sábado, agosto 18, 2007

Entre a cidade e o campo, os subúrbios na América

Crescimento demográfico, taxas de juro baixas e economia sustentável são as premissas para a construção de novas casas. Mas, nos últimos anos, a América ignorou o crescimento demográfico a favor dos especuladores imobiliários e construiu novas casas como se vivesse um novo baby boom. O resultado são agora casas vazias a preços reduzidos e os subúrbios estão à venda.
“Real Estate Opportunities”, 1970, é mais um livro de Ed Ruscha. Nesta fotografia
Edward Ruscha, do livro "Real Estate Opportunities",1970

“For Sale” é quase invisível, pois a estrada ocupa o primeiro e principal plano, “são propriedades à venda em Santa Ana, Downey...locais onde por vezes as coisas mais banais são para mim importantes...gostei imenso de ter tirado estas fotografias numa tarde...”, comenta Ruscha, e “Real Estate Opportunities” é um livro fiel ao seu estilo sem estilo, pois para ele "it's not only photography that interests me, it's the whole production of the books...I never take pictures just for the taking of pictures; I'm not interested in that at all. I'm not intrigued that much with the medium...I want the end of product; that's what I'm really interested in. It's strictly a medium to use or to not use..."
Edward Ruscha, provas de contacto de "Real Estate Opportunities",1970

Walker Evans começou a fotografar de forma directa e simples “as coisas mais banais”, bombas de gasolina, barbearias, casas nas pequenas cidades do Midwest,...e com ele nasce uma nova iconografia visual tipicamente americana.
Com o baby boom do pós-guerra os subúrbios seduziram. Em “Homes for America”, 1966-67, Dan Graham fotografou as novas casas construídas de forma rápida e standardizada
Dan Graham, Living Room, "Model Home", New York City 1966
Dan Graham, Homes for America, 1966-67

que proliferaram pelo país e ironizou as combinações possíveis que os catálogos de venda permitiam aos novos locatários.


Em 1978, “Alteration to a suburban house” é o culminar da sua reflexão sobre a vida nos subúrbios.
Dan Graham, Alteration to a suburban house, 1978

Constrói uma casa sem fachada, semelhante à casa Farnsworth de Mies van der Rohe,
Mies van der Rohe, casa Farnsworth, 1945-51

onde no interior um espelho dividia a frente das traseiras. O espelho permite a dupla exposição, o transeunte vê-se simultaneamente na sala de estar da casa e na rua, “I look in and see muself looking out...there is no interior. What the huge window reveals is not a private space but a public representation of conventional domesticity, an image of socially accepted normalcy”, refere Graham. ”. Para Graham os subúrbios são a uniformização e a falta de privacidade, é o ver e o ser visto.

Lewis Baltz nasce com o baby boom e cresce em Newport Beach, um subúrbio de Orange County. “The Tract Houses”, 1969-71, é uma das suas primeiras séries e seguem-se outras “Prototype works” 1967-76. Baltz vê as novas construções como linhas de montagem, “Like automobiles, houses were sold on a price scale to fit family budgets, from less than $10.000 to about $150.000” e fotografa as casas desabitadas, porque ainda em construção, nos subúrbios de São Francisco.
Lewis Baltz, nº 4, The tract house, California, USA, 1969-71
Lewis Baltz, nº9, The Tract house, California, USA, 1969-71

O trabalho repetitivo das séries é reflexo da época, vive-se numa sociedade de consumo e na arte é a influência pop e minimal.
Lewis Baltz, Sausalito, Prototype House, California, USA, 1968

Em 1972, é “Suburbia” de Bill Owens.
O livro é ambíguo, pois auto-crítico também. Com mulher e filhos, Owens vive a vida daqueles que fotografa, a vida da classe média que vive o sonho americano do doce lar com os barbecues nas traseiras.
Ás fotografias Owens junta as impressões de quem aí vive, a aparente felicidade dada pelo consumo.

“Our house is built with the living room in the back, so in the evenings we sit out front of the garage and watch the traffic go by”


“I bought the Doughboy pool for David and the kids and now no one wants to take the responsibility for cleaning it”.
“We’re really happy. Our kids are healthy, we eat good food and we have a really nice home”.
“How can I worry about the damned disches when there are children dying in Vietnam?”

Recentemente Gregory Crewdson recria o universo das periferias suburbanas, e no crepúsculo, criado artificialmente pelas luzes que utiliza, Crewdson procura sensações de mistério no meio da iconografia do dia a dia dos subúrbios.
Gregory Crewdson segue no próximo post.

Sem comentários: