quarta-feira, abril 18, 2007

As florestas da Silésia

O Brilho das imagens, Pintura e Escultura Medieval do Museu Nacional de Varsóvia (séculos XII-XVI), está em exposição no Museu de Arte Antiga em Lisboa.

Logo à entrada da exposição dois mapas situam-nos sobre a origem geográfica das obras. Quando se fala em séculos XII-XVI, pensamos no eixo Flandres-Itália, os pólos criativos e irradiadores dos modelos da Idade Média e Renascimento. Porém as obras em exposição são um contraponto a essa noção. É um privilégio ver em Lisboa, obras artísticas dos séculos XII-XVI, vindas da Silésia, uma região central da europa. Á antiga Silésia, que tinha Wroclaw como capital, pertenciam regiões que hoje fazem parte da Polónia, Républica Checa e Alemanha.

No catálogo lemos “No princípio do século XIII, a paisagem da parte ocidental da Silésia e da região dos Sudetas era marcada por densas massas florestais.” A região da Morávia e dos Cárpatos que pertenciam à Silésia, fazem hoje parte da República Checa. Josef Sudek (1896-1976), fotografou as florestas da Morávia durante longos anos, (1955-1970),
Jitka Hanzlová (1958), a geração seguinte fotografa as florestas nas montanhas dos Cárpatos.
As fotografias de Sudek são o reflexo do seu estado interior. Quando as tropas nazis entraram em Praga, 1939, Sudek refugiou-se no seu pequeno estúdio. Fotografava o jardim que via através da janela e com os restos das suas refeições criava naturezas mortas.
Josef Sudek, Still Life, 1940-54
Mais tarde, durante os anos do comunismo, Sudek continua a fotografar no seu estúdio
Josef Sudek, Still Life, c.1968
Josef Sudek, Still Life, 1968
e na floresta de Beskydy no Norte da Morávia.
Josef Sudek, 1950
Josef Sudek, 1965
Josef Sudek, da série Vanished Statues, 1950-1974
Agora é o caos e a desordem que emergem dos seus trabalhos, é a sua reacção às regras impostas pelo estalinismo. Hoje, o trabalho de Jitka Hanzlová “Forest” (2005), revela um novo sentido. É a nova geração que embora memorize o vazio, o cinzento e o silêncio do passado, consegue ver luz.
Jitka Hanzlová, Forest, 2005
Jitka Hanzlová, Forest, 2005
Jitka Hanzlová, Forest, 2005
Jitka Hanzlová, Forest, 2005
As fotografias de “Forest” são tiradas perto da aldeia onde nasceu, Rokytník, onde regressou em 1990 depois do exílio na Alemanha. É o choque de culturas entre Essen e a sua aldeia natal. Quando quer fotografar vai sózinha para a floresta densa nas montanhas e conta-nos as suas experiências: “I went to the forest-hills early in the morning when the forest awakes...The darkness of the light and this other silence made my hair stand on end...I could not exactly place the fear, but it was coming from the inside. It was the first time I felt this so intensely, but not the last. I escaped! What’s the basis of this fear of mine? Why? I’m not afraid of animals or of the forest. The place is safe”.
Mas os danos das guerras também atingiram os tesouros artísticos, produzidos durante séculos nessa região da Silésia. Todas as obras expostas, agora no Museu de Arte Antiga fazem parte do riquíssimo acervo do Museu Nacional de Varsóvia. Hoje o museu possui uma vasta e valiosa colecção de obras de arte, graças aos planos de recuperação empreendida pelo Estado polaco e por patrocinadores particulares. Durante a segunda guerra mundial, a maior parte do acervo do museu foi desviado para a Alemanha. O roubo sistemático das obras durou todo o tempo da guerra, mas o pior estava reservado para o fim. Com a revolta de Varsóvia, em Agosto-Setembro de 1944, o edifício do museu foi ocupado pela tropas de combate da Wehrmacht e das Waffen-SS. Os soldados não só saquearam como destruíram deliberadamente o que ainda restava no museu. Derivado desse vandalismo, muitos dos retábulos que vemos na exposição estão incompletos.

No próximo post vamos olhar então para as obras.

2 comentários:

Maria João Capute disse...

Estou realmente agradecida por partilhar estas informações na blogosfera.

spring disse...

olá!
o texto que lemos e as imagens que lhe servem de suporte convidou-nos decididamente a visitar a exposição, iremos passar por lá este fim-de-semana.
cumprimentos cinéfilos
paula e rui lima