A exposição que decorre no Hôtel de Sully do Jeu de Paume foi organizada em estreita colaboração com o fotógrafo. Out of the Ordinary, photographies 1970-1980, é a década da cor em Joel Meyerowitz.
Esta é a primeira retrospectiva na Europa do trabalho a cores do americano Joel Meyerowitz, diz-nos a folha de sala da exposição. Pensamos onde é que se meteu a cor na fotografia?
Joel Meyerowitz, New York City, 1975
Quando na década de 1960 Meyerowitz se decidiu pela carreira de fotógrafo, a cor cativou-o logo, para ele a cor também era informação. Durante anos andou com duas Leicas, uma para o preto e branco e outra para a cor.
Porque terá Meyerowitz hesitado em fotogrfar só a cores? A utilização tardia da cor na fotografia continua um mistério por desvendar.
A justificação de que os filmes a cores produziam cores instáveis não serve a partir da década de 1930. Em 1936, a Eastman Kodak Company comercializava o Kodachrome Color Film.
A estabilidade da cor nestes filmes resultava no banho, ou seja era no processo de revelação que as várias camadas de cor (amarelo, magenta e cyan) se iam incorporando no filme. Na era moderna a Kodachrome foi o primeiro filme a cores que veio para ficar. A qualidade e longevidade destas películas são impressionantes, as cores vibrantes destes slides mantêm-se ainda hoje. Se caro no inicio o filme da Kodachrome popularizou-se a seguir à 2ª guerra. O slide show tornou-se popular nas casas de família. As festas de aniversário, as férias... eram agora projectados na sala para todos os familiares e amigos.
Anónimo
Mas os foto-ensaios publicados em revistas de grande tiragem, como a Life, o National Geographic Magazine...eram a preto e branco, só os anúncios eram a cores e cativavam.
Publicidade no National Geographic Magazine,1950
Os fotógrafos mantinham a ideia de que o mundo parecia mais real se a fotografia fosse a preto e branco e a cor foi arredada para a publicidade e fotografia de amador.
Meyerowitz pertence à geração da “street photography” de Nova Iorque dos anos 1960. É a geração de Garry Winogrand, Lee Friedlander, Diane Arbus, Tod Papageorge, Tony Ray-Jones..., é a geração que se segue a Robert Frank, é a geração das manifestações de rua contra a guerra do Vietname, é a geração que vive a guerra fria, é a geração que receia a bomba atómica, é a geração que tornou frágil a ordem que entretanto se estabelecera, é a geração do Woodstock , é a última geração a utilizar o preto e branco para representar este mundo de mudança. Distinguem-se dos fotógrafos da década anterior, não pelo objecto que fotografam, mas por outras subtilezas. Em relação a Frank, cujo livro "The Americans" absorveram, Meyerowitz dirá que a diferença provem da técnica. “Nós usávamos o Tri-X puxado a 1200 ASA, o normal seria 400”, diz Meyerowitz numa entrevista. “A razão pela qual fazíamos isso era para conseguirmos fotografar à velocidade de 1/1000, porque se fizéssemos a 1/125 a fotografia ficava “blurry”, muitas das fotografias de Frank são “blurry”, Frank não trabalhava como nós, vê-se nas suas fotografias que ele trabalha a 1/30, 1/60 até 1/125.
Em relação a Cartier-Bresson, continua Meyerowitz, as suas fotografias dizem-nos o seguinte: “Look at the modern world. Doesn’t it look crazy?” enquanto que as fotografias de Winogrand seu amigo e companheiro nas digressões fotográficas dizem: “Look at the modern world, it really is crazy!”.
Em 1971, deixa o preto e branco definitivamente. A cores não consegue fotografar a 1/1000 e o instantâneo é substituído por um olhar mais pausado e distanciado do objecto. A Fifth Avenue, a avenida preferida da Big Apple, é substituída por Cape Cod e a Leica é substituída pelo formato 8 X 10.
Na exposição vemos todas estas alterações, contudo o espírito do “street photographer” corre-lhe nas veias, observem a fotografia que se segue e digam se não concordam...
Exposição de Joel Meyerowitz, no Hôtel Sully
É em 1976 que a fotografia a cor entra num museu. John Szarkowski, responsável pelo departamento de fotografia do Museum of Modern Art (MoMA), expõe 75 fotografias a cores de William Eggleston.
No prefácio do livro, William Eggleston’s Guide, Szarkowski faz referência aos fotógrafos que mudaram para a cor e que a utilizam com confiança e ambição, são eles Joel Meyerowitz, Helen Levitt, Eliot Porter e Stephen Shore. Começa uma nova era na fotografia.
Mas será que os grandes fotógrafos do preto e branco nunca utilizaram a cor?
1 comentário:
Eu acho que o preto e branco também tem cor. A única diferença é que o preto e branco simplifica muito o trabalho de um fotógrafo. É como na arquitectura só utilizar branco - a cor não deixa de estar lá.
Lembro-me de ler uma opinião do Nozolino, em que diz que a "cor é vulgar". Essa fez-me lembrar aquele adágio, "grandes génios disseram grandes coisas e grandes génios disseram grandes asneiras". O Nozolino que diga a um pintor que a cor é vulgar...
O que é difícil, é tornar uma fotografia a cor não vulgar. O preto e branco tem essa característica invulgar por natureza - não é em escalas de cinzas que vemos o mundo "real".
É precisamente isso que me fascina na fotografia a cor. Descobri apenas ha dias o site de eggleston e quase caí da cadeira...
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