segunda-feira, novembro 20, 2006

Lee Friedlander no Jeu de Paume: conferência Jean-François Chevrier



Jean-François Chevrier, na conferência sobre Lee Friedlander

Lee Friedlander está em exposição no Jeu de Paume. Comissariada por Peter Galassi do MoMA de Nova Iorque, a retrospectiva apresenta aproximadamente 500 fotografias. Foi, referindo-se a este número elevado, que Jean-François Chevrier, crítico e historiador de arte, iniciou a sua conferência. Nunca vi uma exposição de fotografias com um número tão elevado..., o público ri, não... continuou ele, é impressionante o número de fotografias que esta retrospectiva apresenta. Pensamos, Chevrier com tanta fotografia vai ter uma tarefa difícil, a de não saturar quem encheu a sala para o ouvir.
E se essa referência nos pareceu uma crítica, percebemos rápidamente que afinal se tratava de um elogio, Galassi conseguira organizar de forma surpreendente tanta fotografia nas paredes do Jeu de Paume.
Pessoalmente não o conheço bem, continuou, mas Friedlander é tipicamente o que se chama de “Street Photographer” à americana. Não o fotógrafo da rua no sentido literal mas o fotógrafo do exterior, exterior onde se passam muitas coisas, e são essas muitas coisas, sem objecto, que Friedlander fotografa, ao contrário do repórter que tem sempre um assunto. Compulsivo, continua na sua caracterização do fotógrafo, e para explicar o que entende por compulsividade compara-o a André Kertész que Chevrier conhecera bem. Conta que um dia a almoçar com Kertész este o deixara a falar sózinho, tinha ido fotogafar qualquer coisa. Compulsividade no bom sentido, advertiu. E o enquadramento, tão importante em Friedlander. O enquadramento de Friedlander não é da perspectiva geométrica dada pela câmara escura, que de frente o fotógrafo vê o que vai fotografar. Friedlander enquadra como se estivesse virado de costas, como se visse num espelho os reflexos que estão atrás de si e gosta do jogo do enquadramento dentro do enquadramento.
Fotógrafo urbano, compulsivo, com um enquadramento que simultaneamente revela e esconde, vai repetindo Chevrier para caracterizar Friedlander.
E vamos agora às fotografias. Só vou mostrar um auto-retrato, o público ri novamente, como pode Chevrier mostrar um só auto-retrato, se este é um dos temas mais conhecidos de Friedlander. Para mim, continua, este é o auto-retrato que eu mais gosto,


White Plains, New York. 1966

revela a essência de Friedlander. O enquadramento das montras, tão frequentemente fotografadas, está aqui representado de forma magnifica. Fotógrafo do preto e branco, utiliza a gama dos cinzentos. Poucos são os fotógrafos que de facto fotografam o preto e o branco, Bill Brandt é uma das excepções, mas não Friedlander diz Chevrier. Nesta fotografia Friedlander esconde o seu reflexo na escuridão, no preto, o seu reflexo quase que não apareçe, é preciso olhar bem, e este jogo do revelar/ esconder dos seus auto-retratos está aqui magnificamente representado.
Passa para um conjunto de fotografias que mais aprecia da exposição e pede-nos para olharmos para a que se segue. Nesta fotografia temos vários objectos,


California. 1965

mas nenhum deles está fotografado na integra, alguns são só sombras, quem vê fica desorientado, mas Friedlander dá algumas referêcias. Poderiamos ver a boca de incêndio como símbolo sexual mas não é isso que me interessa analisar, interessa-me a desconstrução dos objectos, estamos a falar da fotografia sem objecto...


Minnesota. 1966

Era difícil falar em Friedlander sem referir as suas influências. Chevrier escolhe esta fotografia, que não é das que mais aprecia, mas que para ele é importante enquanto homenagem do fotógrafo a Walker Evans, a sua fonte de inspiração.
Reparem, na fotografia de Evans, pede-nos Chevrier, casas repetidas vistas de frente.

Cambridge, Massachusetts. 1975

Não é só na vista frontal e serial de Evans que Friedlander é diferente. Evans não é urbano, não fotografa as grandes cidades nem a paisagem, tão típica na fotografia americana, Evans está no meio, prefere os pequenos meios rurais, as cidades perdidas onde nada se passa. Friedlander é urbano lembra mais uma vez Chevrier.
O monumento, obra edificada para lembrar alguém ou algum acontecimento, é excepcionalmente o único objecto que Friedlander fotografa. Olhem para as duas fotografias,



In Memory of Tom Mix. Near Florence, Arizona.1975


Father Duffy.Times Square,New York.1974

continua Chevrier e vejam o contraste. O que vemos na primeira é um cavalo no vazio, em contraste com a segunda cuja estátua ninguém repara, pois está completamente invadida pela publicidade que nos invade nas cidades. O sentido para os quais o monumento é erigido perde-se.
Mas o que Chevrier não perde é o seu sentido crítico e em relação aos nus acha-os “deploráveis”. Como é possível Friedlander fotografar aquilo e estar uma parede cheia deles. De outras, mais recentes, dirá que Friedlander caiu na repetição.


Denver, Colorado.2004

Composições como esta já não funcionam...todas estas formas geométricas estão no lugar esperado...
Finaliza, abordando o novo tema de Friedlander, a paisagem. Confesso que a exposição tem fotografias a mais de paisagem, fiquei cansado, diz-nos. Tema tão fotografado desde o século XIX, pelos fotógrafos que desbravaram o Oeste americano como Carleton Watkins, sei que é difícil ser diferente, adverte. Mas Chevrier gosta de duas. Reparem, como Friedlander nestas fotografias



Grand Teton National Park, Wyoming. 1999

faz o mesmo que nas suas fotografias da cidade, objectos sobrepostos obstruindo-nos a visão. O espectador terá que ultrapassar o emaranhado de ramos mortos para chegar ao Grand Teton.
Jean-François Chevrier foi brilhante não cansou a sala cheia que ouviu quase duas horas.

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