Cidades Efémeras (2001) de Sergio Belichón (n.1971) está em exposição até ao final desta semana na galeria Fernando Santos em Lisboa.
A série, uma cidade espanhola na Costa do Levante, construída exclusivamente para fins turísticos é uma cidade efémera. Só três meses no ano, os meses de verão, é que a cidade tem vida, nos restantes converte-se numa cidade fantasma. As fotografias da série Cidades Efémeras, são tiradas quando a cidade se transforma em fantasma. Belichón, um espanhol que trabalha em Berlim, gosta de fotografar os espaços urbanos, em que a presença humana é-nos dada únicamente pelos seus vestígios. São fotografias da terra de ninguém, como apelidou o sociólogo françês Marc Augé, a estes espaços, que nem são cidades nem campo.
Cidades Efémeras, Sergio Belinchón
Cidades Efémeras, Sergio Belichón
Cidades Efémeras, Sergio Belichón
Cidades Efémeras, Sergio Belichón
Arredores de Berlim é uma das suas séries mais recentes (2004).
Sem Título, Sergio Belichón, 2004
Sem Título, Sergio Belichón, 2004
Na década de 1970, a fotografia americana centrou-se, nesta terra de ninguém, os subúrbios das grandes cidades. Os fotógrafos olham em volta e não gostam do que vêem. “New Topographics: Photographs of a Man-Altered Environment”, que o museu da George Eastment House organiza em 1975, é a exposição seminal desta geração. Lewis Baltz, Robert Adams, Nicholas Nixon... todos americanos, da Europa só Bernd e Hilla Becher.
Subúrbios transformados em lixeiras, poluição do ambiente, casas standardizadas, todas iguais de construção rápida. É preciso mostrar a degradação rápida da natureza. É a geração das fotografias em série e do olhar que se quer neutro, o que é importante é o tema, não é a fotografia em si nem a expressão do fotógrafo.
Em meados dos anos 1980, Lewis Baltz testemunha os espaços violados e espoliados de dois subúrbios de São Francisco, San Quentin Point, logo à saída da Golden Gate Bridge,
San Quentin Point, Califórnia, USA, Lewis Baltz, 1981-3
e Candlestick Point, na zona sul do Bronx, Nesta última série, a cor mistura-se com o preto e branco na perfeição. É o subúrbio sem cor.
Candlestick Point, Califórnia, USA, Lewis Baltz, 1984-8
Mas já antes, Homes for America editado na revista Arts Magazine em Dezembro 1966-
Janeiro 1967, é uma reflexão de Dan Graham sobre a construção standardizada das “track houses” que surgiram no pós-guerra na América.
Trucks, New Jersey, N.J, Homes for America, Dan Graham, 1966
Independentemente da zona geográfica, como se lê no texto de Homes for America, as casas dos subúrbios são standardizadas.
Numa viagem de regresso a New Jersey, vi muitas coisas que queria fotografar, diz Graham numa entrevista anos mais tarde. Como não tinha dinheiro para fazer arte, caminhava ao longo da via férrea e tirava fotografias de áreas suburbanas. Nelas, interessaram-me coisas que também na arte minimal consideravamos importantes, a transparência e a serialidade. As fotografias foram projectadas em slides.
A Arts Magazine pediu-me então para as publicar, e eu achei interessante juntar um texto.
Este trabalho de Graham, um dos seus primeiros, é um ensaio em fototexto, que a crítica não soube classificar. Não é arte nem tão pouco um artigo de revista. Série de 34 páginas, onde cada uma tem 3 colunas de formato idêntico, é um misto de brochura e inquérito sociológico. Nos subúrbios de Cape Coral, o comprador, lemos no texto, pode escolher entre oito modelos de casas A The Sonata B The Concerto C The Ouverture...e pode também escolher oito cores para a pintura do exterior. O texto mostrava combinações do mesmo modo que as fotografias.
A subjectividade de quem escolhe acaba numa produção em série. Graham põe em relevo a crise do modernismo, em que o sentimento individual não se coaduna com o modelo de vida doméstica contemporânea imposto pela industrialização.
Row of New Tract Houses, Jersey City, Homes for America, Dan Graham, 1966
Row of New Tract Houses, Bayonne,N,J, Homes for America, Dan Graham, 1966
Row of Tract House, Bayonne,N.J, Homes for America, Dan Graham, 1966
Split Level, Two Home Homes, Jersey City.N,J, Homes for America, Dan Graham, 1966
Opening of a New Highway Restaurant, Jersey City, N.J, Homes for America,D.Graham 1967
Row of Houses, Jersey City, N,J.Homes for America, Dan Graham, 1966
Se na década de 1970, o campo de acção prioritário foi o registo da transformação da paisagem urbana, hoje o campo de acção da fotografia americana alargou-se ao meio ambiente. “Ecotopia” uma exposição que terminou no mês passado no International Center of Photography, em Nova Iorque é um exemplo.
Clatsop County, Robert Adams, 2001
Amos Power Plant, Raymond, West Verginia, Mitch Epstein, 2004
Biloxi, Mississipi, Mitch Epstein, 2005
Surveillance 983-9, Daivid Maisel, 2005
A preocupação centra-se nos efeitos globais da poluição. A fotografia americana não consegue escapar às condições do enquadramento da época respectiva. Na Europa, os lugares de ninguém, continuam tema prioritário.
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