Nos anos pares, de 1986 até 2000, e em conjunto com a Fotobienal de Vigo, muitos fotógrafos (51 no total), foram convidados por Manuel Sendón e Xosé Luis Suárez Canal, a passarem alguns dias em Vigo a fim de participarem no projecto Vigovisións. Estabeleceram, os organizadores e os fotógrafos, que da obra produzida, um mínimo de dez fotografias passaria a propriedade do Ayuntamiento de Vigo por um valor de 100.000 pesetas (nas últimas edições 150.000). Durante oito anos, Vigo, cidade pouco atraente turisticamente, foi amplamente fotografada e hoje esta cidade, capital da Galiza, entra na história fotográfica
Histoire de la Photographie, André Rouillé e Jean-Claude Lemagny, o texto é do cap.11 de A.Rouillé "La Photographie au-delà de la photographie". Fotografia Paul Graham, Vigo.
como uma referência devido à capacidade dos organizadores que surpreenderam com os fotógrafos que convidaram.
Paul Graham, autor da fotografia,
Paul Graham, Vigovisións, 1988
e participante no projecto em 1988, comenta as profundas transformações por que passava a fotografia nesses anos, e numa entrevista revela : “Sou um apaixonado pela fotografia e considero-me um fotógrafo” e continua “durante anos a fotografia manteve com o real uma relação particular e única e bastava ao fotógrafo sair à rua munido de máquina fotográfica e observar o mundo que se estendia a seus pés. Mas o mundo esgotou-se porque a nossa percepção com a realidade mudou. Hoje o mundo real está dentro de nós e um misto de estímulos, interiores e exteriores, passados e presentes, fazem parte da nossa consciência. Mas a fotografia, ao contrário das outras artes, pela estreita relação e dependência com o real não ultrapassou bem este desafio, mas a fotografia nunca esteve em crise. Utilizei a fotografia tornando visível o invisível, criando imagens que vão para além do que está à superfície. De 1988 a 92 viajei pela Europa e interessei-me pelo peso que o passado exerçe em cada sociedade, o fardo da história, por assim dizer, e centrei-me na forma como hoje esse passado interage com a vida quotidiana. “New Europe” foi o resultado desse trabalho. Esta percepção tornou-se mais profunda com as minhas viagens ao Japão. O Japão é hoje um país traumatizado pela sua história recente, mas superficialmente parece viver uma gigantesca amnésia colectiva. O que me interessa é desvendar o que aparentemente nos parece inacessível.” O trabalho realizado em Vigo
Paul Graham, Vigovisións, 1988
faz parte do livro “New Europe”, editado em 1993, e que os críticos vêem “como um poema visual sobre a Europa de hoje”.
Graham nasceu em Inglaterra e quando em 1988, foi convidado para ir a Vigo estava ainda no início deste seu trabalho. Graham percebera que a fotografia documental a preto e branco se esgotara, mas ultrapassa a limitação a que a fotografia parecia condenada criando um novo conceito de documento. Allan Sekula, na américa propõe também ele um outro conceito de fotografia documental e juntamente com as fotografias o texto fará parte integrante do seu trabalho. Em Vigo, “Vinte mil léguas submarinas” de Júlio Verne servirá de inspiração e escreve “Mensaje en una botella”, que acompanha com as fotografias.
Allan Sekula, Vigovisións, 1992
Allan Sekula, Vigovisións, 1992
Do trabalho realizado em Vigo, Sekula inclui-o em "Fish Story" (1989-1995), que já tivemos oportunidade de falar.
Mas os organizadores de Vigovisións procuraram a diversidade e pluralidade de visões e a riqueza da colecção, pertença do Ayuntamiento de Vigo, é rica precisamente pela diversidade de critérios artísticos. Olhando para a colecção percebemos as transformações que foram ocorrendo na fotografia, da uniformização do pequeno formato, do predomínio do preto e branco na fotografia documental e subjectiva,
Guy Hersant, Vigovisións, 1986
Jorge Molder, Hospital Municipal, Vigovisións, 1986
para ao longo das edições se assistir à manipulação digital,
Carole Condé & Karl Beveridge, Vigovisións, 1994
à utilização da cor e do grande formato.
Paul Reas, Vigovisións, 1990
Xulio Correa, Vigovisións, 1992
John Kippin, Vigovisións, 1994
Procurava-se ritmo, sequência, e escala nas montagens fotográficas, e a utilização de dípticos foi uma das formas encontradas. O austríaco Manfred Willmann, envereda por uma narrativa descontínua composta à base de fragmentos e no jogo de opostos, criando dípticos que contrastam o mundo da pesca e a vida nocturna.
Manfred Willmann, Vigovisións, 1988
Manfred Willmann, Vigovisións, 1988
Para o alemão Wilmar Koenig, os dípticos são perfeitos para as analogias formais de naturezas opostas, que ele tanto gosta de juntar.
Wilmar Koening, Vigovisións, 1990
A fotografia, como qualquer outra arte, está em contínuo processo de transformação e à época, as fronteiras entre as diferentes artes desvaneciam-se cada vez mais. Muitos artistas apropriaram-se da fotografia e separaram-na cada vez mais da sua condição imitativa. O polaco, Wojciech Prazmowski, ultrapassa os limites físicos da fotografia, e incorpora nos seus objectos tridimensionais feitos de fotografias que representam portas de armazêns de pesca junto à beiramar da Ria de Vigo e fácilmente reconhecidas pelas portas idênticas só os nomes mudam, Pescamar, Ignacio Nuñez, Pescados Balado..., outros materiais como cordas.
Wojciech Prazmowski, Avenida Beiramar, Vigovisións, 1998
Estas entrelaçam as fotografias como se fossem embalagens prestes a embarcar. Em Vigo o horizonte de Prazmowski é o mundo do mar. A fotografia transforma-se em escultura.
Pedro Meyer, um dos convidados conta-nos a sua experiência em Vigo “ Recordo o momento em que no ano de 1996, saí para a rua com uma máquina fotográfica para captar imagens da cidade, e um colega, Joachim Schmid, saiu do mesmo hotel onde estavamos hospedados para também percorrer Vigo. Ambos saiamos para a rua com as mesmas intenções, contudo a novidade era que Joachim saía sem levar nenhuma máquina fotográfica. O seu critério era outro, procurava nas ruas as fotografias que iriam representar a sua visão de Vigo. Não podia haver maior contraste na aproximação artística entre nós dois”.
Joachim Schmid, Vigovisións, 1996
“Durante anos recolhi fotografias que encontrava na rua, de uma actividade casual no início depressa se converteu numa obsessão. Procuro as fotografias que os autores rejeitaram, abandonaram, o lixo fotográfico, o anti-museu. Interessam-me as imagens consideradas inapropriadas que os próprios autores não querem guardar. Num mapa assinalo os locais onde as encontrei. Estas imagens representam a outra metade da nossa cultura, as que não são seleccionadas para entrarem nos museus. Começei este projecto em Vigo depois fiz o mesmo em muitas outras cidades do mundo. Pretendo constituir um compêndio internacional do que eu entendo como poluição fotográfica”.
Alexey Brodovitch um dos melhores criativos no mundo do design referia constantemente os artistas que o influênciaram e encorajava os seus alunos a apropriarem-se de um estilo particular, dizia-lhes “ do it in the manner of Cocteau, but do not imitate Cocteau”. Não sei se Pedro Meyer leu ou ouviu o conselho de Brodovitch mas aplica-o no seu trabalho. Meyer nasceu em Espanha mas foi viver para o México, e nacionalizou-se mexicano. Meyer apropria-se de Parábola Óptica do mexicano Manuel Álvarez Bravo, e através da manipulação digital, liga a Galiza, Espanha, ao México.
Pedro Meyer, Parabólica Óptica, Vigovisións, 1996
como uma referência devido à capacidade dos organizadores que surpreenderam com os fotógrafos que convidaram.
Paul Graham, autor da fotografia,
Paul Graham, Vigovisións, 1988
e participante no projecto em 1988, comenta as profundas transformações por que passava a fotografia nesses anos, e numa entrevista revela : “Sou um apaixonado pela fotografia e considero-me um fotógrafo” e continua “durante anos a fotografia manteve com o real uma relação particular e única e bastava ao fotógrafo sair à rua munido de máquina fotográfica e observar o mundo que se estendia a seus pés. Mas o mundo esgotou-se porque a nossa percepção com a realidade mudou. Hoje o mundo real está dentro de nós e um misto de estímulos, interiores e exteriores, passados e presentes, fazem parte da nossa consciência. Mas a fotografia, ao contrário das outras artes, pela estreita relação e dependência com o real não ultrapassou bem este desafio, mas a fotografia nunca esteve em crise. Utilizei a fotografia tornando visível o invisível, criando imagens que vão para além do que está à superfície. De 1988 a 92 viajei pela Europa e interessei-me pelo peso que o passado exerçe em cada sociedade, o fardo da história, por assim dizer, e centrei-me na forma como hoje esse passado interage com a vida quotidiana. “New Europe” foi o resultado desse trabalho. Esta percepção tornou-se mais profunda com as minhas viagens ao Japão. O Japão é hoje um país traumatizado pela sua história recente, mas superficialmente parece viver uma gigantesca amnésia colectiva. O que me interessa é desvendar o que aparentemente nos parece inacessível.” O trabalho realizado em Vigo
Paul Graham, Vigovisións, 1988
faz parte do livro “New Europe”, editado em 1993, e que os críticos vêem “como um poema visual sobre a Europa de hoje”.
Graham nasceu em Inglaterra e quando em 1988, foi convidado para ir a Vigo estava ainda no início deste seu trabalho. Graham percebera que a fotografia documental a preto e branco se esgotara, mas ultrapassa a limitação a que a fotografia parecia condenada criando um novo conceito de documento. Allan Sekula, na américa propõe também ele um outro conceito de fotografia documental e juntamente com as fotografias o texto fará parte integrante do seu trabalho. Em Vigo, “Vinte mil léguas submarinas” de Júlio Verne servirá de inspiração e escreve “Mensaje en una botella”, que acompanha com as fotografias.
Allan Sekula, Vigovisións, 1992
Allan Sekula, Vigovisións, 1992
Do trabalho realizado em Vigo, Sekula inclui-o em "Fish Story" (1989-1995), que já tivemos oportunidade de falar.
Mas os organizadores de Vigovisións procuraram a diversidade e pluralidade de visões e a riqueza da colecção, pertença do Ayuntamiento de Vigo, é rica precisamente pela diversidade de critérios artísticos. Olhando para a colecção percebemos as transformações que foram ocorrendo na fotografia, da uniformização do pequeno formato, do predomínio do preto e branco na fotografia documental e subjectiva,
Guy Hersant, Vigovisións, 1986
Jorge Molder, Hospital Municipal, Vigovisións, 1986
para ao longo das edições se assistir à manipulação digital,
Carole Condé & Karl Beveridge, Vigovisións, 1994
à utilização da cor e do grande formato.
Paul Reas, Vigovisións, 1990
Xulio Correa, Vigovisións, 1992
John Kippin, Vigovisións, 1994
Procurava-se ritmo, sequência, e escala nas montagens fotográficas, e a utilização de dípticos foi uma das formas encontradas. O austríaco Manfred Willmann, envereda por uma narrativa descontínua composta à base de fragmentos e no jogo de opostos, criando dípticos que contrastam o mundo da pesca e a vida nocturna.
Manfred Willmann, Vigovisións, 1988
Manfred Willmann, Vigovisións, 1988
Para o alemão Wilmar Koenig, os dípticos são perfeitos para as analogias formais de naturezas opostas, que ele tanto gosta de juntar.
Wilmar Koening, Vigovisións, 1990
A fotografia, como qualquer outra arte, está em contínuo processo de transformação e à época, as fronteiras entre as diferentes artes desvaneciam-se cada vez mais. Muitos artistas apropriaram-se da fotografia e separaram-na cada vez mais da sua condição imitativa. O polaco, Wojciech Prazmowski, ultrapassa os limites físicos da fotografia, e incorpora nos seus objectos tridimensionais feitos de fotografias que representam portas de armazêns de pesca junto à beiramar da Ria de Vigo e fácilmente reconhecidas pelas portas idênticas só os nomes mudam, Pescamar, Ignacio Nuñez, Pescados Balado..., outros materiais como cordas.
Wojciech Prazmowski, Avenida Beiramar, Vigovisións, 1998
Estas entrelaçam as fotografias como se fossem embalagens prestes a embarcar. Em Vigo o horizonte de Prazmowski é o mundo do mar. A fotografia transforma-se em escultura.
Pedro Meyer, um dos convidados conta-nos a sua experiência em Vigo “ Recordo o momento em que no ano de 1996, saí para a rua com uma máquina fotográfica para captar imagens da cidade, e um colega, Joachim Schmid, saiu do mesmo hotel onde estavamos hospedados para também percorrer Vigo. Ambos saiamos para a rua com as mesmas intenções, contudo a novidade era que Joachim saía sem levar nenhuma máquina fotográfica. O seu critério era outro, procurava nas ruas as fotografias que iriam representar a sua visão de Vigo. Não podia haver maior contraste na aproximação artística entre nós dois”.
Joachim Schmid, Vigovisións, 1996
“Durante anos recolhi fotografias que encontrava na rua, de uma actividade casual no início depressa se converteu numa obsessão. Procuro as fotografias que os autores rejeitaram, abandonaram, o lixo fotográfico, o anti-museu. Interessam-me as imagens consideradas inapropriadas que os próprios autores não querem guardar. Num mapa assinalo os locais onde as encontrei. Estas imagens representam a outra metade da nossa cultura, as que não são seleccionadas para entrarem nos museus. Começei este projecto em Vigo depois fiz o mesmo em muitas outras cidades do mundo. Pretendo constituir um compêndio internacional do que eu entendo como poluição fotográfica”.
Alexey Brodovitch um dos melhores criativos no mundo do design referia constantemente os artistas que o influênciaram e encorajava os seus alunos a apropriarem-se de um estilo particular, dizia-lhes “ do it in the manner of Cocteau, but do not imitate Cocteau”. Não sei se Pedro Meyer leu ou ouviu o conselho de Brodovitch mas aplica-o no seu trabalho. Meyer nasceu em Espanha mas foi viver para o México, e nacionalizou-se mexicano. Meyer apropria-se de Parábola Óptica do mexicano Manuel Álvarez Bravo, e através da manipulação digital, liga a Galiza, Espanha, ao México.
Pedro Meyer, Parabólica Óptica, Vigovisións, 1996
Manuel Álvarez Bravo, Parábola òptica, 1930,
Manuel Álvarez Bravo, Lençol no chão, 1940
Meyer constroí a partir da memória, mas simultâneamente liberta-se dela. Com o programa Photoshop consegue-se que as descontinuidades da imagem manipulada não sejam apercebidas, o real e irreal unem-se e confundem-se como faz Vincenzo Castella.
Meyer prefere manter o fosso entre real e irreal e não confunde quem olha, pois o irreal salta aos olhos de quem vê e nós observadores reavivamos imagens interiores, reais e passadas, mas simultâneamente olhamos para a imagem irreal, o futuro, os olhos que nos olham. Acérrimo defensor da difusão da fotografia na internet, numa época em que a maioria dos fotógrafos pensavam nos riscos de aí apresentarem os seus portfólios, Meyer escolhe o computador para em Vigovisións apresentar o seu trabalho.
Pedro Meyer, Vivienda Popular, Vigovisións, 1996
Em solidariedade com o projecto, Meyer ano após ano actualiza no seu site, zonezero.com, os trabalhos de todos que participaram em Vigovisións. Hoje, qualquer um de nós pode aceder às obras e informações do que foi este projecto.
Curioso é o trabalho sobre Vigo da dupla Anthony Aziz e Sammy Cucher, Aziz + Cucher, como são conhecidos. Trabalham a manipulação digital para criarem uma ilusão da realidade. Em 1994, expõem na Fotobienal de Vigo a sua série “Distopia”
VI Fotobienal de Vigo, 1994, trabalho de Aziz + Cucher, "Distopia"
Aziz + Cucher, série "Distopia"
a primeira exposição na Europa. Através da manipulação digital modificam o corpo humano para falarem abertamente da hibridação corpo-tecnologia, estamos na década de 1990 e vive-se o mundo dos ciborg.
Em 1998 são convidados para o projecto Vigovisións, mas não utilizam a manipulação digital, “todas as culturas se expressam pela sua cozinha, e das diversas actividades que giram em volta. Alí galvaniza-se a história sensual e sensorial de um povo e foi assim que nos nossos encontros com a cozinha galega, percebemos o carácter de Vigo. Foram os sabores, os odores das mesas de Vigo que ficaram gravadas na nossa memória, ...através dela percebemos a cidade de uma maneira mais íntima”.
Todas as fotografias de Aziz + Cucher, Vigovisións, 1998
Na última edição, em 2000, regressa-se ao preto e branco, excepção para Julian Germain, que fotografa a cores os jogadores que pertenceram ao Real Club Celta. Mas Belén Gómez não só regressa ao preto e branco, como às origens das primeiras máquinas fotográficas. Constroí uma câmara estenopeica, caixa que resulta na forma mais primária de captar imagens e fotografa a Vigo industrial.
Belén Gómex, Vigovisións, 2000
Paris e Nova Iorque são duas cidades que desde os primórdios da fotografia encantaram os fotógrafos, a primeira pela beleza, a segunda pela modernidade invulgar. Vigo é uma cidade portuária, que não cativa pela beleza nem pela modernidade, que é vulgar. Gabriele Basilico é arquitecto e gosta de fotografar as cidades, mas encanta-se com as cidades com portas abertas para o mar, e Vigo encantou Basilico “such cities are gateways to the sea, towns that by their very nature as ports – entry points – are particularly vibrant and interesting”.
Gabriele Basilico, Vigovisións, 1990
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