O ano de 2007 está prestes a terminar, e a Fundação Calouste Gulbenkien chegou também ao fim com as comemorações dos seus 50 anos de actividade, mas no Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão, o homem que com a sua sabedoria e inspiração transformou o sonho de Calouste Gulbenkien em realidade, ainda se pode ver “Ida e Volta: Ficção e Realidade”, uma exposição magnífica, como magníficas foram as exposições num ano de comemorações.
O projecto de arquitectura desta exposição de vídeos, realizado pelo Bureau des Mesarchitectures, ressalta à vista, pois logo na entrada, um dispositivo composto por três ecrãs mostra os visitantes que já circulam na exposição e nos antecipa assim os espaços que iremos presenciar a seguir. Ao lado da porta que nos dá então acesso aos vídeos, um alerta diz-nos que os nossos movimentos serão filmados a partir daí pelas câmaras de vigilância. E já no espaço, ao longo de todo o comprimento da sala, portas entreabertas, só com o nome do artista inscrito, convidam o visitante a entrar.
Mas na ante-câmara de cada “box”, um ecrã plasma, mostra quem passeia no exterior dos jardins, é o ver e o ser visto tão em voga na arquitectura actual.
Magnífica também a escolha dos vídeos, todos recentes, excepto “La Jetée”, 1962 de Chris Maker (n.1921). “La Jetée”, um “Photo-Roman” de uma outra geração que viveu a segunda guerra. “La Jetée” um “Photo-Roman” de outras ficções em que cientistas sobreviventes da terceira guerra mundial enviavam emissários à terra,
Chris Maker, La Jetée, 1962
e na terra, o deambular pelos espaços que o emissário vai reconhecendo: os museus, as estátuas, os jardins, onde encontra a mulher, que outrora, num passado já distante o obcecava. A ficção de regressar ao passado, num futuro, para compreender o presente.
Chris Maker, La Jetée, 1962
Chris Maker, La Jetée, 1962
“La Jetée”, um “Photo-Roman”, com uma criatividade e inovação, tão distante da fotografia ainda humanista da época, que parece só ter despertado, uns anos mais tarde com o abanão dos estudantes no Maio de 68. “La Jetée”, um “Photo-Roman”, realizado a partir de fotografias fixas, pois Chris Marker apenas escolhe uma das vinte e quatro imagens que constituem cada segundo de película, e no fim, a informação: trata-se de um "Photo-Roman". “La Jetée”, o “Photo-Roman” que nos revela um outro tempo, o tempo em que em criança se ia ao aeroporto dizer adeus aos aviões, o tempo em que o jovem rapaz fica impressionado com o rosto de uma mulher que vê morrer um homem no pontão de Orly, um outro tempo, em que nesse mesmo pontão reencontra a mulher que procura, mas quando corre para se lançar nos seus braços é abatido, “La Jetée” é o “Photo-Roman” de uma geração que parece assistir à sua própria morte.
Mas, como já se disse, “Ida e Volta: Ficção e Realidade”, é composta por vídeos feitos por uma geração actual, onde outras ficções, realidades e propostas contrastam com as preocupações da geração de “La Jetée”.
Em “Infrastructure”, 2002, de Rachel Reupke (n.1971), a ficção de um futuro próximo de uma paisagem nos Alpes, o desmoronar do que resta de uma natureza sublime.
Rachel Reupke, Infrastructure, 2002
“Silberhöhe”, 2003, de Clemens Von Wedermeyer, (n.1974) a demolição dos edifícios da antiga Alemanha Oriental,
Clemens Von Wedemeyer, Silberhöhe, 2003
para os substituir por novas casas, estilo Bauhaus, como nos conta o vendedor de casas que vemos no seu outro trabalho “Die Siedlung”, 2004. Os “não lugares” de outrora, transformam-se noutros “não lugares”,
Clemens Von Wedemeyer, Silberhöhe, 2003
onde a câmara testemunha a estagnação e o impasse em implementar os novos (?) planos urbanísticos. É um trabalho em vídeo que entra em diálogo com “Outras Zonas de Contacto”, a exposição que ainda se pode ver no Museu da Cidade, onde a paisagem urbana, de Ruff, Struth e Gursky, se tornou tema recorrente na Alemanha dos anos 80.
Com Jordi Colomer (n.1962), em “Arabian Stars”, 2005, viajamos, com os cidadãos que encenam carregando cartões coloridos nos quais estão escritos o nome dos famosos locais, (Michael Jackson, Picasso, Zidane...), desde as periferias dos “não lugares” aos centros urbanos.
Jordi Colomer, Arabian Stars, 2005
Jordi Colomer, Arabian Stars, 2005
Jordi Colomer, arabian Stars, 2005
E na última porta o fantástico “Fantôme Afrique”, 2005, uma projecção em ecrã triplo, de Isaac Julien (n.1960). É o seu olhar crítico para as novas contruções de tradição europeia, numa África que tende a perder a beleza da sua identidade.
Isaac Julien, Fantôme Afrique, 2005
Isaac Julien, Fantôme Afrique, 2005
Isaac Julien, Fantôme Afrique, 2005
Isaac Julien, Fantôme Afrique, 2005
Isaac Julien, Fantôme Afrique, 2005
“Ida e Volta: Ficção e Realidade” é o testemunho de um mundo real que se transforma numa ficção universal.
sábado, dezembro 29, 2007
Ida e Volta: Ficção e Realidade
Etiquetas:
Mundos Artificiais
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1 comentário:
Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.
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