A editora Steidl vai publicar a partir do próximo ano até 2010, toda a obra de Robert Frank. Programa concebido em colaboração com Frank, serão publicados livros inéditos, os livros já editados serão impressos com o design e formato original, e todos os seus filmes serão passados para DVD.
A obra de Frank é vasta, impossível de abordar num post. Olhemos então para “The Americans”, o livro que fugiu à regra e retratou a verdadeira América.
“Aquela sensação demente, quando nas estradas se sente o calor do sol e a música vem das jukebox ou de algum funeral próximo...” é o que Frank nos dá a ver nas suas fotografias da América, diz Jack Kerouac na introdução de “The Americans”.
Curiosamente é o olhar de um viajante estrangeiro que melhor capta a América dos anos 1950. Robert Frank emigra para os Estados Unidos da América em 1947, deixando a sua Suiça demasiado neutra. Nesses anos, Sal Paradise, o personagem de “On The Road” de Jack Kerouac, sem ideia do que procura, percorre as estradas americanas de costa a costa. Livro escrito de rajada, sem pontuações (na versão original), “On The Road” é o reflexo de uma geração, em que movimento e estrada são os ingredientes principais. Frank foi para a América pelos filmes que não se lembra dos nomes mas que viu. Como dirá anos mais tarde, “num filme americano, sonhas com o estar nos carros, andares pelas ruas...”. A América é grande, não se sufoca como na Suiça, e as extensas distâncias são reduzidas de carro. Durante um ano, de 1955 a 1956, com uma bolsa concedida pela Fundação Guggenheim, Frank percorre o país à procura de uma ideia e a ideia concretiza-se em “Les Américans” em 1958 (Robert Delpire). Esse livro perverso, antiamericano escreverá a crítica. A versão “The Americans” só sairá em 1959 (Grove Press Inc.) com a introdução escrita pelo seu amigo Kerouac.
A estrada de Frank, é a estrada dos beatniks.
U.S. 285, New Mexico, Robert Frank
As suas fotografias revelam a atmosfera de tudo o que Kerouac, Ginsberg e todos os outros que faziam parte da “beat generation” escreviam nos seus poemas cortantes:“América, dei-te tudo e agora não sou nada,
América, dois dólares e vinte sete cêntimos, 17 de Janeiro de 1956,
Não aguento a minha própria mente.
América, quando é que terminamos a guerra humana?
Vai-te foder e mais a bomba atómica
Não me sinto bem, não me chateies,
Não escrevo o meu poema até me sentir bem,
América quando é que te tornas angélica?
Quando é que te libertas?
Quando é que olhas para ti pela campa,
Quando é que serás merecedora dos teus milhões de Trotkistas?
América, porque estão as tuas livrarias cheias de lágrimas?
América quando é que envias os teus ovos para a Índia?
Estou farto dos teus pedidos loucos,
Quando é que posso ir ao supermercado...
Comprar o que preciso com a minha boa aparência?”
Allen Ginsberg
Allen Ginsberg, 1959, Robert Frank
As fotografias de Frank reflectem como ele vê esta geração que procura desesperadamente um sentido para a vida. Lembremo-nos o que escreveu a crítica: livro preverso, antiamericano.
A seguir a “The Americans” Frank envereda pelo cinema, não se quer repetir, Frank nunca se repete. A editora Steidl está orgulhosa deste projecto. Aguardemos então a obra de Robert Frank.
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