sábado, agosto 09, 2008

Airbus A380


Mark Power, da série Airbus A380, 2005

Ontem testemunhámos, ao ver a abertura dos Jogos Olímpicos na China, a uma libertação louca de energia que foi gerada ao longo de anos de aspirações reprimidas. Os chineses estão orgulhosos do seu país, e têm razão para o estar. Num curto espaço de tempo a China, passou de um país economicamente fechado e pobre, para uma economia aberta e em ligação com o mundo. Há poucos anos atrás, a população que vivia nas cidades nem telefone tinha em casa. Agora, a nova geração, ultrapassou as comunicações por cabo e passaram directamente para os telemóveis e Internet sem fios. Tudo acontece tão rapidamente que a ligação com o mundo parece irreversível.

No final do século XX o mundo económico global abrangia a América do Norte a Europa Ocidental e o Japão, enquanto a Índia, China, Rússia e Europa de Leste caminhavam para uma economia de mercado. Com o virar do século, a população total deste mundo económico global, que participava nas trocas e no comércio internacional,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

passou dos 2,5 mil milhões de pessoas para os seis mil milhões. Se há precisamente dez anos os índices BSE Sensex da Índia e o Shanghai 180 da China ficavam imunes ao colapso das bolsas mundiais, ontem, no dia da abertura dos jogos, o índice Shanghai 180 fechava com um perca de 4,67% que soma aos 50% de quebra desde o inicio do ano. Nenhum mercado fica agora imune ao que se passa no mundo e os investidores antecipam, depois de sete anos esfusiantes, de uma quebra na produção. A crescente capacidade de efectuar transacções e correr riscos em qualquer parte do mundo criou uma economia verdadeiramente global, e hoje, não são só as bolsas de valores que se globalizaram mas o mundo.
Contudo a velocidade estonteante como tudo está a mudar destabilizou o planeta, que agora não sabe como enfrentar tão grandes desafios.

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

Nos anos de transição, os países em vias de desenvolvimento inundaram o mercado com uma mão-de-obra barata, e na Europa, muitas fábricas encerraram e deslocaram-se para esses locais.

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

As multinacionais cujo objectivo é criarem uma empresa sustentável, ultrapassavam os interesses do Estado-nação onde estavam sediadas, e os políticos europeus, alheados ao que se passava, foram apanhados desprevenidos. Olharam e viram na globalização, não um desafio, mas um mal a eliminar.
A perspectiva e predisposição dos políticos é extremamente importante na configuração daquilo que vêem e não vêem, e é isso que ajuda a explicar porque não deram conta que algo importante estava a acontecer no mundo.

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

Mark Power, quando aceitou fotografar o projecto de construção do maior avião comercial, o Airbus A380, defrontou-se com o problema de produção das várias peças em diferentes locais geográficos. A fuselagem foi feita na Alemanha e na França,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

a cauda em Espanha,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

as asas no País de Gales,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

e o resto, que é enorme,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

em pequenas fábricas espalhadas pela Holanda, Bélgica e Itália. Mas certas partes do avião eram tão grandes, que não podiam ser transportadas pelos transportadores aéreos e marítimos existentes. Foi então necessário, construir em Xangai, um navio – Ville de Bordeaux, que recolheu de porto em porto, todas as partes do avião e transportou-as até Paulliac perto de Bordéus.

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

Daí seguiram até o hangar de Toulouse,

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

onde se procedeu finalmente à montagem. No ano em que terminou a construção do A380, 2005, o japonês, Glen Fukushima, que aceitara o lugar de presidente de operações no Japão via a empresa nestes termos: “Já não existe qualquer correlação entre a nacionalidade dos executivos de uma empresa global, a localização geográfica da sede da empresa e o mercado onde os seus executivos de topo estão a realizar os seus negócios mais importantes,…estou a fazer algo de novo e diferente que reflecte o tempo em que vivemos e que desafia as categorias nacionais muito arrumadinhas”.

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

A Boeing, a grande concorrente da Airbus, há anos que recorre a engenheiros e cientistas russos de forma a tirar partido dos seus conhecimentos periciais em aerodinâmica e novas ligas para aviões. Agora, estes engenheiros russos ajudam a empresa aeronáutica a desenhar a nova geração de aviões de passageiros e para isso, abriram em Moscovo um gabinete de design de engenharia aeronáutica. Os engenheiros russos colaboram, assistidos por computadores, no design de aviões com os seus colegas da Boeing em Seattle e no Kansas. Utilizando os cabos de fibra óptica e software aeronáutico, os engenheiros enviam os seus fluxos de trabalho da Rússia para a América e vice versa.

Todo este movimento de recrutamento global tem como objectivo acelerar e tornar os aviões o mais barato possível e conseguir sobreviver à concorrência, na Airbus e na Boeing ninguém está a dormir…

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

Nos dias de hoje identificar o país de origem de uma empresa é cada vez mais difícil.
Será a Airbus uma empresa francesa? ou será que a Airbus se sente mais ligada ao local onde se fabricam os motores? onde se desenham as asas?...

São muitas as multinacionais que ainda hoje procuram a mão-de-obra barata da China, onde nas cadeias de produção fabricam parte do produto final. Os milhares de chineses que trabalham nessas cadeias são mal pagos, pois na China fica pouco mais que 3% da mais valia total, mas certamente não será por muito tempo, o “made in China” das cadeias de produção em breve será lembrado como um período de transição. Os líderes chineses agora preparam-se para colocar a China a desenhar também as asas de aviões, pois sabem que as empresas para se manterem globalmente competitivas precisam de ser inovadoras. Elevar a educação e a formação é hoje uma aposta real na China. Num mundo que se globalizou, ninguém pode dormir descansado, e a China decidiu explorar a massa cinzenta do seu povo, facultando instrução a uma fatia alargada da sua população.

Em Portugal, centenas de alunos concorrem, através do Erasmus, a outras universidades no intuito de melhorarem os seus conhecimentos, mas o descalabro no ensino básico é gritante e o país não pode adormecer à espera que os chineses venham construir os TGV, pontes e as auto-estradas. É bom que se destape a cortina...

Mark Power, da série Airbus A380, 2004

1 comentário:

Salucombo_Jr. disse...

olá Madalena,
lá está o tipo de post que geralmente faço um copy/paste para o word, salvo em PDF, faço um printer para o meu arquivo e envio por mail para os amigos.

abraço
ahh, já abriu Portfolio Photografico.