quinta-feira, novembro 08, 2007

"The Photobook: a History", por Martin Parr

Arte Lisboa, a feira dedicada à arte contemporânea abriu ontem na FIL. No próximo Domingo, pelas 16h30mn, uma conferência: “Outras zonas de contacto: imagens contemporâneas de uma colecção privada” terá como orador, Lúcia Marques, crítica de arte e como convidado, Martin Parr, fotógrafo e editor.
“Outras zonas de contacto”, exposição comissariada por Lúcia Marques, é a primeira que reúne e apresenta a colecção de fotografias de Américo Marques dos Santos, que ontem também inaugurou na Fundação Carmona e Costa e no Museu da Cidade.

Em parceria com a Feira de Arte de Lisboa, Lúcia Marques no Domingo convida Martin Parr a falar do seu trabalho e dos livros que editou sobre os livros fotográficos, oportunidade a não perder.

Em 2004, a Phaidon lançava, com uma excelente qualidade de impressão, o primeiro volume “The Photobook: A History”, de Martin Parr e Gerry Badger.
O livro não passou desapercebido entre nós, Parr incluia nesta magnífica história dos livros fotográficos, um livro português, “Lisboa Cidade Triste e Alegre” de Victor Palla e Costa Martins, aliás o único.
O livro, para além dos livros fotográficos, narra uma nova história da fotografia feita a partir dos livros fotográficos: a cultura fotográfica de cada época, as exposições, as editoras e a sua importância, como a genialidade de Robert Delpire, o papel da Aperture Books a partir da década de 1960, a pequena editora Lustrum Press de Ralph Gibson, põe em relevo o que as histórias da fotografia normalmente omitem. A escolha dos livros, tal como os autores revelam, é baseada em critérios: frescura e originalidade da obra fotográfica, sequência, continuidade, impressão, elegância e arrojo no design. ..., e como os próprios também reconhecem a inevitabilidade de se tornar num livro subjectivo. Antologias e monografias são excluidas, porque à partida não se enquadram nos critérios escolhidos, mas nem sempre é assim e “Atget: photographe de paris” publicado três anos depois da sua morte, 1930, por Berenice Abbot não fica de fora, como também não fica de fora Diane Arbus: An Aperture Monograph, 1972, publicado para acompanhar a grande exposição do MoMA, um ano depois de Arbus morrer. Fotógrafos pouco conhecidos vêem a luz do dia, outros muito conhecidos, Ansel Adams, Edward Weston, Alfred Sieglitz ficam de fora. Camera Work era uma revista, e os primeiros preferiam apresentar as suas obras como únicas e não em livro, as suas antologias não encaixam nos critérios escolhidos. O primeiro volume, básicamente assente numa estrutura cronológica, termina com um capítulo dedicado ao Japão. Doze anos antes, como nos conta Parr no seu prefácio, numa viagem ao país, encontra o livro 11.02 Nagasaki, (1966) de Shomei Tomasu, para muitos o fundador da fotografia japonesa moderna, outros seguem-se em catadupa, como o fio de novelo que quando se desenrola parece não ter fim. E o livro termina com “Girls Blue:Rockin’On” de Hiromix, 1996.

Os apaixonados por livros fotográficos, onde também me incluo, esperaram ansiosamente dois anos pelo segundo volume, enquanto os livreiros, utilizavam já o primeiro volume como referência para uma nova geração de coleccionadores.
Paris Photo, 2005
A leiloeira Christie’s iniciava no ano seguinte, 18 de Maio de 2006, um leilão só de livros fotográficos. “Lisboa Cidade Triste e Alegre” que em 1982 era vendido na galeria Ether por 2.500$00 e demorou a vender, chegou, no leilão de Maio de 2007 ,ao valor de 14 mil euros.
E finalmente o segundo volume.
Agora é a vez dos livros contemporâneos, embora alguns capítulos como “Point of Sale” nos leve de volta ao século XIX. Depois do prefácio, o texto do primeiro capítulo é ilustrado com “Untitled Film Stills, 1990, de Cindy Sherman e terminamos com “The Lost Pictures” de Alexander Honory de 1998, um livro sem imagens. Neste segundo volume, nos livros contemporâneos, é Badger quem escreve sobre um assunto delicado, os livros que ambos, Badger e Parr publicaram. De forma clara refere que decidiram não os incluir, mas Badger acrescenta que os livros de Parr “The Last Resort” (1986) e “Common Sense” (1999) encaixavam na perfeição no capítulo “Home and Away. Modern Life and the Photobook”.

Parr conta-nos logo no início que foi um excelente professor, no Manchester Polytechnic, que nos anos 70, o fez abrir os olhos para os livros fotográficos. Parr recorda-se do primeiro livro que comprou em 1971: uma segunda edição de “The Americans” de Robert Frank, 1959.

Dez anos depois chegava a minha vez de me deslumbrar com os livros fotográficos. Também me recordo do primeiro livro que comprei
Max Yavno, Keyboard, San Francisco, 1947
o livro com as fotografias de Max Yavno, através da International Center of Photography.
Também quis comprar “The Americans” de Robert Frank. Em Portugal pouco ou nada havia, era através de catálogos que seleccionava e encomendava depois os livros. Ainda guardo os catálogos desse tempo.
Vira o livro “The Americans” no catálogo da livraria Nicephore em Paris, há muito encerrada.
Fiz a encomenda. Recebi depois um cartão da livraria: les américains de R.Frank (épuisé).
Viria a comprar no ano seguinte na Creative Camera em Londres, na edição da Aperture de 1978. E já agora não resisto a contar os truques que tinhamos de fazer para a compra de livros estrangeiros. Á época Portugal vivia tempos difíceis, o escudo desvalorizado obrigava a restrições. Ao solicitar um cheque sobre o estrangeiro ao balcão de qualquer banco tinhamos que dizer: é para compra de livros técnico profissionais, caso contrário não podiamos, e anexavamos ao pedido fotocópias dos livros indicados no catálogo. Nunca ninguém questionou se eram ou não livros “técnico-profissionais”, e assim comecei a minha colecção, uma gota ao lado da colecção de Parr.

Parr, como nos revela em “The Photobook: A History”, tem prazer em conhecer outras colecções.

Leonard Freed, também um fotógrafo da Magnum, faleceu no ano passado. Freed estudou com Alexey Brodovitch no seu Design Laboratory, onde este ensinava fotografia e design gráfico. “Black in White America” foi o primeiro livro de Freed, impresso em rotogravura. Quer as fotografias como o design do livro, cumprem os critérios de Parr e Badger, um livro fascinante sobre os problemas raciais na América nos anos de 1960 e hoje completamente esquecido. Parr e Badger, no capítulo “The Camera as Witness” iniciam o texto com a exposição “The Concerned Photographer” em 1967. Organizada por Cornell Capa, apresentava seis fotojornalistas: Robert Capa, Werner Bischof, David Seymour, André Kertész, Dan Weiner e Leonard Freed. Contudo, Parr e Badger não incluem nem referem os livros de Freed.
Para não o esqueçermos vou incluir algumas fotografias do livro neste post.
E já agora não resisto a referir a minha escolha deste ano: “26 Different Endings”, 2007, de Mark Power.

Não perca Martin Parr no próximo Domingo.

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terça-feira, novembro 06, 2007

Matemática a três dimensões

O reconhecimento quase generalizado de que as coisas não vão bem no ensino, em particular na Matemática, (no exame do 9º ano de 2006-2007 houve 72,8% de negativas) é para muitos o resultado de uma má orientação pedagógica.

A Universidade de Tóquio tem uma série de objectos matemáticos, feitos em gesso, que foram concebidos para permitir aos alunos visualizarem funções trignométricas complexas. Para além desta série a Universidade tem também um conjunto de objectos mecânicos que permitem analizar os movimentos base da engenharia mecânica.

Em 2004, depois de um encontro com o Professor Nishino da referida Universidade, Hiroshi Sugimoto teve a ideia e o interesse em fotografar estas séries.
Hiroshi Sugimoto, Mathematical Form, Surface 0012, 2004 (Diagonal Clebsh surface cubic with 27 lines)
Walter Dyck, ilustração superfície diagonal de Clebsch
O trabalho exposto nesse ano, na Fundação Cartier pour l’art contemporain em Paris, teve a colaboração da Universidade de Tóquio. O edifício transparente desenhado por Jean Nouvel que serve de sede à Fundação, foi o espaço escolhido por Sugimoto para apresentar “Étant donné: Le Grand Verre”, uma homenagem a Marcel Duchamp, o artista que interrogou, ao longo de toda a sua obra, o papel da arte na era da reprodução mecânica.
O texto escrito por Sugimoto para a exposição diz o seguinte: “A minha nova série de fotografias, Conceptual Forms, divide-se em duas partes, Formas Matemáticas e Formas Mecânicas. As formas Matemáticas subdividem-se em dois conjuntos: Superfícies e Curvas.
As Formas Matemáticas são fotografias de volumes estéreométricos em gesso que permitem visualizar em três dimensões as funções trignométricas complexas. Estes objectos matemáticos foram realizados na Alemanha entre o fim do século XIX e o início do século XX.
As formas mecânicas são fotografias de objectos mecânicos que servem para ilustrar os diferentes movimentos das máquinas modernas. Estes objectos foram fabricados na Grã-Bretanha no final do século XIX.
Estes modelos e máquinas foram criados sem nenhuma intenção artística. Foi precisamente este aspecto que me levou a realizar esta série de fotografias e chamar de Conceptual Forms. A arte pode nascer sem que haja intenção artística a priori; certamente é até a melhor forma”.
As séries, dispostas nas duas salas do rés-do-chão do edifício, estavam organizadas no espaço propondo uma reconstrução da obra mais célebre de Marcel Duchamp, “Le Grand Verre”, e a arquitectura em vidro do edifício ajudou ao efeito. Para Sugimoto, o feminino e o masculino estão representados nestas duas séries: o feminino representado pelas linhas leves e fluidas das formas matemáticas, em contraste com o lado masculino representado pela robustez dos modelos mecânicos.
Hiroshi Sugimoto, Mechanical Form 0039, 2994
Sugimoto evoca assim a separação do “Grand Verre” em dois painéis “La Mariée” e “Ses Célibataires”. Para além destas duas séries, Sugimoto fotografou a réplica do “Grand Verre”, que existe no Museu de arte da Universidade de Tóquio, representado esta fotografia a chave da exposição.

Em Paris, no Instituto Poincaré, Man Ray, como nos refere na sua autobiografia, descobre “detrás de umas vitrines poeirentas” objectos que representavam funções matemáticas. Fabricados ainda no século XIX, em gesso e madeira, tinham um objectivo pedagógico: traduzir em objectos tridimensionais as abstrações científicas da matemática. Estes objectos traduziam em volume os desenvolvimentos da ciência sobre as novas propriedades curvilíneas das superficies geométricas no espaço. A ciência à época, alargava a base da geometria euclidiana e inventava e reflectia sobre superficies cada vez mais complexas. Os objectos foram então criados para apoiar as demonstrações dos novos inventos. Henri Vuibert em 1912, escrevia “ estes objectos ajudam os alunos a ver no espaço, ao materializarem-se as principais figuras da geometria e da geometria descritiva. A utilização destas figuras é preciosa para o ensino, sobretudo se as fizermos construir pelos próprios alunos.” Desta forma os alunos podiam percepcionar fenómenos complexos não visíveis ao olho.
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36
Gerd Fischer, Mathematical Models
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36

As fotografias dos objectos matemáticos de Man Ray, tiradas entre 1934-36, são do agrado dos surrealistas. Para eles “la plastique exprimait un problème mathématique précis et suggérait en même temps une quantité d’associations d’idées et d’images d’analogies”. Em “Crise de l’objet” publicado em 1936 no Cahiers d’art, André Breton refectia sobre os problemas da geometria moderna levantados por Gaston Bachelard em “Le Nouvel Esprit sicentifique”,de 1934, e ilustrava o texto com os objectos matemáticos de Man Ray. Para ele, Breton, estes objectos serviam na perfeição o reencontro das duas principais tendências surrealistas da época: reflexão sobre a noção de objecto e as decobertas da ciência moderna. Em 1936, os objectos matemáticos de Man Ray são mostrados em diversas exposições, em Paris na galeria Charles Ratton, em Nova Iorque no MoMA e em Londres na New Burlington Galleries.

Comparemos agora o trabalho de ambos. Para além de retratarem o mesmo tema, objectos matemáticos, e da distânica no tempo, sessenta e oito anos, as analogias entre as fotografias de Sugimoto e Man Ray são imensas. Ambos fotografam os objectos matemáticos em fundo neutro, isolados de qualquer acessório e em planos aproximados. Nós observadores ficamos sem referências para reconstituirmos a verdadeira dimensão dos objectos. Muito pequenos, quer na colecção da Universidade quer no Instituto Poincaré, parecem contudo objectos monumentais, e Sugimoto acentua ainda mais a monumentalidade utilizando ampliações de grande formato (c.150 x 120 cm).
Ambos utilizam uma iluminação sofisticada para acentuar algumas sombras, certos volumes e arestas, e os efeitos conjugados da iluminação e dos planos aproximados, transformam os objectos matemáticos, construídos para fins didácticos, em esculturas matemáticas.
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36

O estatuto e função destes modelos matemáticos são eliminados, agora são para quem olha objectos misteriosos. Para Man Ray tudo pode ser transformado, deformado, eliminado pela luz. Nesta fotografia,
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36

Man Ray, prefere põr em relevo as linhas curvas do objecto, em detrimento da visibilidade da estrutura geral. Os objectos matemáticos deixam o seu contexto científico limitado para se alargarem noutros horizontes, cada objecto é agora como disseram os surrealistas “déclencheur de métamorphoses”, permitindo ao observador imaginar o que quiser.
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36
Man Ray, Objectos Matemáticos, 1934-36
Hiroshi Sugimoto, Mathematical Form, 0004, 2004

Hiroshi Sugimoto em “Étant donné: Le Grand Verre” presta homenagem a Marcel Duchamp. Man Ray conheceu Marcel Duchamp em Nova Iorque, 1915, a cumplicidade entre ambos durará até à morte.
Man Ray, o dadaísta que deixou Nova Iorque por Paris é admirado pelos surrealistas. Sugimoto deixou o Japão em 1970 para estudar em Los Angeles, numa época onde minimalismo e conceptualismo constituiam as correntes predominantes no mundo artístico.
Durante sessenta e oito anos, 1936-2004, o mundo da arte sofreu profundas evoluções. Sugimoto volta a fotografar o mesmo tema que Man Ray já fotografara, mas diferenças não as vejo, mas diferenças há no ensino da Matemática.

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domingo, novembro 04, 2007

Sombras

Na revista Atlântico de Novembro, Pedro Mexia em Conversas Atlânticas entrevista Paul Auster.
PM- “Em geral nos seus livros há uma atenção à vida quotidiana, com encontros, acasos, etc., mas também há quase sempre uma dimensão reflexiva. É um risco, escrever sobre ideias?”
PA –“Não é de todo um risco. Se nos sentimos compelidos a escrever sobre ideias, devemos escrever. No meu caso, não há nenhum material que não seja adequado a entrar num romance. Quando começamos a fechar possibilidades, fechamos portas às possibilidades da arte. Uma coisa que sempre me fascina é que muito poucas vezes nos romances vemos pessoas a ler romances. E no entanto as pessoas lêem. É uma coisa que me intriga, que os romancistas se tenham eliminado como parte do mundo real”.

Muitos fotógrafos, ao contrário dos romancistas, como refere Paul Auster, gostam de se representar na obra, e o auto-retrato é tão vulgar como na pintura. Mas muitos fotógrafos também se eliminam como parte do mundo real e preferem representar-se virtualmente utilizando a sua sombra.

Leonardo da Vinci chamou “derivadas”, às sombras daquilo que não se vê.

O retrato é um desejo antigo do homem. Em França no tempo de Louis XIV, um novo processo de retratar é inventado e entra em moda pela sua simplicidade. Sentados de perfil ao lado de um cavalete onde se dispunha uma folha branca, os retratados interpunham a passagem da luz, de forma que o seu perfil fosse projectado na folha de papel. A sombra, desenhada pela luz na superfície do papel, sem volume nem expessura, era depois pintada de preto. Seguia-se o recorte. Chamaram ao processo “silhouette”, na nossa língua silhuetas.
Silhuetas, de Charles Wage, c.1824
Gisèle Freund, no seu livro “Photographie et société”conta a origem de tal nome, “L’histoire de sa naissance est assez curieuse”. M. de Silhouette, nomeado em 1750 ministro das finanças de Louis XIV, foi incumbido de equilibrar os cofres do estado que à época estavam quase vazios. O método que Silhouette utilizou também foi simples, aumentou as taxas públicas e os cofres encheram-se. Mas a população é que não gostou e rapidamente M. de Silhouette foi comparado às imagens feitas por sombras, aquilo que existe invisível. O nome, “silhouette” vulgarizou-se e perdura até hoje.

Picasso, como já aqui vimos, também utilizou a fotografia. Em 1927, fotografa a sombra do seu perfil projectado em cima de um seu auto-retrato.
Picasso, 1927, Arquivo Picasso
Picasso, 1927, Arquivo Picasso
Num envelope, que certamente lhe estava à mão já desenhara em 1919 várias figuras do seu perfil.
Picasso, desenho, 1919, Arquivo Picasso
Em 1928, um ano depois da fotografia, Picasso pinta “Figure et Profil”.
Picasso, Figure et Profil, 1928
A semelhança do perfil da fotografia e do quadro faz supor a utilização da fotografia.

No mesmo ano, o fotógrafo André Kertész faz uma fotografia semelhante, mas ao contrário de Picasso, a máquina fotográfica também é projectada.
André Kertész, Self-Portrait, 1927
Em 1927, dois anos depois de viver em Paris, Kertész estáva ao par dos movimentos artísticos da época. Nesse ano, expõe pela primeira vez o seu trabalho, no espaço do amigo Jean Slivinsky, Au Sacre du Printemps, frequentado pelos artistas da revista L’Esprit Nouveau. Fica por responder a questão: será que ambos se conheciam?

O fotógrafo Lee Friedlander, é um fanático da sua sombra. Por onde passa gosta de a registar. Seja em casa, projectada na parede,
Lee Friedlander, Philadelphia, Pennsylvania, 1968
seja no deserto do Arizona, projectada no chão,
Lee Friedlander, Canyon de Chelly, Arizona, 1983
seja na cidade, projectada no casaco,
Lee Friedlander, New York City, 1966
no muro
Lee Friedlander, Miami, Florida, 1999
no arbusto.
Lee Friedlander, Southern United States, 1966
Nos anos de 1960, Joel Meyerowitz e Garry Winogrand gostam de fotografar Nova Iorque na companhia um do outro. Friedlander, prefere andar sózinho, ou será que a sua sombra é a sua companhia?

José Manuel Rodrigues, também não escapa ao fascínio das sombras. Como diz Jorge Calado, Rodrigues emprega-as para definir ou acentuar formas ou como mero exercício das propriedades únicas da luz. Às vezes, tal como os habitantes da caverna de Platão, Rodrigues prefere as sombras na parede à realidade exterior.
José Manuel Rodrigues, Vila Ruiva, 1995
José Manuel Rodrigues, Montemor-o-Novo, 1997

A lista é interminável, porque o reino das sombras sempre assombrou os fotógrafos. Quer o leitor acrescentar alguns?

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sexta-feira, novembro 02, 2007

Taryn Simon

A noção de fotografia documental cobre uma variedade de práticas, quase tantas como a própria ideia de fotografia, consequentemente difícil a sua definição. Nos últimos anos, a fotografia documental tem experiênciado novos desenvolvimentos, e a exposição de Taryn Simon (n.1975, EUA), na Photographer’s Gallery em Londres é um exemplo.
“An American Index of the Hidden and Unfamiliar”, o último trabalho de Simon é o resultado de quatro anos de pesquisa de temas tão variados como a hibernação de ursos, aos centros de investigação de Marijuana, na América.
Hibernating Black Bear and Cubs
Bear Den
Monongahela National Forest, West Virginia

“The American black bears in the photograph are part of the West Virginia Division of Natural Resources Black Bear Research and Monitoring Project. Researchers monitor the health and development of mothers (sows) and cubs through their hibernation from approximately mid December to early April…”
Research Marijuana Crop Grow Room
National Center for Natural Products Research
Oxford, Mississippi

“The National Center for Natural Products Research (NCNPR) is the only facility in the United States which is federally licensed to cultivate cannabis for scientific research…While 11 states have legalized the medical use of marijuana, a 2005 U.S. Supreme Court decision allows for the arrest of any individual caught using it for this purpose…”

Como sugere o nome da exposição
e o que lemos no texto de parede trata-se de fotografias “(...) documenting of the unseen and inaccessible hidden below the surface of national identity”.
Do livro, que acompanha a exposição, diz Simon “(...) we both, (referindo-se a Joseph Logan o designer), wanted to make the cover look like an old index – sort of like
those 19th century books that documented plants, animals and exploration. This project does have that element of exploration on it”.
“The Innocents”, o trabalho anterior, testemunha a experiência de pessoas que erradamente foram condenadas à prisão. Linhas diferentes de documentário estão subjacentes nos dois trabalhos: em “The Innocents”, a denúncia de situações, o testemunho característico das reportagens fotográficas, em “An American Index of the Hidden and Unfamiliar”, o testemunho actual da ciência, da política, da medicina, da natureza, da ficção nos media, da religião...enfim a fotografia como documento da cultura actual na América.
The Cage
Mansfield Correctional Institution
Mansfield, Ohio

“At Mansfield Correctional Institution, death row inmates are permitted one hour of outdoor recreation per day in individual or group contamment areas known as cages or bullpens. Inside segregated cages there is only a chin-up bar and inmates are not permitted to bring any items with them. In non-segregated cages there is a stationary basketball net and they are permitted to bring with them items including a basketball, radio, deck of cards, and cigarettes. All dead row inmates at Mansfield are classified as having”mental heath issues…”
Jury Simulation, Deliberation Room with Two-Way Mirror
DOAR Litigation Consulting
Lynbrook, New York

“Mock juries are an integral part of litigation consulting, a little-known professional field with annual profits of approximately $3 billion. The estimated cost of a single jury simulation is $60,000. Jurors for simulations are jury-eligible individuals from the jurisdiction where the actual case will be tried. They are recruited to accurately reflect the socio-demographic backgrounds of that jurisdiction’s population”.
Avalanche Control, Hand-Thrown Explosive
Copper Mountain, Colorado

“The purpose of this explosion is to induce an avalanche. Part of a pre-emptive avalanche control plan, the detonation prevents fatalities and property damage by limiting spontaneous avalanches…Approximately 2,300 avalanches are reported to the Avalanche Center in an average Colorado winter…”
Nuclear Waste Encapsulation and Storage
Facility, Cherenkov Radiation
Handford Site, U.S. Department of Energy
Southeastern Washington State

“Submerged in a pool of water at Hanford Site are 1,936 stainless-steel nuclear-waste capsules containing cesium and strontium. Combined, they contain over 120 million curies of radioactivity. It is estimated to be the most curies under one roof in the U.S…The pool of water serves as a shield against radiation…”
Alhurra TV
Broadcast Studio
Springfield, Virginia

“...Established in February 2004, the network broadcast 24-hour, commercial free satellite programming to an audience of 21 million weekly viewers in 22 Arab counstries. In April 2004, a second, Iraq-focused channel, Alhurra Iraq, was launched…
Lucasfilm Archive, Death Star II
Skywalker Ranch
Marin County, California

“Lucasfilm Archives was built in 1991 to preserve the artifacts used in the making of writer, director and producer George Lucas’s films…In Star Wars: Episode VI- Return of the Jedi, Death Star II is seen as a mirror image(flipped).Here it is pictured in its true orientation…”

Simon explora, como Watkins e O’Sullivan exploraram na era das missões geológicas, na década de 1870, o território do novo mundo, o Oeste americano. O mundo Ocidental via então em fotografia, paisagens só anteriormente imaginadas.

Simon também imaginou, muitos dos locais que fotografou, “sabemos que são locais que existem”revela Simon, “sabemos que qualquer animal que entra no país é obrigado a um período de quarentena, não conhecemos o local, o espaço onde eles ficam, e o que imaginámos, revela-se depois, completamente diferente.” São estas suas experiências que Simon agora nos revela.

No início julgamos estar em presença de um jogo, ficção ou realidade?
A utilização de uma câmara de grande formato, (sempre que pode) e os temas, ajudam a criar um mundo de ilusão. Á primeira vista as fotografias parecem irreais, tiradas a um mundo criado em maquetes, como faz Thomas Demand, Christoph Draeger, Edwin Zwakman....
Chistoph Draeger, Catastrophe #1, 1994
Edwin Zwarkman, Straat II, 2004
Depois lemos os textos. Escritos de forma clara e objectiva por Simon, contextualizam então cada fotografia.
Military Operations on Urban Terrain, Virtual
Simulation
Meta VR
Brookline, Massachusetts

“…Virtual simulations like these are used for the training of soldiers and the development of future combat systems and strategies. They enable soldiers to operate a computer as an individual combatant from the perspective of a fist person shooter, commonly seen in popular computer games…”
Fireworks by Grucci, Northern Test Site
Corporate Headquarters
Brookhaven, New York
“Following U.S. military standards for ammunition and explosives, Grucci tests fireworks for quality and safety on their specially designed private testing lots. Grucci is one of the largest firework and pyrotechnic manufacturing firms in the world…”

Não estamos afinal no mundo da ficção, da “disneyfication”, utilizada por tantos fotógrafos para documentarem o mundo actual. Por outro lado as fotografias são autónomas, não seguem a narratividade comum às reportagens fotográficas, mas indissociáveis do texto, remetem-nos para as reportagens mais clássicas. “An American Index of the Hidden and Unfamiliar”, é um trabalho documental inovador e criativo, onde o documento clássico e o actual são sabiamente doseados.
Aqui, Taryn Simon conversa com David Schonaeur, e aqui uma conferência de Taryn Simon. Mais outro link aqui.

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