Hoje, pelas 17 horas, conversa com Benjamin Callaway, no pequeno auditório da Culturgest.
Benjamin Callaway, em exposição na Culturgest de Lisboa até ao dia 25 deste mês, usa imagens vídeo de amadores que transfigura até à abstração. O vídeo, cuja origem remonta aos anos sessenta, assemelha-se à fotografia pela sua banalidade. Na década seguinte, o vídeo substituiu em parte a fotografia. Prefere-se o vídeo para recordar mais tarde, as festas de aniversário, os passeios de domingo a centros de lazer, casamentos...
São estes vídeos, no formato VHS, agora em vias de extinção, que Callaway compra em feiras e que constituem a sua matéria prima. É deste “arquivo arbitrário” que Callaway retira as imagens para os seua vídeos. Votadas ao esquecimento, Callaway apropria-se destas imagens. “O meu arquivo”, diz Callaway “reflecte aspectos da sociedade e da cultura onde é extraído,..., escrita a partir de passatempos, ansiedades, diversões, paixões e desejos, que acabam, por assombrar as montagens finais, ainda que indirectamente”. No texto de parede da exposição é explicada a forma como Callaway transforma as imagens dos vídeos: “As imagens são então submetidas a um laborioso processo de manipulação que as transfigura por completo. Numa primeira fase, o artista transfere-as sucessivamente de um gravador de VHS para outro, até ao ponto em que elas se dissipam, perdendo práticamente toda a sua informação. Decompostas e desfiguradas, as imagens são então reconstituídas pela sua filmagem com uma câmara digital apontada ao ecrã de televisão”. Pelos efeitos sucessivos de decomposição, conseguimos ao ver os vídeos de Callaway perceber alguma narrativa, embora a abstração seja dominante. Em Rigadoon, um vídeo passado num centro de patinagem,
sábado, março 10, 2007
Benjamin Callaway
Rigadoon, 2004-2005, Ben Callaway
a abstração é levada a um extremo que pensamos estar perante pintura abstracta em movimento.
Ben Callaway
A banda sonora de Chris Reeves, que acompanha a montagem é tão importante como as imagens.
Os vídeos de Callaway lembraram-me o “Blow-up”(1966), de Michelangelo Antonioni. Transformação da imagem, pelas sucessivas ampliações e o fotografar das ampliações, até à abstração total.
“Parece um dos quadros do Bill”, diz a amiga do fotógrafo (David Hemmings) quando olha para a única prova deixada em sua casa.
Bill, o amigo artista, ao olhar para os seus quadros diz:
“ não significam nada quando os pinto. É uma confusão. Depois descubro algo a que me agarrar...E acaba por ganhar algum sentido e tornar-se coerente. É como descobrir uma pista numa história de detectives”.
Os amantes a namorar no parque são surpreendidos por alguém que se apropria das suas imagens.
Em casa, o fotógrafo tenta descobrir algo a que se agarrar...fazendo uma narrativa com as fotografias ampliadas.
Mas as imagens só fazem sentido no seu contexto, fora dele, tornam-se irreais, como a deixada por Vanessa Redgrave na casa do fotógrafo. No final do filme o célebre jogo de ténis sem bola, só tem significado para aquele grupo,
para nós espectadores é irreal, como são irreais, os vídeos de Callaway que só fizeram sentido para o grupo restrito de quem os filmou. O espectador, tal como o fotógrafo de Antonioni, pode é entrar nesse jogo.
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