domingo, dezembro 24, 2006

Simetrias Sublimes - Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Paris

Max Ernst refugiou-se na Califórnia quando o nazismo subiu ao poder. Numa viagem de carro a Nova Iorque, ao passar no deserto do Arizona ficou extasiado com a paisagem. Parou o carro, mal conseguia respirar, estava defronte de um dos seus quadros que pintara na Europa. Nunca tinha visto uma paisagem tão sublime como aquela, só na sua imaginação. Na Europa a paisagem “é doméstica, íntima”, como diz Jorge Calado, comissário da exposição, só o pico do Mont Blanc, nos Alpes, faltava escalar, como fez Auguste Rosalie Bisson em 1861.

Glacier des Bossons, Savoie, Alpes, Auguste Bisson, 1861

David Stephenson, nasceu nos Estados Unidos da América e é o acaso que o leva à Tasmânia, na Austrália, confundiu-a com a Tanzânia, em África. Tal como as figuras minúsculas de Bisson, que nos servem de escala para melhor percepcionarmos a grandeza das montanhas, o auto retrato de Stephenson nesta escalada arripiante ao “Lapis Lazuli” na Tasmânia, é também um ponto minúsculo na paisagem.

Ben Lomond, Tasmânia, 1986. (escalada "Lapis Lazuli"), David Stephenson



Mas ao contrário de Bisson, Stephenson para captar a montanha na sua grandiosidade precisa de 6 imagens.


“É na natureza, que o sublime se sente mais intensamente”, e as paisagens do Colorado e Novo México foram as que tiveram maior efeito em Stephenson, o mesmo efeito que tivera o Arizona em Max Ernst. Embora distante da sua pátria, nos desertos Australianos, Stephenson sente a mesma sensação de sublime.









Ernest Giles Road 1, Austrália Central, 2005, D.Stephenson

Ernest Giles Road 2, Austrália Central, 2005, D. Stephenson


Fruto também do acaso, uma violenta tempestade, levou-o uma vez em Roma a refugiar-se no Panteão. Ficou extasiado com o que viu, a àgua corria em cascata ao entrar pelo óculo da cúpula. Quando o sol apareceu, tudo ficou iluminado e a luz refractada pelas gotas de água criou um efeito assombroso.

Panteão (117-138 apr.J.-C), Roma, Itália, 1997, D. Stephenson


Sublime foi a experiência que Stephenson viveu. Foi a primeira cúpula que fotografou, “a seguir veio o projecto de outras cúpulas, abóbadas e zimbórios dos quatro cantos da Europa”,


Portugal não foi esquecido.

Basílica (iniciada em 1717), Mafra, Portugal, 2003, D.Stephenson

Mas o trabalho que vemos de Stephenson, é mais vasto. O enorme deserto australiano é também propício para de olhos postos no céu olharmos a abóboda celeste. Na sua série estrelas, Stephenson joga com o tempo e faz sobreposições. Não se limita a dirigir a máquina fotográfica para o céu e fotografar.


Estrelas 1996/Nº1004, David Stephenson

Stephenson, “reinventa o sublime nas suas fotografias”. Por seu lado, Jorge Calado, através da montagem e composição das fotografias no espaço da exposição, reinventa uma leitura que nos leva ao “sublime”.

Quis o acaso, quando me vinha embora da exposição, que Stephenson aparecesse, agradeci-lhe a magnífica exposição.

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