De Ingmar Bergman sigo para Michelangelo Antonioni, e não perciso explicar porquê, os últimos dias deste Julho que acabou de passar vão marcar a história do cinema.
Em Março, foi a vez de “Blow-Up, a história de um fotógrafo”, 1966. É a história de um fotógrafo sem ser a sua história, pouco sabemos da vida do fotógrafo, nem mesmo o seu nome.Antonioni em “Blow-Up” desmaterializa a fotografia, e de ampliação em ampliação, transforma a fotografia em pintura abstracta, “o objecto propriamente dito decompõem-se e desaparece” dirá Antonioni. O actor David Hemmings, o fotógrafo sem nome, tenta a narração com as sucessivas ampliações que pendura lado a lado no seu estúdio. Mas a fotografia por si só não representa a verdade, é necessário um testemunho, mas o amigo de Hemmings está demasiado bêbado para ir ao parque servir de testemunha, e a fotografia perde o sentido fora do contexto. Cabe a cada um de nós, espectadores de “Blow-Up”, querer ou não entrar no jogo (de ténis sem bola) de Antonioni. Para o mestre do cinema a fotografia é pessoal e subjectiva, “há um momento em que agarramos a realidade, mas o momento passa”.
Há anos que não tenho vontade de fotografar. No início de Março, atravessei de carro a região da Andaluzia. O Inverno estava a terminar, mas as temperaturas anunciavam o Verão, o calor inesperado e intenso, era o pronúncio de que a Primavera está a desaparecer. Quem sai da via rápida, percorre poucos quilómetros até chegar às aldeias que vemos no horizonte. Aqui é a solidão, para fugir ao calor as pessoas refugiam-se em casa, as persianas fecham-se e com um tempo quente somos contagiados pela lentidão. Devo a Micheangelo Antonioni a vontade em fotografar a região da Andaluzia.
Madalena Lello, Andaluzia, Março 2007
Vira uns meses antes, no cinema Nimas, o filme “Profissão Repórter” 1975. Jack Nicholson, faz de David Locke, um repórter de profissão que viaja para o Norte de África para mais um documentário. Com a morte de David Robertson, um traficante de armas, com quem se cruza no hotel onde está hospedado, Locke vê a oportunidade de mudar a sua identidade, quer fugir à profissão e família e acaba, a fugir de tudo e de todos na região da Andaluzia. É no Hotel de la Glória,
Fotogramas do filme, "Profissão Repóter"
numa aldeia perdida, que Antonioni filma a cena final. No quarto, David Locke, no papel de Robertson já está enclausurado quando abre a janela.
Fotogramas do filme "Profissão: Repórter"
Deita-se na cama e espera, e a espera é longa, pois segue-se uma das cenas mais longas do filme, a câmara de filmar de Antonioni fixa a janela, e muito lentamente, demorando quatro minutos, aproxima-se das grades.
Fotogramas dos filme "Profissão Repórter"
As grades desaparecem quando chega o carro da polícia.
Fotograma do filme "Profissão: Repórter"
Deixamos de saber onde está a câmara de filmar, ainda no quarto? ou já no terreiro?. Depois começa a rodagem em 180º,
Fotograma do filme "Profissão: Repórter"
e agora do exterior a câmara fixa o quarto de Locke.
Fotograma do filme "Profissão:Repórter"
É a cena final, a mais bela e longa do filme.
“O hábito de filmar cenas longas nasceu espontaneamente no primeiro dia de filmagens de “Escândalo de Amor”, revela Antonioni.
O que é que tem essa janela de especial, perguntaram-me quando tirei a fotografia.
quinta-feira, agosto 02, 2007
Michelangelo Antonioni
Etiquetas:
Cinema
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4 comentários:
se desejar, pode ver esta cena final em plano-sequência, tão belissimamente ilustrada por si, aqui.
gostei muito deste post.
Talvez por falta de tempo é raro ver o que tem o You Tube.
Muito obrigado por fazer o link
Olá Madalena,
Antes de mais, obrigado pelos bons momentos de leitura. Queria fazer-te uma pergunta. O hotel do "Profissão: Repórter" fica em Osuna, a leste de Sevilha? Encontra-se facilmente?
Obrigado desde já pela atenção...
João Leal
Olá João, infelizmente não vou poder ajudar, a fotografia que aqui mostro é tirada perto de Sevilha, mas não é o Hotel de la Glória do filme em Osuna, não lhe sei mesmo dizer se é fácil de encontrar...
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