quinta-feira, novembro 08, 2007

"The Photobook: a History", por Martin Parr

Arte Lisboa, a feira dedicada à arte contemporânea abriu ontem na FIL. No próximo Domingo, pelas 16h30mn, uma conferência: “Outras zonas de contacto: imagens contemporâneas de uma colecção privada” terá como orador, Lúcia Marques, crítica de arte e como convidado, Martin Parr, fotógrafo e editor.
“Outras zonas de contacto”, exposição comissariada por Lúcia Marques, é a primeira que reúne e apresenta a colecção de fotografias de Américo Marques dos Santos, que ontem também inaugurou na Fundação Carmona e Costa e no Museu da Cidade.

Em parceria com a Feira de Arte de Lisboa, Lúcia Marques no Domingo convida Martin Parr a falar do seu trabalho e dos livros que editou sobre os livros fotográficos, oportunidade a não perder.

Em 2004, a Phaidon lançava, com uma excelente qualidade de impressão, o primeiro volume “The Photobook: A History”, de Martin Parr e Gerry Badger.

O livro não passou desapercebido entre nós, Parr incluia nesta magnífica história dos livros fotográficos, um livro português, “Lisboa Cidade Triste e Alegre” de Victor Palla e Costa Martins, aliás o único.
O livro, para além dos livros fotográficos, narra uma nova história da fotografia feita a partir dos livros fotográficos: a cultura fotográfica de cada época, as exposições, as editoras e a sua importância, como a genialidade de Robert Delpire, o papel da Aperture Books a partir da década de 1960, a pequena editora Lustrum Press de Ralph Gibson, põe em relevo o que as histórias da fotografia normalmente omitem. A escolha dos livros, tal como os autores revelam, é baseada em critérios: frescura e originalidade da obra fotográfica, sequência, continuidade, impressão, elegância e arrojo no design. ..., e como os próprios também reconhecem a inevitabilidade de se tornar num livro subjectivo. Antologias e monografias são excluidas, porque à partida não se enquadram nos critérios escolhidos, mas nem sempre é assim e “Atget: photographe de paris” publicado três anos depois da sua morte, 1930, por Berenice Abbot não fica de fora, como também não fica de fora Diane Arbus: An Aperture Monograph, 1972, publicado para acompanhar a grande exposição do MoMA, um ano depois de Arbus morrer. Fotógrafos pouco conhecidos vêem a luz do dia, outros muito conhecidos, Ansel Adams, Edward Weston, Alfred Sieglitz ficam de fora. Camera Work era uma revista, e os primeiros preferiam apresentar as suas obras como únicas e não em livro, as suas antologias não encaixam nos critérios escolhidos. O primeiro volume, básicamente assente numa estrutura cronológica, termina com um capítulo dedicado ao Japão. Doze anos antes, como nos conta Parr no seu prefácio, numa viagem ao país, encontra o livro 11.02 Nagasaki, (1966) de Shomei Tomasu, para muitos o fundador da fotografia japonesa moderna, outros seguem-se em catadupa, como o fio de novelo que quando se desenrola parece não ter fim. E o livro termina com “Girls Blue:Rockin’On” de Hiromix, 1996.

Os apaixonados por livros fotográficos, onde também me incluo, esperaram ansiosamente dois anos pelo segundo volume, enquanto os livreiros, utilizavam já o primeiro volume como referência para uma nova geração de coleccionadores.
Paris Photo, 2005
A leiloeira Christie’s iniciava no ano seguinte, 18 de Maio de 2006, um leilão só de livros fotográficos. “Lisboa Cidade Triste e Alegre” que em 1982 era vendido na galeria Ether por 2.500$00 e demorou a vender, chegou, no leilão de Maio de 2007 ,ao valor de 14 mil euros.
E finalmente o segundo volume.
Agora é a vez dos livros contemporâneos, embora alguns capítulos como “Point of Sale” nos leve de volta ao século XIX. Depois do prefácio, o texto do primeiro capítulo é ilustrado com “Untitled Film Stills, 1990, de Cindy Sherman e terminamos com “The Lost Pictures” de Alexander Honory de 1998, um livro sem imagens. Neste segundo volume, nos livros contemporâneos, é Badger quem escreve sobre um assunto delicado, os livros que ambos, Badger e Parr publicaram. De forma clara refere que decidiram não os incluir, mas Badger acrescenta que os livros de Parr “The Last Resort” (1986) e “Common Sense” (1999) encaixavam na perfeição no capítulo “Home and Away. Modern Life and the Photobook”.

Parr conta-nos logo no início que foi um excelente professor, no Manchester Polytechnic, que nos anos 70, o fez abrir os olhos para os livros fotográficos. Parr recorda-se do primeiro livro que comprou em 1971: uma segunda edição de “The Americans” de Robert Frank, 1959.

Dez anos depois chegava a minha vez de me deslumbrar com os livros fotográficos. Também me recordo do primeiro livro que comprei
Max Yavno, Keyboard, San Francisco, 1947
o livro com as fotografias de Max Yavno, através da International Center of Photography.
Também quis comprar “The Americans” de Robert Frank. Em Portugal pouco ou nada havia, era através de catálogos que seleccionava e encomendava depois os livros. Ainda guardo os catálogos desse tempo.
Vira o livro “The Americans” no catálogo da livraria Nicephore em Paris, há muito encerrada.
Fiz a encomenda. Recebi depois um cartão da livraria: les américains de R.Frank (épuisé).
Viria a comprar no ano seguinte na Creative Camera em Londres, na edição da Aperture de 1978. E já agora não resisto a contar os truques que tinhamos de fazer para a compra de livros estrangeiros. Á época Portugal vivia tempos difíceis, o escudo desvalorizado obrigava a restrições. Ao solicitar um cheque sobre o estrangeiro ao balcão de qualquer banco tinhamos que dizer: é para compra de livros técnico profissionais, caso contrário não podiamos, e anexavamos ao pedido fotocópias dos livros indicados no catálogo. Nunca ninguém questionou se eram ou não livros “técnico-profissionais”, e assim comecei a minha colecção, uma gota ao lado da colecção de Parr.

Parr, como nos revela em “The Photobook: A History”, tem prazer em conhecer outras colecções.

Leonard Freed, também um fotógrafo da Magnum, faleceu no ano passado. Freed estudou com Alexey Brodovitch no seu Design Laboratory, onde este ensinava fotografia e design gráfico. “Black in White America” foi o primeiro livro de Freed, impresso em rotogravura. Quer as fotografias como o design do livro, cumprem os critérios de Parr e Badger, um livro fascinante sobre os problemas raciais na América nos anos de 1960 e hoje completamente esquecido. Parr e Badger, no capítulo “The Camera as Witness” iniciam o texto com a exposição “The Concerned Photographer” em 1967. Organizada por Cornell Capa, apresentava seis fotojornalistas: Robert Capa, Werner Bischof, David Seymour, André Kertész, Dan Weiner e Leonard Freed. Contudo, Parr e Badger não incluem nem referem os livros de Freed.
Para não o esqueçermos vou incluir algumas fotografias do livro neste post.
E já agora não resisto a referir a minha escolha deste ano: “26 Different Endings”, 2007, de Mark Power.

Não perca Martin Parr no próximo Domingo.

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