sexta-feira, abril 27, 2007

Última visita a Ingenuidades

A exposição Ingenuidades termina dentro de dias, 6 de Maio, e ontem finalmente assisti à penúltima visita guiada com o comissário. Aguardávamos na entrada principal, quando Jorge Calado nos surpreende: por onde querem começar, pelo fim ou pelo início? Percebia-se que Calado queria experiênciar a visita a começar pelo fim...disse-nos: a sala tem duas entradas o que possibilita ao visitante percorrer o caminho nos dois sentidos, do princípio ao fim e do fim para o princípio, ou seja da escala do homem e mulher para a do universo e vice-versa, ... as mensagens são diferentes mas equivalentes. Gostei deste acaso e do desafio, há dias escrevera que só conseguia percorrer a exposição num sentido, do princípio para o fim...
Deixámos então a sala com a versão do Génesis “...no princípio, criou Deus o céu e a terra...” e percorremos a grande sala até chegarmos à Antárctida, onde na paisagem gelada e imaculada sentimos o ar limpo,

Joan Myers, Telescópio Vibora, Pólo Sul, 2002
AR a última conquista da engenharia, onde se espera em breve a entrada ao serviço comercial deste superjumbo – o Airbus 380, com capacidade máxima para 850 passageiros, diz-nos Calado.
Mark Power, Airbus 380,St Nazaire, França, 2004
E começamos então a percorrer a sala de costas para o fim, esta fotografia diz-nos Calado, é o ponto que nos leva a entrar no Fogo.
Dean Sewell, Árvore a Arder, 18 Janeiro 2003
E com as histórias que vai contando iniciamos a viagem em sentido inverso. O Fogo vem da terra e vem do ar, às vezes vem também da àgua. Hà uns 500 milhões de anos a Antárctida estava perto do Equador, foi o movimento das placas téctónicas que deu origem à separação dos continentes, mais ou menos tal como hoje os conhecemos. A actividade vulcânica está associada aos movimentos e deslizes das placas tectónicas que formam a crosta terrestre, o vulcão marítimo Surtsey, como aconteceu em 1963 ao largo da costa da Islândia deu origem à formação de uma pequena ilha, Surtur. Foram proibidas as visitas pois um dos objectivos era estudar o aparecimento gradual da vida, continua-nos a contar Calado. Como a actividade vulcânica durou três anos e meio, começaram a surgir as primeiras formas primitivas de vida e a se registarem as visitas de animais voadores, que aí encontraram, pela larva morna, o local ideal para chocarem os ovos. Ernst Haas fotografou o vulcão em plena actividade em 1965.
Ernst Haas, Vulcão Surtsey, perto da Islândia,1965
O vulcão Surtsey emergiu na crista a meio do Oceano Atlântico que separa as placas euroasiática e norte-americana. Aquela crista atravessa diametralmente a Islândia, como podemos ver nesta fotografia de um jovem português, Carlos Miguel Fernandes em Thingvellir.
Carlos M. Fernandes, Thingvellir, Islândia, Setembro 2006
O vale indica a separação das duas placas, América, para um lado, e Eurásia para o outro.

Estamos agora perto da outra fotografia que Calado nos assinala como fulcral para a viagem que viemos a fazer em sentido inverso e diz: a ânsia de voar é tão velha como a humanidade,
José M. Rodrigues, Amesterdão, ("O Salto"),1984
lembremo-nos de Leonardo Da Vinci, que na tentativa de fazer máquinas voadoras imitou as aves. Com José Manuel Rodrigues regressamos ao AR.

Como comissário, Jorge Calado gosta de evocar fotografias pela sua ausência, fê-lo em Pedras e Rochas (2003), em que a fotografia da pedra de Gérard Castello-Lopes “...é a grande ausente-presente desta exposição” escreve Calado no catálogo da mesma.
Em Ingenuidades, Calado faz o mesmo, ao passarmos os arranha-céus e a Engenharia Civil, lemos o seguinte no catálogo de Ingenuidades: “ ...o Empire State Building readquiriu (depois da destruição das torres gémeas) o estatuto do edifício mais alto de Nova Iorque. Apenas uma nota para acrescentar que só muito mais tarde Portugal entrou – timidamente – na corrida. Com os seus modestos doze andares, o número 3 da Praça de Londres, em Lisboa, projecto (1951) de Cassiano Branco (1897-1970), foi considerado o primeiro arranha-céus de Portugal.”
Pela ocasião do cinquentenário do falecimento de Duarte Pacheco, (1994) o Instituto Superior Técnico, IST, decide homenagear o aluno, o engenheiro, o professor e o director, que foi Duarte Pacheco.
Num projecto conjunto, Jorge Calado, (professor no ist) e Augusto Alves da Silva (antigo aluno), editam o livro ist. Augusto Alves da Silva é o grande ausente- presente de Ingenuidades. Nesta fotografia do telhado do ist, vê-se o edifício nº 3 da Praça de Londres.
Augusto Alves da Silva do livro ist
Mas não é só por esta descrição no catálogo que chegamos a Alves da Siva, também na exposição a associação a Alves da Silva é patente. No tema o Corpo prolongado, António Júlio Duarte tira esta fotografia “desta complexa estrutura aracnídea desfrutando uma bela vista”.
António Júlio Duarte, Sem título, (da série "Investigação Científica"), Instituto de Sistemas e Robótica /Pólo do I.S.T., Lisboa 2003
Se António Júlio Duarte nos dá a ver o interior do novo pólo do I.S.T. (Instituto Superior Técnico), Augusto Alves da Silva dá-nos a perspectiva exterior do mesmo edifício.
Augusto Alves da Silva do livro ist
Augusto Alves da Silva do livro ist

No próximo Domingo, pelas 16 horas, Jorge Calado fará a sua última visita guiada, quem ainda não foi não perca esta excelente oportunidade.

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