quarta-feira, outubro 29, 2008

Entre a Grécia e a Turquia

Sarkozy, que preside agora à Presidência da União Europeia, veio propor uma cimeira, a realizar no próximo dia 15 de Novembro em Washington para, em conjunto com outros países, se encontrarem soluções que visa uma reforma do sistema financeiro internacional. Dos países convidados, para além dos óbvios que constituem o G8 e o chamado BRIC, a Turquia estará representada em Washington. O voluntarismo de Sarkozy, já irrita muitos europeus, nomeadamente o nosso vizinho Zapatero, que não se conforma por não estar incluído na lista de participantes. Por cá, não ouvi nada sobre o assunto.


Nikos Markou, Grécia, c.1983

No seu livro “Testemunho” o actual presidente francês é muito claro em relação ao alargamento da Turquia na UE : “A ideia da Turquia mataria a própria ideia de integração europeia. A entrada da Turquia transformaria a Europa numa zona de comércio livre com uma política de concorrência. Enterraria permanentemente o objectivo da UE como potência global, enterraria as políticas comuns e a democracia europeia”.

Pouco tempo depois de ser eleito, a 23 de Outubro de 2007, Sarkozy, em Tânger, desenvolvia uma das ideias do seu programa eleitoral - a de criar uma União Mediterrânica, com o intuito de tornar esta zona numa das mais ricas do mundo.


Nikos Markou, Grécia, 2003-2008

Ver aqui um interessante site como o mediterrâneo foi ocupado ao longo dos séculos).

Desde os países da UE sem fachada para o mar mediterrânico à Turquia, o discurso de Sarkozy em Marrocos foi alvo de duras críticas. No que respeita aos turcos, estes viram nesta União uma intenção de alternativa à sua entrada na UE.
Em 1959, o governo turco expressou formalmente o desejo de se associar à Comunidade Europeia. No mesmo ano, o governo de Atenas efectuava a mesma diligência.


Nikos Markou, Atenas, 2003-2008

Em 1981, a Grécia tornou-se o décimo membro da CEE enquanto a Turquia continua em negociações.


Nikos Markou, Grécia, 2003-2008

A Grécia é um dos países, que durante todos estes anos faz campanha contra a adesão da Turquia à Europa, e não é de estranhar atendendo às seculares divisões entre estas duas nações.


Nikos Markou, Grécia, 2003-2008

Em 1922, com a derrota da Turquia na Primeira Guerra Mundial, o império otomano, desmoronava-se sendo substituído por um Estado liderado por Kemal Ataturk. Os gregos que viviam há milénios na Península da Anatólia, a região como referem “onde o sol se ergue”, eram expulsos pelas tropas de Ataturk. Mas sem navios, acabaram por se refugiar nas ilhas mais próximas do litoral anatólio, que à época eram ocupadas por italianos.


Nikos Markou, 2003-2008

Em 1947, pelo Tratado de Paris, estas ilhas eram cedidas à Grécia, por estarem povoadas sobretudo por gregos. Durante um ano, entre Julho de 2006 e Julho de 2007, Paris Petridis, que juntamente com Nikos Markou fazem parte de uma nova geraçao de fotógrafos gregos, foi regularmente a Istambul, fotografar as escolas gregas, fundadas ainda na tradição de Bizâncio, o período de difusão do Helenismo.


Paris Petridis, Escolas Gregas, Istambul, 2006-07


Paris Petridis, Escolas Gregas, Istambul, 2006-07


Paris Petridis, Escolas Gregas, Istambul, 2006-07


Paris Petridis, Escolas Gregas, Istambul, 2006-07

Agora, as escolas que Petridis fotografou são as únicas que persistem na antiga cidade de Bizâncio, e as únicas onde se ensina o Grego na Península da Anatólia. Para o fotógrafo, este trabalho “foi como confrontar um traumatismo histórico”.

Embora a passagem seja estreita entre o litoral turco e as ilhas gregas do mar Egeu, mar pouco profundo,


Nikos Markou, 2003-2008

cujas ilhas resultaram da acção relativamente recente de dobras geológicas mais profundas, as divisões entre os dois países subsistem, porque a Grécia quer alargar os limites das suas águas territoriais de 6 para 12 milhas marítimas, como fizeram os outros Estados membros. A Turquia opõem-se veementemente e propôs ao Tribunal Internacional de Justiça um novo traçado das águas internacionais turcas que avançaria entre as ilhas nos estreitos maiores. Mas o grande desenvolvimento das actividades turísticas na costa turca do mar Egeu, incitou o governo de Ankara a evitar confrontos com os Gregos das ilhas em frente.


Nikos Markou, 2003-2008

Para além da geografia singular que a Turquia ocupa, entre o Mediterrâneo Oriental o Mar Negro e o Médio Oriente, o grande oleoduto Baku, Tbilissi Ceyhan, vulgo BTC, atravessa mais de metade do território turco. Com as reformas de Atartuk, a Turquia é hoje o único Estado oficialmente laico no seio do mundo muçulmano.

Os sucessivos adiamentos, desde há três décadas, da candidatura da Turquia à Comunidade Europeia, está a provocar na opinião pública turca uma grande oposição à Europa, por se sentirem vexados pelas sucessivas recusas de que o país tem sido alvo. As contínuas reticências da Europa, que não consegue tomar uma posição, estão a criar um barril de pólvora e um sério debate geopolítico que diz respeito às relações da UE com os países do Médio Oriente.


Nikos Markou,2003-2008

Será que Sarkozy, que se desdobra em reunir cimeiras para concertar o Mundo, conseguirá resolver um dos assuntos mais importantes da Europa?


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sábado, outubro 25, 2008

Quem somos nós?

Quinta-feira passada, numa audição do Congresso, Alan Greenspan, reconheceu que falhou na regulação do sistema financeiro dos Estados Unidos. Fervoroso defensor do mercado livre admitiu: “Cometi um erro ao confiar que o livre mercado pode regular-se a si próprio sem a supervisão da administração”. Com a crise terrível que desabou sobre o mundo, ninguém lhe perdoa.


Lars Tunbjörk, Stockbroker, Tokyo, 1999

Greenspan acreditou na visão cibernética, que no auge dos anos sessenta, proclamava que qualquer sistema está ameaçado pela desordem, mas da qual ao mesmo tempo se alimenta.


Lars Tunbjörk, Lawyer's Office, New York, 1997

Para os cibernéticos, perante uma crise, o sistema desencadearia novas soluções para ultrapassa-la, e a desordem, que chamaram de enriquecedora, era vista como a força capaz de transformar e inovar. A cibernética agrupava os mesmos princípios organizacionais, quer se tratasse de células, máquinas artificiais ou o homem e Greenspan confiou também, que a máquina financeira, mesmo perante o maior caos se auto regularia. Ninguém prestou atenção ao matemático Von Neuman (1966), que no final da sua vida chamava a atenção para as diferenças de organização entre um organismo vivo, por mais elementar que seja, e a máquina artificial, que uma vez constituída não pode senão degenerar, ao contrário do organismo vivo.
Na actualidade, máquina e homem, parecem um só.


Lars Tunbjörk, Computer Company, Tokyo, 1996

Como nos diz a ciência, um organismo complexo como o homem, tolerará só uma certa parte de desordem por muito automatizado que ele esteja. Quando células proliferam de forma descontrolada e vírus inimigos penetram no seu interior, o sistema imunológico, a partir de um certo limiar de desordem, entra em funcionamento para restabelecer a ordem, reprimindo a desordem interna e destruindo o desorganizador externo por intermédio da produção de anti-corpos. Mas por vezes a desordem atinge uma tal complexidade, que nem mesmo os anti-corpos salvam o indivíduo.

Em 1971, com um défice crescente e uma guerra dispendiosa no Vietname, Richard Nixon, acabava com o sistema de Bretton Woods. A livre flutuação do dólar teve como consequência imediata nas empresas o aparecimento de um novo risco – o risco cambial. No ano seguinte, a Bolsa de Mercadorias de Chicago criava o primeiro sistema de negociação de futuros cambiais, que permitia às empresas, tal como o sistema imunológico dos organismos vivos, eliminarem o risco. Seguiram-se outras estratégias, baseadas em fórmulas cada vez mais complexas, como a fórmula de Black-Scholes, que ao determinar a volatilidade de um activo, permitia aos investidores através do pagamento de um prémio estabelecerem um patamar de perca sobre esse mesmo activo. No virar do século, com a revolução nas tecnologias de informação, TI,


Lars Tunbjörk, Bank Tokyo, 1999

quem quisesse, no seu computador ligado à rede, podia negociar neste mercado que se tornou ainda mais global. Tal como os vírus inimigos que penetram nos organismos vivos, especuladores e políticos, com estratégias cada vez mais sofisticadas, imunizaram-se aos anti-copos do sistema durante algum tempo, mas seguiu-se a degeneração - a actual crise mundial.

Nos anos sessenta o homem via o comportamento animal como regido unicamente por reacções automáticas ou reflexas que tinham por função salvaguardar a sobrevivência e a reprodução. A cibernética, ao quebrar as barreiras entre as ciências, influenciou à época a Etologia que modificou essa ideia do homem. Konrad Lorenz, (1903-1989), comparava o comportamento humano ao comportamento animal, ao demonstrar que na vida animal o rito é um comportamento comunicacional que transmite uma mensagem com o fim de obter uma resposta. Lorenz explicava também, que em condições perturbadoras o animal reagia repetindo comportamentos rituais,


Lars Tunbjörk,Construction Company,Tokyo, 1999

desfasados, trabalhando em seco, e evidentemente sem resposta.


Lars Tunbjörk,Lawyer's Office, New York, 1997

Durante vários anos, 1994-99, Lars Tunbjörk, fotografou o homem em escritórios, no seu ambiente de trabalho. Japão, Estados Unidos e Suécia, onde nasceu, foram as cidades escolhidas para a sua série “Offices” (2001), que nos revelam a claustrofobia da sociedade de serviços. Lorenz, se ainda fosse vivo, veria nestas fotografias evidências, de que o rito comunicacional do animal (namoro, acolhimento, apaziguamento, amizade…), não são afinal comparáveis ao rito comunicacional do homem, pelo menos enquanto este se encontra no seu local de trabalho. Isolado, completamente absorvido no que faz,


Lars Tunbjörk,Food Industry, Tokyo, 1996


Lars Tunbjörk,Accounting Firm, New York, 1997

será difícil a Bobby soprar as velas com os colegas.


Lars Tunbjörk,Stockbroker, New York, 1997

Trabalhando em espaços homogeneizados, todos eles iguais,


Lars Tunbjörk,Software Company, New York, 1997


Lars Tunbjörk,Social Insurance Office, Stockholm, 1994


Lars Tunbjörk,Bank, Sioux Falls,New York, 1998

parece evidente, que muitas das suas aptidões se atrofiaram em benefício da especialização. Lorenz olharia para estas fotografias, como o homem já olhou para o animal – um organismo com comportamentos regidos unicamente por reacções automáticas ou reflexas para salvaguardar a sua sobrevivência.


Lars Tunbjörk,Stockholm, 1994


Lars Tunbjörk,Stock Brokerage, Tokyo, 1996

Alan Greenspan entendia que a auto-regulação financeira funcionaria porque os administradores teriam acima de tudo como objectivo defender os accionistas e os Bancos onde trabalhavam. Greenspan enganou-se porque não previu os riscos comportamentais.

Só nos resta então esperar, que na desordem em que o mundo actual se encontra, o homem seja ainda capaz de transformar e inovar este mundo num mundo melhor.



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quarta-feira, outubro 22, 2008

A Grande Depressão dos anos 30

Em 1928 ou 29, não se sabe bem ao certo, Walker Evans em Coney Island, fotografava a místula de sentimentos - alegria e terror - da gente que procurava no Luna Park de Nova Iorque momentos de fortes emoções.


Walker Evans, Coney Island, 1928-29

A 29 de Outubro de 1929, a sexta-feira negra que ainda hoje ninguém esqueceu, um “big bang” em Manhattan superava as emoções de Coney Island – o colapso da Bolsa desse dia iria mudar o destino de muitos homens. Era a Grande Depressão e para muitos o fim do capitalismo parecia não tardar.


Não é pois de estranhar que hoje se compare a actual crise financeira com a Grande Depressão dos anos 30. Saciada a liquidez bancária, a recessão económica é agora o centro das preocupações, e novamente, tal como a montanha russa de Coney Island, as descidas acentuadas das Bolsas fazem-se sentir mais uma vez. A consequência imediata, e como aconteceu nos anos 30, o número crescente, divulgado semanalmente, de milhares de pessoas que aumentam a taxa de desemprego.

Mas uma desgraça, como diz o povo, nunca vem só, e se em 1929, o desabar de Wall Street arrastou os bancos e as empresas para a falência, no Midwest, no celeiro da América, a chuva deixou de cair. “Na região cinzenta de Oklahoma…as nuvens apareceram e fugiram, e durante algum tempo, não voltaram a surgir…Chegou Junho e o sol queimava mais incisivamente,...o céu estava mais pálido, e, de dia para dia, a terra perdia a cor…o vento agora tornava-se mais rijo, soprando sobre a terra…a poeira mais fina não voltou a fixar-se na terra, desaparecendo no céu enegrecido”, John Steinbeck em “As vinhas da ira”, 1939. Se Steinbeck nos descreve a transformação do Oklahoma em pó, o fotógrafo, Arthur Rothstein, a trabalhar para a FSA, dá-nos em imagem as terríveis tempestades de areia, cujo pó, lhe provocou lesões permanentes no seu olho direito.


Arthur Rothstein, Fleeing a Dust Storm, Oklahoma, 1936

Curiosamente em 1930, um edifício de cento e dois andares – o Empire State Building, era construído não muito longe do local do “big bang”. A 1 de Maio de 1931, o então presidente Herbert Hoover, carregando num simples botão em Washington, D.C, fazia acender as luzes feéricas do edifício novaiorquino. O fotógrafo Lewis Hine acompanhou a construção, correndo os mesmos riscos dos milhares de trabalhadores da obra, que empoleirados na estrutura, a centenas de metros do chão, faziam equilibrismo sem rede.


Lewis Hine, Empire State Building,1931

Com a Depressão instalada, num país onde a miséria se alastrava,


Walker Evans, Arkansas, 1937

a maior parte dos andares permaneceram vazios, e rapidamente o edifício tomou a alcunha de Empty State Building. Só nos anos cinquenta é que o edifício se tornou rentável – e agora quem quiser compare esta obra com as megalomanias portuguesas.

No Outono de 1932, Franklin Delano Roosevelt, ganhava as eleições. A sua política do “New Deal” visava ajudar, regulamentar e reformar os vários grupos produtivos e económicos da nação. Ninguém foi esquecido, nem mesmo os artistas, que através da agência federal “Public Works of Art Project” lhes deu trabalho, ao encomendar grandes murais. Numa carta, 4/20/1933, a Hanns Skolle, Walker Evans escreve o seguinte: “Ben Shahn, (pintor que se tornará um dos melhores fotógrafos da FSA), is working with Rivera on a mural in Radio City, and that is exciting. I go up often and watch the procedure”.


Walker Evans, New York City, Diego Rivera Murals, 1933

No que respeita à fotografia, a agência “Resettlement Administration” (RA), criada em 1935, era dirigida por um professor de Economia, Rexford Tugwell. O seu fim – ajudar os agricultores e lavradores pobres. Simultaneamente Tugwell criou uma Secção Histórica, e escolheu Roy Stryker, um colega e também professor de Economia na Universidade de Colômbia, para a dirigir. Em 1937, esta Secção passou para o Ministério da Agricultura, e tomou o nome de “Farm Security Administration”, vulgo FSA, que se extinguiu em 1943. Através da fotografia, a FSA, tinha como missão, apresentar a América aos americanos,


Russell Lee, caixa de correio dum rendeiro de Oklahoma, Junho 1936

e conseguir que o Senado aprovasse as medidas urgentes para acudir aos mais necessitados. Arthur Rothstein, anos mais tarde recorda-se assim: “a tarefa era documentar os problemas da Depressão de modo a justificar o pacote legislativo do “New Deal” criado para aliviar esses mesmos problemas”.

O recente colapso de Wall Street, revela como hoje tudo mudou. Para salvar, com o uso dos recursos dos contribuintes, o Banco de Investimento Bear Stearns e o gigante AIG, os membros do Congresso foram simplesmente informados desta decisão de Henry Paulson, Secretário de Estado do Tesouro, e de Ben Bernanke Presidente da Reserva Federal.
Mas será que os políticos mudaram?
Em 1936, Rothstein fotografava, na terra seca e enrugada do South Dakota, uma caveira de um bezerro.


Arthur Rothstein, Crânio, Badlands, Pennington County, South Dakota, Maio, 1936

O fotógrafo fez várias exposições, e numa, chegou a arrastar a caveira dois a três metros para conseguir um fundo mais dramático. A imprensa logo soube e não tardou a denunciar que a imagem era uma aldrabice pegada, acusando o fotógrafo de andar com o crânio do bezerro de um lado para o outro. A polémica teve repercussões nacionais - 1936 era ano de eleições e tudo tinha conotações políticas, muitos queriam afastar Roosevelt da presidência. Poucos olharam para o sentido documental da fotografia - o gado que morria numa nação que sofria uma seca terrível.

O ‘corpus’ da FSA, um trabalho documental ímpar na história da fotografia está disponível neste site da Biblioteca do Congresso, onde estão reunidos 170 000 negativos e 70 000 imagens.
Stryker orgulhava-se de todo este trabalho documental não ter uma única imagem de Wall Street. Há dias, o fotógrafo da Magnum, Gilles Peress, disponibilizou na Internet o seu retrato da crise actual na América. As fotografias, que compõe em vídeo, mostram praticamente apenas Wall Street – o exemplo actual do fotojornalismo das notícias.



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segunda-feira, outubro 20, 2008

CO2

A segurança ambiental, que todos nós desejamos, depende de uma economia baseada no baixo carbono. As consequências ambientais, da nossa dependência aos combustíveis fósseis, são sobejamente conhecidas – efeitos de estufa, subida do nível das águas, alterações climáticas, o degelo no Árctico…


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Just Outside Sous,1961

O nosso futuro, como também todos nós sabemos, depende das estratégias que hoje forem definidas para alterar o actual estado do mundo.

Na semana passada, a forma como a União Europeia (UE), se uniu para fazer face à crise financeira, garantindo para já a liquidez monetária, impressionou o mundo. O plano de Gordon Brown, mostrava aos americanos as fragilidades do plano Paulson, e Sarkozy, com o seu voluntarismo e persistência mostrava aos europeus, que em situações de crise, a Europa tem quem a comande.
Se o consenso no plano de resposta à crise financeira foi um sucesso, o consenso face às reduções de emissão de dióxido de carbono, poupança energética e transição para as energias renováveis foi um fracasso. Itália e vários outros países de Leste, contestaram veementemente o acordo definido no ano passado pela UE. Berlusconi definiu a situação :” as empresas não estão absolutamente em condições de suportar os custos da regulamentação proposta, sobretudo devido à crise económica e financeira”. Mais uma vez se adia medidas que são tão ou mais urgentes que a actual crise económica.

No início do século XX, os avanços na física moderna permitiram ao homem explorar novos mundos. Se à época, na maior parte dos países a física pertencia ainda aos laboratórios universitários, na Alemanha, as ligações entre a indústria e os laboratórios de investigação era uma realidade.


Albert Renger-Patzsch, Laboratory Glasses, Schott Galssworks, Jena, 1934

Por exemplo, o grande laboratório da Universidade de Leyden tinha ligações estreitas com a indústria de refrigeração e os institutos Kaiser-Wilhelm-Gesellschaft, de Berlim-Dahlem, fundados em 1911, eram uma consequência do interesse da indústria pesada alemã pela investigação científica. A indústria química e eléctrica, que deviam a sua existência inteiramente à ciência,


Albert Renger-Patzsch, Insulators, 1927

transformavam cientistas, como os Siemens, em homens de negócios. No virar do século, a Grã-Bretanha, o primeiro país a industrializar-se, era agora ultrapassado pela crescente indústria alemã, e a região do Ruhr, rica em carvão, passou a ser o coração industrial da Europa.
A indústria transformava a economia agrícola da região numa economia do carvão e do aço. As pequenas cidades e aldeias agrícolas do Ruhr, eram engolidas por cidades industriais, de extensa aglomeração urbana.


Albert Renger-Patzsch, Landscape near Essen, c. 1930

Construíram-se edifícios para albergar os operários que trabalhavam nesses complexos industriais, onde enormes chaminés, dominavam, numa escala sobre-humana.


Albert Renger-Patzsch, Victoria Mathias Mine in Essen, 1929

A partir de 1926, no Ruhr, Albert Renger-Patzsch, fotografa a transição e as alterações dessa paisagem, onde em vez das árvores todas diferentes as chaminés que se repetem dominam.


Albert Renger-Patzsch, Cool Mines at Essen, Schoenebeck, 1929

A ausência do homem é patente nas suas fotografias, e quando aparece serve para dar escala,


Albert Renger-Patzsch, Blast Furnace Works in Duisburg, 1928


Albert Renger-Patzsch, Ruhrchemie, Oberhausen-Holten, 1933-34

como fizeram no Egipto, os fotógrafos que nos primórdios fotografaram as pirâmides.

Para Renger-Patzsch a identidade do Ruhr está nos subúrbios de Duisburg, nos complexos industriais, nas habitações dos mineiros,


Albert Renger-Patzsch, Back Tenements near the Zinc Works in Essen, 1930

nas casas rurais que persistem


Albert Renger-Patzsch,Landscape near Essen, Rosenblumendelle Mine in the Background, 1928

e nas estradas periféricas de Essen.


Albert Renger-Patzsch,Country Road near Essen, 1929

Trinta anos depois, 1957, o fotógrafo de Praga, Josef Sudek, nas estradas periféricas da região mineira de Litvínov e Most, na Checoslováquia,


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Sight of Quido from Komorany, 1959

fotografa as transformações da paisagem, provocadas pela indústria.


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1961


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Former Horni Záluzi, 1962


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1962


Josef Sudek, do livro Sad Landscape, Air-duct to the chemical factory, 1961

Em primeiro plano, as árvores que morrem de pé,


Josef Sudek, do livro Sad Landscape,Long-flooded alleyway, 1962

ao longe, muito ao longe, as chaminés fumegantes que se repetem,


Detalhe

vêem-se dificilmente.

Nos finais dos anos setenta, a desactivação da exploração mineira no Ruhr, levou a região a ter que apostar em novas tecnologias e serviços.

O português Luis Palma, em 1999, na região Basca fotografa da estrada


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Barakaldo

os vestígios de uma indústria obsoleta. Na sua série - “Landscape, Industry, Memory”-restam só as memórias de uma arqueologia industrial em vias de desaparecimento.


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Sestao


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Olaberria


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Donostia


Luis Palma, da série, "Landscape, Industry, Memory", Behobia

Mas a indústria poluente, não é só passado e memória, e na cimeira que decorreu na semana passada, Angela Merkel, que há um ano propôs aos 26 outros países da UE uma estratégia ambiciosa contra o aquecimento global – conseguir até 2020 reduzir 20% dos gases com efeito de estufa, sobretudo o dióxido de carbono, congratulou-se com o fracasso das negociações, pois a Alemanha, continua a ser um país com uma base industrial importante, que o seu Governo agora quer proteger. Os custos da transição para uma economia europeia pobre em carbono,adiaram mais uma vez a protecção do ambiente.
Num mundo que se globalizou, a mentalidade não muda.



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