quarta-feira, abril 11, 2007

Man Ray regressa à Baixa de Lisboa

Assisti ontem na Fnac ao lançamento do livro que também inclui o dvd “Sob Céus Estranhos, uma história de exílio” de Daniel Blaufuks.

Centrando-se na relação fotografia e literatura, Richard Zenith apresentou a obra de Blaufuks. “Collected Short Stories” (2003), diz-nos, “é um livro aberto, é uma espécie de “prosa de instantâneos” deixando o leitor imaginar as suas histórias pessoais”.
“Sob Céus Estranhos, são as minha memórias, as memórias da minha família, que escolheu este país como local de exílio. O livro, pensado primeiro acabou por sair só agora, depois do filme. Mas o filme é também uma narrativa”, diz-nos Blaufuks. Este livro encanta-me, e considero que filme e livro vivem de mãos dadas, nenhum anula o outro. Portugal foi um país de trânsito e não de exílio, foi um corredor para outros destinos, uma sala de espera incómoda. Só um total de cinquenta, incluido os meus avós, ficaram em Portugal”, lembrei-me de Man Ray. Curiosamente, já em casa li no livro “Dos que seguiram caminho, pouco ou nada ficou. Nos museus portugueses não existem por exemplo, obras de Marc Chagall, Max Ernst ou de Man Ray. Nas memórias dos escritores Heinrich Mann, Hans Sahl e Hertha Pauli, Lisboa não merece mais do que um breve capítulo ou uma nota de rodapé”.
Em Outubro de 2000 o Museu do Chiado expunha a colecção de Giorgio Marconi, colecção extensa e qualificada do artista Man Ray.
Gostei da coincidência, o Museu do Chiado na Baixa lisboeta apresentáva a obra de Man Ray. Escrevi então na altura, “Man Ray regressa à Baixa de Lisboa” um texto sobre a exposição. Enviei-o para vários jornais, nenhum me deu resposta. Começava assim : “Em Julho de 1940, Man Ray hospeda-se no Hotel Francforte na Baixa lisboeta. Aguarda vaga num navio que o levará de regresso aos Estados Unidos. Americano, com residência em Paris, deixa a cidade dos seus sonhos quando esta é ocupada pelas tropas Nazis. O retorno aos Estados Unidos deprimi-o, é-lhe difícil regressar ao país que o fez emigrar” e terminava “Após sessenta anos Man Ray regressa à baixa lisboeta e quem visita a exposição regressa ao espírito dadaísta dos anos vinte”.
Lera, a biografia de Man Ray escrita por Neil Baldwin
que diz o seguinte: “Man Ray and Virgil Thomson took a sleeper train from Irún, a small town on the Spanish border, straight through to Lisbon, arriving on July 25. And then the waiting game began. The city was, Man Ray wrote Elsie, “a madhouse filled with refugees from all over Europe,” all with the same purpose, to find a scarce berth on one of the steamships and get out, quickly. Staying with Thomson at the Hotel Francfort, Man Ray wrote to his New York bank, the Trust Company of North America, authorizing the release of four hundred dollars from his account to pay for a ticket at the American Export Line offices there. Gala Dali was also in Lisbon, trying to arrange passage for herself and her husband, while Salvador paid a farewell visit to his father in Figueras, Spain, and then spent a week in Madrid. The Dalís had followed much the same route as Man Ray, fleeing Bordeaux before the bombings began there. Finally, on August 6, the Excambion, of the American Export Line, departed for New York. Among the illustrious passengers were Man Ray, the Dalís, Thomson and Suzanne Blum, and film director René Clair and his wife, Brogna”.

Ao contrário dos avós de Blaufuks, Man Ray e todos os outros seguiram caminho, Lisboa não merece mais do que esta breve referência.

1 comentário:

sem-se-ver disse...

o filme é excelente, gostei imenso. sendo assim, não me admira nada que o livro também o seja. e, naturalmente, um não anulará o outro. óptima iniciativa editorial esta; como, por exemplo e já agora, a de edições similares do pedro costa ou do godard. é bom.