quarta-feira, junho 11, 2008

A brincar ao gato e ao rato

O Mundo está em polvorosa com o preço que pagamos nas bombas de gasolina pelo precioso “ouro negro”, e na Europa, a greve dos camionistas começa a afectar a vida de todos nós, em Lisboa, do dia para a noite, algumas bombas já esgotaram e estão fora de serviço.

Martin Parr, Eslovénia, 2004

Panos Kokkinias, Gas station, 2003



Em Janeiro, quando os contratos de futuros do crude no Nymex, chegou aos 100 dólares, escrevi um post sobre “O preço do ouro negro”, uma barreira mítica era ultrapassada.

AFP, Frank Perry, 2008

Se olharmos só para os anos mais recentes, a subida do preço do petróleo não pára: em 2003 custava 30 dólares, em 2004, 50 dólares, em 2005, 70 dólares e agora em 2008, já está próximo dos 140 dólares.

Todas as manhãs somos informados sobre o que acontece em todo o Mundo, e todas as manhãs essas informações chegam-nos sempre impregnadas de explicações. O Mundo vive hoje de informação comprovada no imediato, mas acima de tudo o Mundo vive hoje de informação que tem de surgir como algo compreensível por si próprio, precisa de ser plausível, e ao leitor é sempre imposta uma coerência, sendo-lhe negado qualquer interpretação. Curiosamente fixamos mais facilmente na nossa memória informações que são sóbrias e precisas, as informações explicadas só são válidas enquanto são actuais, só vivem um momento, rapidamente se gastam, porque nos esquecemos facilmente, e as explicações abundam, porque num dia se pode estar a negar o que se disse na véspera.

E tudo isto a propósito do preço do ouro negro. Até aqui, todos explicaram as origens da subida, com a explosão da procura dos grandes países emergentes, China e Índia, com a incapacidade das refinarias aumentarem a produção, e com a destreza dos gestores, que antecipando a sua falta, começaram a investir no ouro negro. As explicações eram plausíveis e o Mundo acreditou. Os riscos geopolíticos sempre existiram, quem não se lembra das bichas para encher os depósitos nos anos 70?

Não é só a Europa que está preocupada com a subida do preço do petróleo, na América,

Stephen Shore, Mineral Wells, Texas, June, 1972

ao Presidente Bush explicaram-lhe as razões da subida. Dinâmico, Bush foi a Ryad e pediu a quem manda que aumentassem a produção. Responderam-lhe “você está enganado, a procura não aumentou, se o preço subiu não tem a ver com a procura, procura e oferta estão equilibrados, procure a explicação nos mercados bolsistas”. Segunda feira passada os sauditas reiteraram o que disseram a Bush: “Não aumentam a produção porque a procura não aumentou, a razão da subida está na especulação”. Se a procura não aumentou, o problema da refinação também já não serve. Resignado, Bush, regressou à sua terra, e pediu ao Secretário do Tesouro, Henry Paulson que lhe explicasse o que se passava. Paulson disse-lhe “olhe que a subida do preço não se deve às apostas nos mercados bolsistas, as posições curtas/longas dos contractos de futuros sobre o crude estão equilibradas, a razão da subida está no aumento da procura”. Paulson tem razão, na semana passada foram divulgados as rentabilidades de 97 Hedge Funds especializados no sector, e surpreendentemente a média não ultrapassa os 3% desde o início do ano, no ano passado com o preço abaixo dos 100 dólares, a média foi de 16%. Em contraste, o preço do petróleo subiu, desde o início do ano mais de 40%. As apostas na Exxon Mobil,

Jeff Brouws, Mobil/Atrelado, Inyoken, Califórnia, 1991

por exemplo, saíram mesmo furadas, a empresa, até Maio apresentava uma rentabilidade negativa de 7%. Agora o Mundo fica inquieto, já não sabe como explicar…

Desde tempos remotos que o Homem precisa de bodes expiatórios para sossegar. Há falta arranja-se um: Henry Ford. Não foi afinal Henry Ford, que no início do século XX, revolucionava o mercado automóvel na América? Não foi na sua fábrica de River Rouge, em Detroit, que das cadeias de montagem saiam aos milhares um modelo utilitário e económico, o Ford T (1908)?

Walker Evans, Main Street, Saratoga Springs, New York, 1931

Não foi o empreendedorismo de Ford, que espalhou por todo o continente uma rede de oficinas e que fez o mercado automóvel passar dos milhares para os milhões? Não foi com Ford, com a sua produção em série, que a estrada macadamizada se generalizou por todo o mundo? Não foi o automóvel que reduziu a importância do caminho de ferro?

Walker Evans,

Walker Evans, Roadside View, Alabama Coal Area Company Town, 1938

Rudy Burckhardt,

Rudy Burckhardt, Untitled. Do álbum An Afternoon in Astoria, 1940

Edward Ruscha anos depois, mas a olhar para Evans,

Ed Ruscha, 1962

Ed Ruscha, do livro Twentysix Gasoline Stations, 1962

Ed Ruscha, do livro Twentysix Gasoline Stations, 1962

Ed Ruscha, do livro Twentysix Gasoline Stations, 1962

Ed Ruscha, pintura, Standard Station, 1966

é que se fascinaram pelo empreendedorismo de Ford, e as bombas de gasolina, que encontravam pela estrada fora, um tema favorito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Con toda esta colección de gasolineras que ofreces se me viene a la mente: "floating logos" de Matt Siber, supongo que lo conocerás.

Un saludo, Miguel

Madalena Lello disse...

Miguel, obrigado pela achega de Matt Siber,um abraço.