anos, testemunha as tensões políticas, económicas e sociais que se seguiram à prosperidade do pós- guerra.



Se a invenção fotográfica do negativo-positivo nasceu na Inglaterra, para o crítico Gerry Badger, os anos 70 representam na fotografia inglesa a raiz da fotografia política, (na pátria de Sua Majestade, é estranho que ninguém se lembre do trabalho pioneiro, feito com intuito reformador, de Thomas Annan (1829-1887), nas ruas de Glasgow). No editorial da revista Camerawork, 1980, lê-se o seguinte em relação aos fotógrafos desta época: “…we think that community photography can actively involve people in social change”.
Em 1987, a frase de Thatcher estava em consonância com a época. O fascínio pelas ambições colectivas da década de 60 davam lugar a uma obsessão com as necessidades pessoais - os jovens estavam agora mais preocupados em arranjar emprego do que mudar o mundo.


Tish Murtha, do livro "Youth Unemployment in the West End Newcastle", 1980-81


Chris Killip, Jarrow Youth, 1976

Chris Killip, no seu livro In Flagrante (1988), onde reúne um conjunto de fotografias tiradas entre 1970/80 escreveu: "This is a subjective book about my time in England. I take what isn’t mine and I cover other people’s live. The photographs can tell you more about me than what they describe”.


Chris Killip, Tyne Pride, 1976

Graham Smith, que fotografou a zona de Newcastle, dizia, um ano antes de Thatcher, 1986, que as suas fotografias “they were not really, you know, documentary…it’s something else, something to do with my own background, with my father. I’m trying to explore myself”.


Graham Smith, South Shiels, 1976


Graham Smith, Blackhill, Consett, Co.Durham, 1977


Graham Smith, John Haydon's Scrap Yard, Newcastle, 1975

Depois de uma época de prosperidade e bem-estar, nos anos setenta, a economia baseada essencialmente na manufactura sofria profundas transformações. As indústrias tradicionais - aço, metalúrgica, minas, têxtil cediam a uma nova economia baseada nos serviços. As fábricas reduziam a mão-de-obra e os operários engrossavam a já enorme taxa de desemprego.
Nas décadas anteriores, os políticos, que chamaram a si o Estado, foram induzidos no erro de cálculo demográfico. Agora que a geração do baby-boom entrava na meia idade os políticos percebiam finalmente que a geração seguinte já não era suficiente para pagar as enormes contas do Estado-providência. A juntar à quebra de natalidade, a elevada inflação, que rondava nesses anos os 25%, comprometia o crescimento económico.

Em 1976, o desemprego grassava na Inglaterra e ultrapassava pela primeira vez, desde a guerra, o milhão. No ano seguinte, os profundos cortes nos gastos públicos, levaram mais 600 mil desempregados a somar ao milhão.


Tish Murtha, do livro "Youth Unemployment in the West End Newcastle", 1980-81

No Inverno seguinte, chamado “Inverno do descontentamento”, era a vez dos sindicatos entraram em greve.


Vanley Burke, "Handsworth from Inside", 1968-82


Paul Trevor, Riot, Notting Hill, London, 1978


Peter Marlow, National Front Steward, Lewisham, August, 1977

Desde os homens do lixo – a cosmopolita Londres enchia-se de lixo que não era recolhido, às enfermeiras, o país paralisava. No governo, James Callaghan, do partido Trabalhista, ficaria conhecido com a resposta a um jornalista quando interrogado sobre a crise, “Crise? What crise?”, que logo os jornais fizeram cabeçalho (carregue aqui e leia o resto do post com música). O governo, que parecia desfasado da realidade era acusado de não conseguir governar e foi obrigado a convocar eleições antecipadas na Primavera de 79. O partido Conservador, com Thatcher à frente, fizera uma campanha apelando à necessidade do rigor económico e correcta administração do dinheiro e os Tories ganharam as eleições. Thatcher, determinada a cumprir com os seus propósitos, logo foi apelidada pelos Soviéticos de “dama de ferro”. Se o célebre confronto, 1984-85, entre o governo e o Sindicato Nacional dos Mineiros, para acabar com as minas ineficientes e subsídios à indústria de carvão,


John Davies, Durham Coalfield, 1983


John Davies, Durham Coalfield, 1983

destruíram a influência pública dos sindicatos britânicos, as privatizações foram a base da sua política económica. Tudo ou quase tudo, desde as firmas e fábricas pequenas, essencialmente na manufactura, aos grandes monopólios, como a British Telecom foram privatizados. Thatcher tornava o seu país economicamente mais eficiente. O Estado deixara de subsidiar empresas sem lucro, geridas, a maior parte, pela inércia burocrática, e a economia melhorou bruscamente. Mas houve zonas industriais que foram extremamente penalizadas como a zona industrial do West Midlands, onde muitas fábricas fecharam.


John Davies, Dismantled Railway Bridge, Accrington, Lancashire, 1986

Muitos dos que perderam emprego nas indústrias, anteriormente subsidiadas pelo Estado, como o aço, minas de carvão, têxteis…nunca mais voltaram a encontrar trabalho e ficaram dependentes do Estado para o resto da vida.


John Davies, Skye Edge Lofts, Sheffield, 1981


John Davies, Wardsend Cemetery, Hillsborough, Sheffield, 1981

O crime e a delinquência subiram, principalmente nessas zonas onde a população ficou enredada em pobreza.

Richard Billingham, a geração que se seguiu e que cresceu nesse ambiente, não precisa de olhar para fora, para a sociedade, em casa fotografa os pais desempregados, que vivem de reformas exíguas.






Richard Billingham, Untitled, 1989-96

o verdadeiro retrato da vida familiar dos que nunca mais conseguiram regressar ao trabalho.

Quando Thatcher, já com o seu sucessor John Major sugeriram que poderiam privatizar o Serviço Nacional de Saúde, o apoio público evaporou-se, acabava o “thatcherismo”.

O jovem David Cameron que em breve disputará eleições com o governo Trabalhista de Gordon Brown, aprendeu bem a lição. Em tom desafiador proclamou “Para mim há uma coisa chamada sociedade”, e se os conservadores querem ganhar “teremos de mudar”. As suas prioridades políticas são agora o bem-estar e a coesão social. Com um filho com paralisia cerebral, Cameron aprendeu como o Serviço Nacional de Saúde tem para ele um valor inestimável, a privatização está fora de causa. Com a crise financeira actual, a economia voltou a dominar. Será que Cameron para vencer a Brown terá de mudar as suas prioridades?


1 comentário:

Paul Garner disse...

http://www.oomgallery.net/details.asp?id=1257&c=76161


The above link perfectly demonstrates how powerful the single image can be. Taken from the Handsworth Riots, Twenty Summers On series by British photojournalist Pogus Caesar.