Ainda no âmbito das comemorações do 50.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian, podemos ver até ao dia 9 de Setembro, nas duas salas da sede da Fundação, a exposição “50 anos de Arte Portuguesa”. A comissária, Raquel Henriques da Silva, lançou o desafio de pensar uma exposição da arte portuguesa com dois suportes: a colecção do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão (CAMJAP) e a documentação arquivada do Serviço de Belas-Artes (SBA). As obras expostas, de artistas que obtiveram bolsas e subsídios da Fundação, mostram-se lado a lado com os pedidos de candidaturas, relatórios de trabalhos, boletins de inscrição.., toda uma documentação de arquivo, pouco explorado até agora, e que em boa altura viu a luz do dia. A intencionalidade e o ambiente criativo é bem patente em relatórios como este escrito por Marina Mesquita, escultora, que beneficiou de uma bolsa na St. Martins’s School of Art de Londres no ano de 1967/68 : “ As primeiras semanas foram para mim difíceis; primeiro a variedade de materiais deixou-me confundida não sabendo muito bem qual escolher, em segundo em ambiente completamente diferente, enfim, era necessário fazer qualquer coisa mas este qualquer coisa era tão cheio de responsabilidade que me assustava. Agora, sinto-me absolutamente à vontade e é com grande interesse que trabalho”.
Já recentemente e numa outra sala, no piso 01, um espaço “muito determinado por barreiras diversas e com circulação bastante rígida”, o trabalho Smog #15 de Nuno Cera, é exposto no fim do enorme corredor. Á semelhança do que fez Nuno Crespo, comissário da exposição do artista que recentemente esteve no CCB, o corredor do vídeo Prora, um edifício desactivado, prolongava ainda mais o corredor da galeria. Agora é o corredor de Smog #15 que serve de prolongamento.
Para se candidatar à bolsa João Hogan, 2001 e frequentar o Kunstlerhaus Bethanien de Berlim, Cera apresenta à Fundação um plano de trabalho elucidando as razões que o levam a inscrever-se:
“ Ter tempo para pensar
Ter tempo para fotografar sem pressa
Ter tempo para ler/estudar
Ter tempo para me tornar artista “profissional”
Ter tempo para fazer exposições de atelier
Ter tempo para fotografar/descobrir a paisagem
Ter tempo para fotografar a arquitectura moderna, as pessoas e a história de Berlim
Ter tempo para descobrir e sentir a cidade
Ter tempo para fazer/estabelecer contactos
Ter tempo para ver cinema
Ter tempo para esperar pela luz certa
Ter tempo para estudar o céu
Ter tempo para escrever
Ter tempo para andar
Ter tempo para descobrir um rosto na multidão”.
Hoje Cera divide a sua residência e actividade entre a Alemanha e Portugal, como Filipa César e muitos outros artistas da sua geração. Para rever a recente exposição de Nuno Cera no CCB click aqui e aqui.
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