Em “unknown landscapes”, livro que Carlos Lobo acaba de publicar, a cor verde, cor que por excelência associamos à natureza, predomina.
Nesta fotografia,
Carlos Lobo
na banalidade do assunto, três portas de garagem rodeadas de àrvores, vejo a essência do livro. O verde foi a cor escolhida para dar cor às portas. Na do meio ainda restam vestígios da pintura verde, que os nós da madeira absorveram mais intensamente. A porta em madeira, parente da natureza, resiste à substituição do alumínio, ou será que está ao abandono?. O verde escuro escolhido para a porta da direita, assemelha-se ao verde da natureza, o verde berrante da porta da esquerda, assemelha-se ao verde dos caixotes de plástico que recolhem o lixo das cidades.
Carlos Lobo
Na fotografia vemos ainda uma rede, quase invisível, suportada por postes de cimento. Serve de linha divisória entre a natureza, as àrvores, e as garagens onde se guardam os carros, símbolo da nossa civilização. É o belo e o feio apenas separado por uma rede de arame. Quase de forma invisível ou pouco notada na nossa rotina do dia-a-dia, a natureza é dominada pela mão do homem, a essência desta fotografia, a essência que vejo no livro.
Mas a natureza, de forma inexplicável, parece resistir,
Carlos Lobo
como estas ervas que insistem em crescer no meio do alcatrão da cidade. Noutras, é a cidade que parece resistir ao verde e às formas orgânicas, preferindo o azul, encarnado e amarelo e as formas geométricas.
Carlos Lobo
Mas nos subúrbios, o verde também não resiste aos salpicos de amarelo e encarnado que vêem da cidade
Carlos Lobo
Carlos Lobo
e onde a linha amarela demarca até onde foi a mão do homem.
Carlos Lobo
O papel, para quem olha para as fotografias do livro, é semelhante ao do arqueólogo, que escava à procura de sinais, indícios e vestígios dos locais que investiga, faz parte da natureza humana. Carlos Lobo nada nos revela sobre o tempo e os espaços que nos mostra. Mas por vezes, nas suas fotografias, os espaços emitem sinais: uma matrícula,
O papel, para quem olha para as fotografias do livro, é semelhante ao do arqueólogo, que escava à procura de sinais, indícios e vestígios dos locais que investiga, faz parte da natureza humana. Carlos Lobo nada nos revela sobre o tempo e os espaços que nos mostra. Mas por vezes, nas suas fotografias, os espaços emitem sinais: uma matrícula,
Carlos Lobo
um anúncio de restaurante, revelam o país por onde passou.
Carlos Lobo
Conheço Carlos Lobo pelo que escreve no seu Blog e pelos comentários que por vezes deixa no meu. Gosta de Dan Graham e de Stephen Shore, que foi seu professor num curso que tirou na Fundação Gulbenkian.
Dan Graham, na América, fotografou as casas dos subúrbios que surgiram no pós-guerra, standardizadas, pois a urgência ditava as regras. Graham ironizou a perca de individualidade que aí se vivia. Mas os subúrbios continuaram tema recorrente na fotografia americana. Com William Eggleston os subúrbios e a cor entraram pela primeira vez nos Museus, estavamos em 1976 e John Szarkowski, à época curador do MoMA, achou as fotografias fascinantes, porque o oposto do que se esperava. Eggleston preferiu a banalidade dum bairro residencial e as suas fotografias confundiram-se com a dos álbuns familiares. Eggleston descreve os subúrbios no início.
Conheço Carlos Lobo pelo que escreve no seu Blog e pelos comentários que por vezes deixa no meu. Gosta de Dan Graham e de Stephen Shore, que foi seu professor num curso que tirou na Fundação Gulbenkian.
Dan Graham, na América, fotografou as casas dos subúrbios que surgiram no pós-guerra, standardizadas, pois a urgência ditava as regras. Graham ironizou a perca de individualidade que aí se vivia. Mas os subúrbios continuaram tema recorrente na fotografia americana. Com William Eggleston os subúrbios e a cor entraram pela primeira vez nos Museus, estavamos em 1976 e John Szarkowski, à época curador do MoMA, achou as fotografias fascinantes, porque o oposto do que se esperava. Eggleston preferiu a banalidade dum bairro residencial e as suas fotografias confundiram-se com a dos álbuns familiares. Eggleston descreve os subúrbios no início.
William Eggleston, Southern environs of Memphis, do livro William Eggleston's Guide, 1976
A casa recuada que vemos da estrada estava antes no meio do campo, agora desenraízada não segue a linha da estrada das casas em frente. Ao deixar as cidades já não se entra no campo, passa-se por uma nova fronteira que são os subúrbios. Carlos Lobo pertence a outra geração, e os subúrbios que fotografa já são os subúrbios habitados por outras gerações. Vai buscar a Graham e Eggleston a banalidade do mesmo assunto, mas agora, longe da aparente ordem dos primeiros subúrbios, amplia para nos dar a ver melhor, os detalhes de uma geração que adapta e transforma os subúrbios à realidade do seu dia-a dia, surge o caos e a desordem.
Carlos Lobo
Carlos Lobo
Carlos Lobo
Certamente não me engano se disser que Carlos Lobo aprecia “26 Different Endings”, o último livro de Mark Power, editado em Março deste ano. São os subúrbios que caem fora do A-Z London Street Atlas.
Mas sem esperarmos, a seguir a uma curva,
Mas sem esperarmos, a seguir a uma curva,
Carlos Lobo
Carlos Lobo
entramos em cidades, vazias de tráfego e pessoas mas cheias de dejectos deixados por quem aí esteve.
Carlos Lobo
Carlos Lobo prefere a sordidez às grandes maravilhas arquitectónicas, o banal ao estético.
“unknown landscape” inicia numa estrada,
“unknown landscape” inicia numa estrada,
Carlos Lobo
que não fora o candeeiro, julgávamos já estar no campo e termina numa estrada que nos leva a um emaranhado de verdes deixando para trás o negro da poluição.
Carlos Lobo
Sem comentários:
Enviar um comentário