Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
“Ele adorava Nova Iorque. Idolatrava-a desmesuradamente”.
“Para ele era uma cidade que existia a preto e branco”.
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
“É melhor recomeçar”
“Ele era romântico em relação a Manhattan, como a tudo o resto. Estimulavam-no a lufa-lufa, as multidões e o trânsito”.
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
“É melhor recomeçar”
“Ele adorava Nova Iorque. Para ele era uma metáfora do declínio da cultura contemporânea”.
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Mas as fotografias, “desta cidade dos sonhos”, que o narrador de “Manhattan” via transformar-se rapidamente, não são do filme de Woody Allen, mas de Berenice Abbott, que também ela nutria uma “fantastic passion” pela cidade.
“É melhor recomeçar”, continua o narrador de “Manhattan” e as fotografias a preto e branco avançam ao som de Gershwin.
E o elitista e o vernáculo, aquilo que os americanos chamam o “high” e o “low” parecem coexistir harmonicamente.
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Sempre em mudança, Nova Iorque seduz, seduziu Abbott, que durante os anos 30, de forma sistemática e documental registou uma cidade em mudança. Seduziu o nova-iorquino de gema, Woody Allen, que nos anos 70, registou em filme, uma Nova Iorque, apinhada de gente, onde a fotografia triunfava e entrava nos museus e galerias: “parecem-me decalcadas das de Diane Arbus, mas sem o humor dela”, diz a amante do amigo na galeria de Castelli, quando Isaac com a namorada os encontra.
Com os sucessivos embargos petrolíferos, os anos 70, foram anos de recessão económica, e na América os índices de desemprego e inflação subiram acima dos 10%, números que a nação não via desde a Grande Depressão. Em 1979, filmar a preto e branco era coisa do passado e consequentemente muito mais oneroso, e lembro-me como a crítica se entreteve a especular como teria sido muito mais barato filma-lo a cores - mas Woody Allen via Manhattan a preto e branco, tão longe do modelo mais acabado do kitsch, de "Vicky Cristina Barcelona", o seu último filme.
À noite, a cidade iluminada,
não é de Abbott, mas do filme "Manhattan", “night sceens” e muitas outras ideias que escreveu no guião, “interiors, Union Square street speeches, election night…” acabaram por nunca serem realizadas.
Em Lower East Side, para captar melhor o mercado de rua,
Berenice Abbott, do projecto WPA, 1935-41
entrou no apartamento de um residente, porque não aproveitou para fotografar o interior?
É melhor recomeçar.
Antes de partir para a Europa, 1921, Abbott, fazia parte da famosa tertúlia de intelectuais de Greenwich Village.
Berenice Abbott, Greenwich Village, do projecto WPA, 1935-41
Em Paris, onde queria estudar escultura, acabou empurrada para a fotografia, e nada melhor que o seu amigo, o dadaísta Man Ray, para a iniciar.
Passado oito anos regressa a Nova Iorque. Quer encontrar um editor para o livro que prepara sobre Atget. Seduzida pelas transformações por que passava a cidade, e na esteira do que Atget fizera em relação à arquitectura de Paris, impôs a si própria a tarefa de salvar, fotograficamente, a arquitectura vernácula da grande cidade.
Berenice Abbott, do livro "Changing New York", 1939
Risca o regresso a Paris, e Nova Iorque passa a ser a sua obsessão fotográfica, como ela própria disse: “I want to do in Manhattan what Atget did in Paris”. Com a recessão económica a alastrar é obrigada a deixar o estúdio que alugara no luxuoso Hotel des Artistes em Central Park. Ao contrário da elite que retratou em Paris, que a tornou célebre, percebeu que nenhum americano estava disposto a gastar 50 dólares por um retrato, e procura apoios para avançar com o seu - “Changing New York”.
Ao invés do que muitos pensam o “New Deal” de Rossevelt não se restringiu a reformar a produção económica da nação, os artistas não foram esquecidos, e ao invés do que muitos pensam a fotografia do “New Deal”, não se restringiu à quinzena de fotógrafos que trabalharam para a Farm Security Administration, FSA, a Works Progress Administration, WPA,
Berenice Abbott, do projecto WPA, 1935-41
aceita financiar-lhe o projecto e o resultado foram centenas de fotografias de Nova Iorque, hoje arquivadas no Museu da cidade.
Em 1939, numa parede de tijolos, Abbott anunciava o seu “Changing New York”,
que a editora E.P.Dutton and Co decidira publicar por ver nele um guia turístico para acompanhar o acontecimento do ano: o New York World’ Fair. Em vão protestou o design e a geografia imposta, e no último minuto, via serem retiradas três fotografias que a editora considerava polémicas. De “Construction Old and New”, uma das três preteridas, restou o detalhe do muro de tijolos da capa.
Berenice Abbott, "Construction Old and New" do projecto do WPA, 1935-41
Ao ideal estético que correspondem as imagens-chave do kitsch, a inspiração, ao contrário, é um golpe do acaso.
terça-feira, março 03, 2009
Berenice Abbott
Etiquetas:
Cidades/Subúrbios,
Cinema
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2 comentários:
;) então essas imagens são delas....Gostei deste poste!
beijos
brilhante. mesmo.
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